Por que protestamos?

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Em meio a todas as tarefas cotidianas, devemos compreender claramente a importância política dos protestos de rua. Os protestos devem evoluir e elevar a consciência dos trabalhadores rumo a construção de um futuro livre e socialista.

Andrei Rodrigues | Rio de Janeiro


OPINIÃO É comum na vida de qualquer pessoa engajada politicamente a participação em atos, protestos, manifestações e outras formas de demonstração de rua. De fato, qualquer um que esteja minimamente antenado nos principais acontecimentos políticos do seu país ou do seu município nota que a forma mais clássica de reivindicação por qualquer pauta que seja são os protestos de rua.

Em meio a todas as tarefas cotidianas, os movimentos sociais ainda organizam tantos atos reivindicatórios ao longo do ano que não nos surpreende o fato de que muitos companheiros que não estejam em dia com o seus estudos e reuniões (as maiores ferramentas de luta ideológica) percam de vista o objetivo fundamental dessas mobilizações. Por isso, a fim de compreender claramente a importância política dos protestos de rua, devemos questionar: Por que protestamos?

Em primeiro lugar, é preciso que fique muito claro que os atos são uma ferramenta política de agitação e propaganda! Muitos perdem a vontade de se somar às demonstrações de rua pois pensam que uma vez que essa ação não gera resultados políticos imediatos, não vale a pena então gastar energia comparecendo.

“Por que eu vou desperdiçar meu tempo em um protesto que não vai arrancar nenhuma conquista concreta?”, perguntam os companheiros desiludidos com a luta comunista. Ora, tal pensamento parte de um pressuposto equivocado, uma forma errada de compreensão da função real dos atos. Os atos também podem ser vistos como uma ferramenta de propaganda. Portanto, o mérito de sua existência não se baseia em nenhuma habilidade mágica de conquistar vitórias num estalar de dedos, mas na sua capacidade orgânica de transmitir a linha ideológica do Partido revolucionário de maneira rápida e efetiva.

Vejamos a seguir o que o líder da Revolução de Outubro, Lênin, tem a dizer sobre as demonstrações de rua:

“A Revolução Russa desenvolveu, pela primeira vez, em vastas proporções, este método proletário de agitação, este método de despertar, coesionar as massas e incorporá-las na luta […]. Não há no mundo, força capaz de fazer o que a vanguarda revolucionária do proletariado faz com este método. Este imenso país, com 150 milhões de habitantes, dispersos pela sua extensão gigantesca, divididos, oprimidos, sem direitos, ignorantes, afastados das ‘influências perniciosas’ por um enxame de autoridades, policiais, espiões; todo este país entra em efervescência. Os setores mais atrasados, quer dos operários quer dos camponeses, entram em contato direto ou indireto com os grevistas” (Lênin. Lênin, propagandista e agitador. 2º caderno de formação da UJR).

Em segundo lugar, para além da função de corrente de transmissão ideológica, os protestos são uma forma de demonstração de força do movimento operário, são verdadeiros termômetros do trabalho entre as massas. A longo prazo, os atos podem acumular forças quantitativas para a tarefa histórica da Revolução. Se a pauta política colocada em questão possui adesão popular, às ruas se enchem de pessoas entusiasmadas e motivadas a reivindicar suas aspirações mais concretas.

Atos desgastam os governos burgueses

Um partido verdadeiramente popular é capaz de perceber, através de um sólido trabalho de massas, os desejos mais latentes do povo e direcionar essa energia para a construção de grandes ações políticas que podem resultar no crescimento quantitativo de suas fileiras e na aquisição qualitativa de novas experiências e oportunidades para a sua militância.

Um grande exemplo disso é o Partido Unidade Popular que, em 2021, ao vanguardear os atos Fora Bolsonaro, deu vazão aos gritos populares por pão, vacina e educação e, em decorrência da sua análise acertada da conjuntura, foi o Partido que, proporcionalmente, mais cresceu no país e firmou trabalho em todos os estados brasileiros. Em um texto de 1901, o camarada Stalin, refletindo sobre as vantagens a longo prazo dos atos de rua conclui que:

“Dessa maneira, embora as demonstrações de rua não nos deem resultados diretos, e a força dos manifestantes seja hoje ainda insuficiente para constranger o governo a fazer concessões às reivindicações populares, os sacrifícios que hoje enfrentamos nas demonstrações de rua nos serão cem vezes recompensados” (Stalin. O Partido Social-democrata da Rússia e suas tarefas imediatas. Obras Escolhidas 1901-1952)

Respondendo à questão fundamental do texto “Por que protestamos?” Os comunistas revolucionários organizaram protestos de rua não porque acreditavam que toda e qualquer passeata vá, necessariamente, se tornar uma greve geral ou o estopim para a revolução. Protestaram pois sabiam que a fim de conquistar o socialismo, é preciso criar as condições subjetivas necessárias para o processo revolucionário e isso inclui organizar as massas, propagandear nossas ideias e mobilizar-nos em prol dos interesses mais imediatos do povo.

Os comunistas protestam pois sabem que os atos são uma ferramenta pedagógica de transmissão da alternativa revolucionária e não nos desanimamos pois sabemos que, mesmo que um protesto não resulte em vitórias imediatas, essa ação contribui dialeticamente na luta geral do povo contra o sistema capitalista.

Uma das maiores estratégias dos comunistas em prol da Revolução é denunciar, através das demonstrações de rua, que as pautas mais imediatas da conjuntura, os problemas da educação, dos transportes, da fome, da pandemia e da guerra só podem ser solucionados caso a classe trabalhadora destrua o sistema capitalista e comece a construção de um futuro livre e socialista.