A avalanche de protestos dos trabalhadores franceses contra a Reforma da Previdência do governo de Emmanuel Macron, que varreu o país por mais de três meses consecutivos, ainda ecoa nas ruas das principias cidades francesas. O pavio ainda está aceso, pois o governo ordenou às forças policiais reprimir violentamente atos e manifestações.
Fernando Alves | Redação
INTERNACIONAL – Quando Élisabeth Borne, primeira-ministra francesa, anunciou, no dia 10 de janeiro, o plano para aumentar de 62 para 64 anos o tempo de aposentadoria, o governo desconsiderou a onda de insatisfação que estava por vir. A justificativa de equilíbrio das contas, um dos mais falsos argumentos utilizados pelos governos neoliberais para retirar o direito dos trabalhadores em todo o mundo, não sensibiliza os franceses.
Repressão e autoritarismo
Sabendo que não tinha maioria para aprovar a lei no Congresso, Emmanuel Macron lançou mão de medidas arbitrárias, como a utilização de um artifício constitucional, uma medida de exceção, o Artigo 49.3 da Constituição Francesa, com o qual o governo não precisou levar à do projeto à aprovação dos deputados na Assembleia Nacional. Ou seja, vale tudo para fazer a vontade do mercado e dos grandes monopólios, os interesses imediatos dos banqueiros e os privilégios da burguesia.
Ao utilizar essas manobras, o governo mostrou sua fraqueza política e sua incapacidade para o diálogo com os trabalhadores.
No dia 15 de abril, o presidente Emmanuel Macron sancionou a lei sob grandes revoltas.
Escolas e universidades foram paralisadas; greves nas refinarias de petróleo causaram colapso no abastecimento de combustíveis e gás de cozinha; bloqueios de rodovias geraram enormes congestionamentos nas principais rodovias, além da paralisação de metrôs, trens e ônibus. Houve ainda suspensão de centenas de voos entre as cidades e países; sem coleta de lixo a chamada “Cidade Luz” foi transformada em cidade lixo, com toneladas de sacos espalhados e amontoados por toda Paris, espalhando odor insuportável, o que motivou grande debate sobre o problema da saúde pública.
De imediato, a lei adia a aposentadoria de 120 mil mulheres, que já teriam acesso a este direito. Aliás, a nova lei prejudicará profundamente o conjunto das mulheres trabalhadoras, que recebem 28% a menos que os trabalhadores homens. Jovens também serão prejudicados, porque terão que trabalhar por mais tempo, assim como os trabalhadores de serviços considerados pesados e que geram mais desgaste físico.
Classe trabalhadora mostra sua força
O impacto das jornadas de lutas que, no seu ápice, chegaram a mobilizar 3,5 milhões de franceses, dá sinais do enorme prejuízo político enfrentado agora pelo governo, que vive uma crise política ainda maior. A “nova” lei de aposentadorias mexeu com um direito histórico da classe trabalhadora. Somente no último 1º de maio, os sindicatos e centrais sindicais estimaram que mais de 3,5 milhões de trabalhadores marcharam unidos pelas ruas do país – uma grande demonstração de força.
A avalanche de protestos dos trabalhadores franceses contra a Reforma da Previdência do governo de Emmanuel Macron, que varreu o país por mais de três meses consecutivos, ainda ecoa nas ruas das principias cidades francesas. O pavio ainda está aceso, pois o governo ordenou às forças policiais reprimir violentamente atos e manifestações.
A indignação popular deve se dirigir contra a política econômica neoliberal de Macron e também contra o crescimento do fascismo de Marine Le Pen, a oposição de extrema-direita. Isso só será possível com os trabalhadores lutando unidos e tomando os destinos em suas próprias mãos, sob a bandeira da luta de classes.
Matéria publicada na edição nº 273 do Jornal A Verdade.