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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

BRT, do sonho ao pesadelo 

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Antes um sonho que facilitaria a locomoção dos trabalhadores, nos dias atuais, o BRT se transformou em verdadeiro pesadelo. Dia após dia, o povo pobre encara um transporte sucateado, com carros e estações quebradas e um transporte lotado a qualquer hora do dia. 

George Thompson* | Rio de Janeiro


BRASIL Após onze anos da inauguração do BRT, vemos este sonho se transformar em pesadelo para o trabalhador. Dia após dia, o povo encara um transporte sucateado, com carros e estações quebradas e um transporte lotado a qualquer hora do dia. 

O transporte nas horas de pico é uma verdadeira zona de guerra, com veículos tão lotados que não existe possibilidade de fechar as portas.

Em 6 de julho de 2012, durante a primeira administração do prefeito Eduardo Paes, e do ex-governador Sérgio Cabral foi inaugurado o BRT Santa Cruz-Alvorada, junto com a criação do túnel José Alencar (grota funda), com o objetivo de diminuir em uma hora o trajeto feito antes. 

A expectativa de transportar 120 mil passageiros por dia com o intervalo de um minuto e meio de parada nas estações e um corredor exclusivo para o tráfego, rendeu para o BRT o apelido de ligeirão, uma verdadeira revolução no transporte público, e um alívio para os trabalhadores que dependiam de linhas como 882 (Barra/Santa Cruz – Pégaso).

Aliás, as portas são um capítulo à parte, não sendo difícil de encontrar notícias de pessoas que caíram do ônibus em movimento e se acidentaram gravemente ou até casos de pessoas que perderam a vida enquanto se dirigiam para o trabalho ou retornavam para suas casas. Um dos casos mais recentes foi o do jovem Eduardo Bandeira de Mello (16), o jovem que ia visitar sua namorada no dia 24 de novembro de 2022 e caiu do BRT pela porta causando traumatismo craniano e vindo a falecer no dia 30 de novembro de 2022, conforme reportagem do UOL.

No dia 11 de março de 2022 os trabalhadores revoltados com a precarização do transporte fizeram uma manifestação em frente à estação do Magarça, Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Eles protestavam devido a superlotação e a diminuição de veículos que atende a região, devido à quebra de 15% dos ônibus articulados que na época contavam com 178 veículos (cerca de 27 veículos quebrados) e uma pane em 78 veículos no dia 9 de março de 2022.

A MOBI-Rio (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) informou, na época, que os defeitos encontrados nos veículos são “decorrência do superaquecimento causado pelas altas temperaturas registradas na Capital Fluminense, desgaste da frota e pelo lixo que é jogado nas vias do BRT. Os detritos entopem a ventilação do radiador e provocam os problemas técnicos”. Atribuindo assim uma parte dos defeitos aos próprios usuários do BRT!

Solução é transporte estatizado e nas mãos do povo

Não é possível criar soluções simples para o BRT Santa Cruz x Barra, assim como não é possível fazer o mesmo ao transporte no Rio de Janeiro. Soluções como “vamos acabar com tudo que está ai” de outrora não podem e não devem ser a máxima bradada pela população. 

No Brasil estima-se que mais de 80% das organizações empresariais do transporte público seja familiares, ao passo que a FETRANSPOR criou um programa exclusivo para orientação de herdeiros e novos empresários publicado em 2017, para que os jovens herdeiros pudessem gerir suas empresas, assim temos a manutenção do lucro dos herdeiros a despeito da melhoria da qualidade dos transportes.

Em 2012 a empresa Guanabara Diesel (Mercedes-Benz) foi a única concorrente em um processo de licitação para distribuição de 100 novos veículos para o BRT Rio De Janeiro, mais uma vitória para o Grupo Jacob Barata Filho e uma derrota para a classe trabalhadora do estado. Um transporte público só pode atender o povo quando é criado para o povo, e não para manter a fortuna e o poder econômico de meia dúzia de famílias.

Devemos sempre lembrar que uma das formas de reduzir a superlotação do BRT é o deslocamento dos postos de trabalho para locais mais próximos de onde o trabalhador reside, fazendo com que o trabalhador tenha menos tempo de transporte e mais tempo de qualidade de vida, o que não só reduziria a superlotação dos ônibus como também daria mais tempo com sua família, amigos e para o seu lazer.

“Para resolver a questão do transporte público, defendemos que o nosso direito de ir e vir não seja tratado como uma mercadoria. Não podemos colocar esse direito nas mãos dos empresários, que querem sempre lucrar, e não garantir uma mobilidade urbana boa de fato. Temos que pensar numa empresa pública de transporte urbano” já dizia Samara Martins, vice presidenta nacional da Unidade Popular (UP).

Entre as propostas da UP para transformar o Brasil está a estatização de todos os meios de transporte coletivo, a Constituição Federal Brasileira estabelece, em seu artigo sexto, o transporte como direito social a ser provido pelo Estado, assim como são saúde e educação, mas não é essa a realidade do Brasil. 

O transporte é caro, de baixa qualidade e demorado. O transporte público precisa deixar de ser uma mercadoria utilizada para enriquecer os grandes empresários do setor e passar a ser um serviço que tenha, como objetivo principal, garantir uma plena mobilidade urbana para o povo.

*Militante da UP de Santa Cruz

 

 

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