Luiz Falcão
RECIFE (PE) – A indústria de mentiras do Palácio do Planalto contra a atual democracia e as próximas eleições ocupa hoje 100% do tempo do ex-capitão. A última falsidade disparada é a de que eleição com urna eletrônica é uma fraude. Quer o enfermo capitão o voto impresso, também conhecido como voto de cabresto. Por longas décadas, tivemos esse “voto impresso” e o que acontecia? Um defunto votava várias vezes em locais diferentes, mas sempre no mesmo candidato. Carros e caminhões eram mobilizados para buscar eleitores em cidades e levá-los já com a cédula preenchida para seções eleitorais. Urnas simplesmente desapareciam e não eram mais encontradas; nos rincões do país, muitas urnas tinham mais votos que eleitores. Os cabos eleitorais faziam filas para comprar o voto dos eleitores com dinheiro na mão e sem nenhuma fiscalização. Na saída, o eleitor mostrava o comprovante e recebia o dinheiro. Caso não provasse que votou no candidato do patrão, perdia o emprego e sua família sofria agressões, um prato cheio para as milícias de hoje. É isso que o fascista chama de eleições limpas.
Durante a ditadura militar, essa corrupção eleitoral impediu que vários candidatos da oposição vencessem as eleições e permitiu que a ARENA, partido dos militares, mas repudiado pelo povo, elegesse a maioria de senadores e deputados. Este sistema defendido também pelas Forças Armadas acaba com o voto secreto, traz de volta o voto de cabresto e deixa a fiscalização na mão das milícias ou de cabos eleitorais, em vez do TSE e dos TREs. A justificativa para essa fraude não é dita, mas está clara: “feio é perder”, pensam.
Os saudosos da volta dos coronéis e das oligarquias pretendem ganhar todas a eleições e ter um parlamento sem comunistas, sem negros, sem mulheres, mas com um bando de conservadores. Acham pouco o atual número de deputados e senadores da bancada da bala, do agronegócio e da extrema-direita.
O problema das eleições não é de maneira nenhuma a urna eletrônica, e sim o fato de o capital, as gráficas, os grandes meios de comunicação, as chamadas redes sociais serem propriedades de uma reduzida minoria de pessoas, da classe capitalista. Os bilionários com suas fortunas financiam ou mesmo são candidatos, por isso o Congresso Nacional é repleto de patrões e corruptos, que só aprovam leis contra os trabalhadores. O operário mal tem dinheiro para alimentar sua família, pagar o aluguel, quanto mais financiar uma campanha eleitoral. Por isso, somente com muita luta e organização o povo pode vencer essa situação.
Medo do povo
Na verdade, o governo fascista e genocida, com medo do povo, quer fugir do julgamento popular. O país está vivendo a pior crise econômica, social e política da sua história. O governo só cria benefícios para a classe capitalista, para os banqueiros. O povo está jogado ao deus-dará. Sabendo do crescente e imenso repúdio da população à sua política de fome, desemprego, destruição da Amazônia, desprezo pela saúde pública e pela vida do povo brasileiro, além de numerosos casos de corrupção, quer fraudar as eleições e governar sem voto, mas com as armas.
O engraçado é que os que falam em eleições limpas são os mesmos que fizeram uma das maiores safadezas da história no Ministério da Saúde. Disseram que a vacina ia transformar gente em jacaré, mas, por baixo dos panos e secretamente, negociavam a compra da ineficaz e desconhecida vacina indiana Covaxin, nunca testada no Brasil, e pelo maior preço do mundo: R$ 80 por uma só dose.
Este mesmo Ministério comprou e pagou milhões de preservativos de uma empresa de medicamentos, a Precisa, a mesma que representava a Covaxin, mas não recebeu nem metade do que pagou. Porém, o filho do presidente levou o dono da empresa ao BNDES e com menos de dois anos de mandato de senado conseguiu comprar uma das maiores mansões de Brasília pela fortuna de R$ 6 milhões.
