Estudantes do Colégio Estadual Raphael Serravalle em Salvador ficaram meses sem aulas de física

Quando questionada pelos estudantes a direção informou que aguardava resposta do estado para substituição do professor. Agora, às vésperas do Exame Nacional do Ensino Médio, os alunos terão apenas o aulão de exatas para tentar recuperar o prejuízo.

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Foto: Google Street View / Divulgação

Caio Mago

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

Após o afastamento do professor de física em sala de aula, estudantes do Colégio Estadual Raphael Serravalle, localizado no bairro da Pituba, área nobre da cidade de Salvador, ficaram meses sem aula. Quando questionada pelos estudantes a direção informou que aguardava resposta do estado para substituição do professor. Agora, às vésperas do Exame Nacional do Ensino Médio, os alunos terão apenas o aulão de exatas para tentar recuperar o prejuízo.

SALVADOR | Localizado a cem metros do Colégio Militar de Salvador, do Exército Brasileiro, o Colégio Estadual Raphael Serravalle como a maioria dos colégios estaduais na Bahia e no Brasil enfrenta dificuldades estruturais e pedagógicas. Nos últimos anos, a instituição foi palco de agressões físicas, ameaças de massacre e até mesmo a exoneração de toda a gestão eleita pela comunidade escolar, decisão comunicada sem justificativa pelo governador Rui Costa (PT) e pelo então secretário de educação Jerônimo Rodrigues em 2020.

Em 2022 os estudantes enfrentam mais uma dificuldade: a ausência de um professor de física. O relato é de que a antiga professora foi substituída após abaixo-assinado e o curso corria normalmente até que o professor agrediu alunos que conversavam durante uma aula. A partir daí, com o afastamento do novo professor, os estudantes ficaram desamparados durante meses e até hoje não tiveram aulas de física, tendo que se contentar com os aulões oferecidos pela direção da escola para o vestibular.

Casos como esse escancaram a farsa da meritocracia e do pensamento liberal sobre a educação. Enquanto no Colégio Militar de Salvador (CMS) e escolas particulares para a elite da cidade os alunos passam o ensino fundamental e médio sendo treinados para os vestibulares, nos colégios públicos, mesmo quando localizados em área nobre, permanecem sucateados para favorecer o lucro dos capitalistas da educação. Enquanto os estudantes das escolas estaduais, quase todos residentes de favelas como o Nordeste de Amaralina ou bairros populares como São Rafael, dependem dos aulões e da péssima estrutura oferecida pelo Estado, os filhos da Pituba estudam em escolas cuja mensalidade custa o equivalente a renda mensal de muitas famílias da capital baiana e até mesmo no Colégio Militar de Salvador, já que possuem condições financeiras para pagar o curso preparatório voltado para vaga na instituição federal militar.

Esse descaso não reflete apenas na qualidade do ensino e na estrutura das escolas, mas também na permanência ou não da unidade, já que as propriedades públicas nos bairros nobres fazem salivar os cães de caça da especulação imobiliária, autodeclarados donos das cidades e capazes de espremer até a última gota de sangue da classe trabalhadora para multiplicar seus lucros. Exemplo claro foi a venda do terreno que abrigava o Colégio Estadual Odorico Tavares, no Corredor da Vitória, bairro conhecido pela repressão policial racista e pelo metro quadrado entre os mais caros da cidade. Mesmo contra a vontade de centenas de estudantes, o terreno de aproximadamente 5 mil m² foi vendido por apenas 50 milhões de reais, quinze milhões a menos do que o estimado de acordo com o preço do metro quadrado na região, que custa em média 15 mil reais. Ainda que pelo preço “justo” a venda continuaria sendo um assalto ao povo baiano, que perdeu muito mais com o fechamento de uma escola desse porte do que ganhou com os 50 milhões nos cofres públicos. O governador Rui Costa (PT), quando questionado, alegou que as escolas públicas deveriam estar nas favelas.

Educação Pública e Direito à Cidade

Dentro do sistema capitalista o acesso à cidade é restrito às elites financeiras. Os teatros, os cinemas, as melhores escolas e os espaços de lazer estão localizados no centro das cidades, quando não construídos sob demanda nos espaços onde as elites se isolam, enquanto nosso povo é silenciosamente expulso e impedido de conviver com essas pessoas, exceto enquanto trabalhamos para elas. Somos empurrados para as periferias e convivemos diariamente com a violência das facções criminosas, a repressão policial, a fome e os esgotos a céu aberto. Não por acaso somos perseguidos, revistados e frequentemente humilhados durante a permanência nos bairros nobres e os poucos espaços onde ocupamos são desmontados e sucateados até deixarem de existir. Lutar de forma organizada contra o sistema capitalista é sem sombra de dúvidas o caminho a se seguir por uma sociedade nova, livre dessa divisão, livre dessas injustiças e das covardias cometidas pela burguesia no controle do Estado. Apenas a sociedade socialista, isto é, a sociedade gerida democraticamente pelos trabalhadores e não por meia dúzia de sanguessugas herdeiros da escravidão, poderá assegurar a todos o direito constitucional à educação pública de qualidade, o acesso à cultura nas cidades, à saúde pública de qualidade e uma vida digna para os filhos da classe trabalhadora.