O capitalismo tenta transformar nossos problemas sociais em problemas individuais. A ideologia do individualismo destrói o meio ambiente, as famílias e a vida das pessoas.
Igor Paixão | Rio de Janeiro
OPINIÃO – Nosso país é palco de imensas contradições visíveis. Um território de dimensões continentais que abriga recursos diversos utilizados na mineração, extração de petróleo e gás, vastas terras e solos férteis com potencial imenso de produção. Nossa pátria mãe possui capacidade física o suficiente para abrigar todas as pessoas que são deixadas para sofrer na rua, terra quente para abrigar a semente do camponês pobre, águas que jorram de fontes vivas e que poderiam matar a sede do nosso povo.
Da cidade ao campo, nós vivemos reféns dos donos das grandes empresas. Na cidade, a comercialização de tudo, a falta de postos de trabalhos faz as pessoas serem obrigadas a pegar todo o tipo de trabalho informal e precário para não morrer de fome.
No campo vemos os grandes latifúndios na mão de poucas pessoas, terras paradas enquanto tantas mãos camponesas esperam pela possibilidade de adubar seu solo, remoer suas entranhas e escoar vida em forma de comida. Sobre os pequenos produtores que alimentam a economia interna, avançam os grandes mercados de tecnologia de fertilizantes, que contaminam o solo e geram dependência de seus químicos.
Do úmido do centro do solo ao calor temperado da superfície, surgem as novas sementes modificadas geneticamente da Monsanto, que são geneticamente arquitetadas para serem estéreis, gerando dependência do pequeno produtor, uma vez que as frutas não produzem novas sementes férteis.
A partir desse cenário distópico, tento refletir sobre o papel da mídia tradicional na manutenção do sistema atual e o trabalho voluntário das pessoas que estão, nesse momento, vendendo o jornal por todo o Brasil.
Primeiramente, é interessante refletir que esse é um exemplo de como o capitalismo vende todos os setores de um país pelo lucro. Na área da comunicação não é diferente, como os meios de comunicação são privatizados, pertencem à um grupo seleto de pessoas com muito poder financeiro, as notícias que são publicadas nesses anunciantes refletem os interesses políticos do grupo. Ou seja, na prática, tudo o que se é escrito, discutido e exibido nos jornais e TVs, só será veiculado caso esse grupo tenha algo que possa ganhar com isso.
A mídia tradicional, desde o crescimento do neoliberalismo, dissemina a ideia de que estamos todos apenas sofrendo sozinhos, que as dificuldades sociais e falta de emprego são, de alguma forma, consequências únicas e exclusivas de nossas escolhas pessoais. Que o adoecimento psíquico que muitos trabalhadores e trabalhadoras desenvolvem não tem nada a ver com os salários insuficientes, jornadas de trabalho exaustivas e longos percursos dentro do transporte público precário.
Essa corrente de pensamento teve como seus principais propagadores a ex-primeira ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher, que defendia abertamente que a sociedade como extrato social, não existia, mas o que se existe são ações individuais com consequências individuais. Dizia que: “(…) de tal modo que essas pessoas estão arremessando seus problemas sobre a sociedade. Mas, o que é a sociedade? Não existe essa coisa. O que existe são homens e mulheres, indivíduos, e famílias(…)” (1987). Ou seja, um pensamento que reduz a complexidade do diálogo e desmobiliza a organização do povo pela luta de condições melhores. É o pensamento de quem entende o poder transformador que existe na mobilização popular.
A partir dessa realidade, a mídia independente surge da necessidade de endereçar os problemas estruturais do nosso país sem as mentiras de grandes empresários. Sem jogar a responsabilidade do sofrimento do povo que passa fome, das pessoas que precisam caminhar quilômetros para buscar água, em suas escolhas individuais.
Esse é o dever desse jornal, apresentar, para você leitor, a verdadeira história. A história sob a perspectiva do oprimido, das pessoas que bateram a terra, soldaram os ferros e que criaram tudo que existe. Mobilizar o nosso povo em volta das nossas necessidades, ser fiel ao sangue derramado daqueles que foram tombados. Construir uma realidade em que todas as pessoas vivam com dignidade, que trabalhem o necessário e que ter dinheiro não seja o critério que defina se alguém vive ou morre esperando por atendimento.
Plantar a semente do amanhã no solo fértil do coração das pessoas é o passo inicial para avançarmos para a construção de uma nova forma de sociedade. Sujar as mãos e colher as uvas que, dessa vez, não serão regadas com o suor da escravidão. Poder garantir os milhares de Ágathas Felix e Marcos Vinicius a existência de uma realidade mais humana para os que se foram, aqui estão e ainda virão.
Vamos caminhando, mobilizando o povo que trabalha, sendo a ponta de lança daqueles que sofrem e precisam. Por isso camaradas, não tenhamos medos ou receios da nossa tarefa histórica. Honremos o peso das sementes que carregamos em nossos corações, convictos que, se tombarmos nosso sangue regará o solo de um país soberano.
Que nossa alma seja a semente da revolução