Desde antes das eleições de 2018, era esse o objetivo do grupo de fascistas que tomou posse em Brasília. Lembremos que, em 21 de outubro de 2018, Eduardo Bolsonaro, outro filho do presidente, declarou que bastava um cabo e um soldado para fecharem o Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2020, desocupados financiados pelos ricos empresários e alguns milhares de cargos de confiança do governo foram para a frente dos quartéis do Exército clamar por uma intervenção militar no país. Alguns dias depois, inspirados na Ku Klux Klan, esses mesmos desocupados foram incendiar a sede do STF; não foi, porém, uma noite de sono perdida, pois todos que lá estavam foram muito bem remunerados, revela inquérito aberto no STF.
Quando viram o resultado das eleições municipais de 2020, e a surra que os candidatos fascistas Crivela, Russomano, capitão Y, delegado V, Coronel X, ex-mulher, filho perdendo milhares de votos para vereador no Rio, aliados que nem foram ao segundo turno por terem foto ao lado de Bolsonaro, bateu o desespero e começou a patranha contra a urna eletrônica e as eleições de 2022.
A bem da verdade, eles não querem largar o osso: só um general, sr. Silva e Luna, ganha R$ 226 mil para ser presidente da Petrobras e aumentar preço do botijão do gás, da gasolina e do diesel. Todos os ministros militares deste governo recebem dos cofres públicos mais de R$ 100 mil por mês, têm avião de graça, segurança, roupa lavada, chef privado, barbeiros, esteiras de R$ 45 mil, picanha de R$ 1.500 o quilo, passeios de motocicletas, e propinas de bilhões no Ministério da Saúde. A farra é tão grande que, para continuar, entregaram R$ 3,5 bilhões para os parlamentares não aprovarem o impeachment. Em julho, mais dois brindes: Fundo Eleitoral de R$ 4 bilhões e “Centrão” na Casa Civil.
Ameaçar com armas é coisa de covarde
Democracia em nosso país nunca rimou com Forças Armadas. Hoje, mais do que nunca. O jornal O Estado de São Paulo revelou, no dia 22 de agosto, que o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, avisou ao presidente de um partido do “Centrão” que, se não houvesse voto impresso ou de cabresto, não haveria eleição. Segundo o jornal, o ministro falou em nome dos três comandantes das Forças Armadas. Esqueceu, porém, como é do seu feitio, de consultar o dono do voto: o povo. Numa nota posterior, o ministro reafirmou o recado, mas disse que não o tinha enviado. Conhecemos bem essas pessoas que não têm coragem de assumir o que fazem.
A verdade: fascista detesta voto, eleições, debates, luta de ideias, liberdade de expressão, de organização, igualdade, solidariedade e cinemateca. Prefere a burrice de “um manda, o outro obedece”, a ideologia do patrão, do burguês que explora o trabalhador e se enriquece à custa do operário, para depois demitir sumariamente sem nenhum direito, como fez a Ford, entre outras grandes empresas nacionais e estrangeiras levando ao desespero 14,8 milhões de trabalhadores.
Durante a ditadura militar de 1964-1985, houve de tudo: assassinato de jornalista nos quartéis, como Vladimir Herzog; torturas e crimes hediondos, como o de Manoel Lisboa; execução de Carlos Marighella; torturas de crianças; estupros de mulheres no DOI-Codi; escândalos de corrupção, como o Coroa-Brastel, caso Delfin, Transamazônica, usina nuclear; mas não ocorreu nenhuma eleição popular para Presidente da República, foram todas indiretas. Resultado: cinco generais presidentes sem voto e, de quebra, uma junta militar.
