As revelações da Polícia Federal provam que por quatro anos o país foi governado por uma verdadeira organização criminosa, cujo principal objetivo era enriquecer às custas dos bens públicos do povo brasileiro.
Heron Barroso | Redação
BRASIL – A investigação da Polícia Federal que revelou o esquema criminoso de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro montado pelo fascista Jair Bolsonaro enquanto ocupava a Presidência da República aumenta a pressão pela prisão do ex-capitão.
Batizada de “Lucas 12:2” (“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido”), a operação revelou como Bolsonaro desviou joias e outros bens de valor recebidos em viagens oficiais e os vendeu ilegalmente fora do país.
Segundo a PF, “os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Brasil, por meio da venda desses itens no exterior”.
O principal operador do esquema era o ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, que está preso por falsificar os cartões de vacina do antigo chefe. Cid vendia os itens nos Estados Unidos com ajuda de seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, que foi, entre 2015 e 2017, comandante militar do Sudeste, um dos cargos mais importantes das Forças Armadas. Pelo menos 1 milhão de reais foi arrecadado e entregue em mãos ao ex-presidente.
As provas são irrefutáveis. Em trocas de mensagens, o coronel Mauro Cid revela: “Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né”, escreveu.
Para a Polícia Federal, “os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, aponta trecho da investigação.
Esquema milionário
Entre as joias vendidas pelo coronel Mauro Cid em lojas de Miami e Nova Iorque estava um conjunto composto por relógio, abotoaduras, anel, caneta e um rosário árabe em ouro rosé e cravejados de diamantes, da marca suíça Chopard, estimados em US$ 120 mil (R$ 589 mil). Foram vendidos ainda dois relógios, um Rolex Day-Date 18946, produzido em ouro branco, e outro da marca Patek Philippe, avaliado em 52 mil dólares (cerca de R$ 250 mil). O valor das vendas foi depositado na conta do general Cid.
O negócio só não foi mais lucrativo para o ex-capitão porque o Tribunal de Contas da União (TCU) deu falta do Rolex e ordenou sua devolução. Foi então que Bolsonaro enviou seu advogado, Frederick Wassef, às pressas aos EUA para recomprar o relógio. Para a PF, “toda a operação foi realizada de forma escamoteada, fato que permitiu os investigados devolverem os bens sem revelar que todo o material estava fora do país, ao contrário das afirmações prestadas”.
Organização criminosa
Essas revelações da Polícia Federal provam que por quatro anos o país foi governado por uma verdadeira organização criminosa, cujo principal objetivo era enriquecer às custas dos bens públicos do povo brasileiro.
A certeza da impunidade era tão grande, que os envolvidos falavam abertamente da falcatrua em trocas de mensagens. Numa delas, o também coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, explica para seu colega que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica havia informado ser necessário aviso prévio para a venda de bens destinados ao acervo privado do ex-presidente. Cid então lamenta: “Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares. Hahaaahaahah” (sic).
Para o ministro do STF Alexandre de Moraes esses diálogos “evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desvio do acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (…) para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente, Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior”.
Prisão para Bolsonaro
Enquanto o ex-presidente dedicou seu tempo a enriquecer ilegalmente, sob seu governo milhões de famílias amargaram a falta moradia digna, o povo sofreu sem remédios e assistência médica e 33 milhões de brasileiros não tinham comida na mesa todos os dias.
Bolsonaro fez no governo o mesmo que sempre fez durante os 30 anos em que foi deputado federal. O ex-capitão fala em pátria e família, mas a pátria dele é a corrupção, são as chacinas nas favelas, o orçamento secreto, é atacar as eleições e as vacinas em plena pandemia de Covid-19, matar os povos indígenas, roubar as riquezas nacionais e decretar sigilo de 100 anos sobre tudo isso. Portanto, para além do esquema das joias, o bajulador de torturadores deve ser julgado por todos os crimes que cometeu enquanto ocupava a cadeira de presidente da República.
Matéria publicada na edição nº 277 do Jornal A Verdade.