Ato em repúdio a atentado racista na Beira-Mar de Florianópolis/SC

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Ato em repúdio a tentativa de assassinato de pessoa em situação de rua em Florianópolis/SC

Por Luiza Wolff e Juliana Mendonça da UJR de Santa Catarina

No dia 25/01, terça-feira, moradores de Florianópolis foram convocados a um ato em repúdio a mais um ato de racismo que ocorreu na cidade. No sábado anterior, dia 15 de janeiro, racistas atearam fogo em um jovem negro de 27 anos, na principal avenida da capital catarinense, próximo ao bar conhecido como “Koxixo’s”.

O jovem viajou de São Paulo à chamada “ilha da magia” para procurar oportunidades de emprego e ficou hospedado por alguns dias em um hostel. Porém, sem conseguir renda, seu dinheiro acabou e o rapaz passou a dormir na Beira-mar Norte, onde aconteceu o crime.

Isso denuncia que, antes mesmo do ocorrido, o jovem já sofria com a dura vida que o sistema capitalista o impôs. Os autores do atentado, ainda desconhecidos, utilizaram de gasolina e fósforo para atear fogo ao rapaz, que só conseguiu apagar as chamas ao jogar-se na água do mar.

O ato de atear fogo em pessoas negras e indígenas é uma prática comum a organizações nazifascistas, que obtiveram nos últimos 18 meses um aumento de 158% no estado de Santa Catarina. Sabe-se que, no momento em que o fascismo se levanta em defesa da burguesia e contra a classe trabalhadora, são o povo negro, indígena e quilombolas os primeiros a sofrerem as violências mais duras a serem oferecidas.

Mais uma vez um atentado cruel contra a vida de um jovem negro ocorre e mais uma vez não há justiça para os responsáveis. Por pura negligência do poder público – podemos falar aqui até mesmo em conivência – não há nenhuma imagem do momento do crime para auxiliar nas investigações, mesmo que o crime tenha ocorrido em um local elitizado, cheio de câmeras e seguranças particulares. A polícia afirma que as câmeras do local “estavam quebradas”.

Ato em repúdio a tentativa de assassinato de pessoa em situação de rua em Florianópolis/SC

Com muito pouco esclarecimento sobre o caso, o presidente da CEPA (Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes – SC), professor Márcio de Souza, afirma que o acontecimento já ocorreu anteriormente na história.

“[…] Esse crime, desse rapaz do dia 15/01, ele vem dentro dessa perspectiva, de violação de direitos e agora em uma sofisticação maior de agressividade que é a tentativa de queimar pessoas pelas ruas, como se praticou nos Estados Unidos. Foi muito comum, se batia fotografia, se faziam cartões postais das cidades que mais incendiavam negros.”

Ele também afirma que o capitalismo é essencialmente racista e que precisa do racismo para funcionar e continuar se mantendo no mundo. O mercado de trabalho é fechado para a população negra e demonstra uma diferença muito grande de salário e de condição de vida. “Isso significa que não ser branco neste país representa uma condição constante de risco de vida.” afirma o professor.

Ainda que Santa Catarina seja o estado brasileiro com maior concentração de neonazistas do Brasil, também é o estado que conta com uma grande massa de trabalhadoras e trabalhadores negros e indígenas, em sua grande parte, com sede de revolta e luta. O atentado ocorrido nos lembra da necessidade urgente de construir a única coisa que dá conta de responder a tais crimes: a organização popular.