Conselheiros da UFRGS se retiram do Consun em protesto contra o descumprimento do regimento e em solidariedade aos estudantes cotistas
Everaldo Oliveira, Porto Alegre, Movimento Correnteza
EDUCAÇÃO – A sessão do Conselho Universitário da UFRGS (Consun) foi encerrada, nesta sexta-feira (2), após os conselheiros se retirarem em ato de repúdio contra o descumprimento do regimento interno do Conselho, que permite a participação da comunidade externa durante a sessão. O tumulto começou no início da reunião, no momento em que vários conselheiros pediram questão de ordem denunciando que os seguranças estavam impedindo o ingresso de estudantes no prédio da reitoria, local em que estava acontecendo a sessão do Consun. O regimento permite a participação da comunidade como ouvinte desde que não exceda a capacidade máxima do local, que é de 16 lugares. No entanto, nem mesmo essa quantidade de pessoas foi permitida. A vice-reitora, que assumiu o cargo junto a Carlos Bulhões a partir de uma intervenção direta de Bolsonaro na UFRGS, disse que não podia fazer nada.
Tal fato ocorreu enquanto os estudantes estavam realizando um ato no lado de fora da reitoria pela reversão dos 160 estudantes cotistas que foram desligados de forma injusta pela universidade. Impedir que os estudantes participem do Consun têm sido uma prática cada vez mais frequente da atual reitoria da UFRGS, bem como desrespeitar o regimento interno e as resoluções aprovadas pelo órgão máximo da universidade. Vale ressaltar que nos últimos anos os espaços da universidade têm sido fechados para a circulação da comunidade. A própria reitoria foi cercada por grades que são constantemente monitoradas Tudo isso na intenção de impedir manifestações e a livre circulação dos estudantes e da comunidade.
“Essa reitoria interventora tem demonstrado na prática que odeia os estudantes cotistas, nem sequer quer nos receber durante a sessão do órgão máximo dessa instituição. Hoje iríamos ler uma carta dos estudantes desligados e queríamos que os conselheiros vissem com seus próprios olhos os estudantes que foram desligados e tiveram seu sonho de ingressar na UFRGS interrompido. Já que os estudantes não podem entrar, nós decidimos sair”, relata Cauã Roca Nunes, representante discente do Consun pela APG e pelo Movimento Correnteza.
Impedir o acesso dos estudantes nos espaços de representação e silenciar manifestações é prática do fascismo que não suporta ouvir o diferente, que não se importa com a situação dos estudantes. Essa reitoria interventora está cumprindo seu papel de cercear o debate enquanto arbitrariamente expulsa os estudantes cotistas. Mesmo com a derrota de Bolsonaro nas urnas o fascismo brasileiro ainda existe e tem trabalhado incansavelmente para garantir seus objetivos. No caso da UFRGS é criar formas de expulsar os estudantes cotistas, filhos da classe trabalhadora, sem justificativas plausíveis, enquanto permitem o ingresso de filhos de seus aliados, como foi o caso de uma estudante que entrou por cota de pessoa com deficiência sem passar pelo ingresso. O que eles querem é que as universidades sejam cada vez mais para poucos, destinada apenas para uma elite. Querem acabar com a lei de cotas porque temem os pobres e pretos desse país. Além disso, o desrespeito à democracia interna e a perseguição de professores e alunos também fazem parte da forma de atuar dos fascistas.
Por esses motivos, a única forma de garantirmos que a lei de cotas, o ingresso e a permanência dentro da UFRGS sejam garantidas é por meio de uma gigantesca mobilização pela destituição dessa reitoria interventora e a construção de um novo edital de ingresso que contemple a realidade dos estudantes. Enquanto Bulhões permanece na gestão da UFRGS, o autoritarismo e o desrespeito à democracia continuarão fazendo parte do dia a dia da instituição. Precisamos nos organizar por meio da mobilização estudantil, de grandes atos, assembleias e de uma campanha massiva para podermos criar as condições necessárias para essa vitória.
O Movimento Correnteza foi eleito e está presente na comissão especial do Consun e construirá um parecer sobre a destituição da Reitoria interventora. Não podemos esperar até ano que vem, precisamos derrubar Bulhões agora! Só assim teremos melhores condições de lutar e garantir o fim da matrícula provisória na UFRGS.
*Conselheiro do Consun da UFRGS