Poucos dias antes da ameaça ao Congresso, dia 7 de julho, o mesmo ministro da Defesa e os três comandantes das Forças Armadas deixaram de lado suas obrigações constitucionais para lançar uma nota contra a CPI da Covid, que investiga a roubalheira com as vacinas pelo Ministério da Saúde. Em seguida, dia 9 de julho, o comandante da Aeronáutica deu uma longa entrevista ao jornal O Globo em que pouco falou sobre os altos preços das passagens aéreas, a prestação de contas da Aeronáutica das verbas que recebeu dos cofres públicos ou por que três aviões da FAB da comitiva presidencial transportavam cocaína e só um membro da comitiva ficou detido na Espanha. Porém, fez uma declaração peremptória: “homem armado não ameaça”. “O que isso quer dizer?”, perguntou ingenuamente o repórter: “Não enviaremos 50 notas para eles”.
A Verdade deu-se ao trabalho de contar quantas notas o Ministério da Defesa, as Forças Armadas, seus clubes militares lançaram para defender o governo do genocida e ameaçar a nação com um novo golpe militar. Paramos em 80 notas. Ora, se se homem armado não ameaça, por que tantas notas? Por que tantas afirmações negando intervenção militar e, logo depois, novas ameaças? Será que outra vez “Estão perdidos de armas na mão”, como escreveu o poeta Geraldo Vandré?
Por que a mudança abrupta do ministro da Defesa e dos comandantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica? Eles estavam sendo ineficientes, quebraram a disciplina ou não aceitaram desrespeitar a Constituição que juraram?
Bem, senhores armados, mas não amados, vocês pensam que podem fazer todos os crimes contra a nossa pátria e o nosso povo e ficar impunes. Mas isso não é mais possível. O povo brasileiro é um povo muito trabalhador. Sempre foi. Este país só se tornou uma potência porque trabalhadores e trabalhadoras deram suas vidas para construí-lo. Apesar de terem erguido um país rico, vivem na pobreza. Cada dia, adquirem mais consciência de que não são os que trabalham que ficam ricos, mas a minoria de burgueses nacionais e estrangeiros, que se apropriam de todas as riquezas produzidas pelo povo trabalhador.
Este fascista que ocupa o Palácio do Planalto no momento é repudiado pela imensa maioria da população brasileira, que o considera desonesto, incompetente, arbitrário, despreparado e falso, como revelou o Datafolha.
Este fascista e genocida foi expulso do Exército em 1988; vocês não o quiseram nas suas fileiras, mas pretendem enfiá-lo goela abaixo no povo. Dizem que também não querem mais o general Pazuello nas suas fileiras. Mas insistem para que o povo brasileiro os aceite contra sua vontade. Não, isso não acontecerá. O povo brasileiro não será escravo de nenhuma força armada; não foi no passado, não será no presente.
Não é só o povo brasileiro que caminha para tomar essa decisão. O povo boliviano derrotou o Exército e seu golpe na Bolívia, em um ano. Meses de luta ininterrupta bastaram para o povo chileno derrotar o Exército e sepultar a constituição de Pinochet. O Governo e o Exército do Equador não aguentaram três greves gerais e revogaram todas as medidas do “pacotaço” do FMI.
No Brasil, as crescentes manifestações revelam que o povo brasileiro sabe lutar e lutará de cabeça erguida porque defende a democracia, o fim da corrupção, salários dignos para os trabalhadores e exige um poder popular e uma nova sociedade, sem exploração e sem opressão.
Em resumo, senhores armados, mas não amados, nenhum exército burguês está acima do povo. Primeiro, porque ele defende os interesses de uma minoria de exploradores, de ricos patrões, defende a propriedade privada dessa minoria, enquanto milhões de camponeses não têm terra para plantar feijão e milho. Segundo, porque, a consciência e a organização dos trabalhadores e das trabalhadoras, dos jovens, cresce rapidamente. A UP foi uma grande demonstração disso; e o fascista com o poder nas mãos não conseguiu nem metade das fichas necessárias para legalizar um partido, gastando rios de dinheiro.
Por isso, juramos lealdade ao povo; ele é o nosso senhor aqui na terra. O de vocês é esse fantoche de Trump, de Olavo de Carvalho e das milícias.
Lula Falcão é membro do Comitê Central do PCR