Nosso país hoje tem 70,3 milhões de pessoas em insegurança alimentar, destas 20,1 milhões estão com fome. Ao mesmo tempo, o Brasil produziu comida suficiente para alimentar 1,6 bilhões de pessoas em 2021. Ou seja, há comida suficiente para alimentar oito vezes a população do país.
Felipe Annunziata | Redação
BRASIL – A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) divulgou uma pesquisa, no dia 12 de julho, que mostra que ao menos 2,3 bilhões de pessoas no mundo estão na chamada insegurança alimentar. Destas, 735 milhões estão passando fome.
A diferença entre insegurança alimentar e fome é que a primeira categoria indica que um indivíduo ou família não consegue se alimentar dignamente no seu dia a dia, sendo forçado, por exemplo, a reduzir a qualidade dos alimentos que consome. Ou seja, é o famoso vender o almoço para comprar a janta. A categoria de fome são pessoas que passam 1 ou mais dias sem comer nada.
Independente das categorias, o fato é que 30% do planeta não consegue se alimentar decentemente. Isto ao mesmo tempo em que o mundo produz muito mais comida do que necessita para manter a humanidade alimentada.
Brasil produz comida para outros povos
O exemplo mais gritante é o do Brasil. Nosso país hoje tem 70,3 milhões de pessoas em insegurança alimentar, destas 20,1 milhões (10% da população) estão com fome. Dos que estão com algum grau de fome, ao menos metade passa por insegurança alimentar severa, ficando um ou muitos dias sem comer nada.
Ao mesmo tempo, o Brasil produziu comida suficiente para alimentar 1,6 bilhões de pessoas em 2021. Ou seja, há comida suficiente para alimentar oito vezes a população do país.
Isso acontece porque temos no Brasil uma burguesia que quer, a todo custo, aumentar seus lucros às custas da exploração máxima da classe trabalhadora. A exploração do trabalho por parte dos capitalistas é causa todas estas mazelas.
Quem alimenta o Brasil
De fato, políticas sociais que ajudam a combater de forma imediata este problema são importantíssimas. Medidas como o Bolsa Família ou o Programa de Alimentação Escolar, reestruturados no Brasil com o novo governo, ajudam sim a combater a face mais terrível da fome. No entanto, mesmo estas medidas não resolvem a contradição fundamental do problema.
A prova disso foi os governos de Michel Temer (2016-2018) e do fascista Bolsonaro (2019-2022). Bastaram seis anos de cortes de verbas e desmonte dos serviços públicos para estes programas deixarem de existir ou serem prejudicados e a fome mais grave voltar.
Isto porque é a agricultura familiar e não o latifúndio do agronegócio quem realmente alimenta o povo brasileiro. Segundo o Censo da Agricultura do IBGE (2017), 70% dos alimentos consumidos são produzidos por pequenos agricultores ou cooperativas.
Para piorar, é o chamado agronegócio o responsável pela maior parte do desmatamento, das invasões a terras indígenas e a destruição do meio ambiente. Ou seja, além de deixar o povo com fome, os bilionários do agronegócio também destroem as riquezas naturais do Brasil.
Quando observamos todos estes dados, fica evidente a enorme contradição que vivemos no capitalismo. São os donos dos bancos e fundos de investimentos, os latifundiários do agronegócio, os políticos do Centrão que também são donos de terra, que se apropriam de todo este trabalho coletivo.
Para garantir o lucro desse pessoal, que não chega a 0,1% da população, 70 milhões de pessoas são forçadas a estar na miséria. Pior, se toda esta produção estivesse nas mãos dos trabalhadores poderíamos resolver a insegurança alimentar grave, isto é, a fome, no Brasil e em todas as partes do mundo quase que imediatamente.
Por isso, é necessária a mudança radical deste sistema, com a expropriação de toda essa minoria e a destinação de toda essa comida ao povo que precisa se alimentar. Não é mais possível que, em pleno século 21, tenhamos que conviver com esta realidade onde bilhões de pessoas não podem comer direito.
Matéria publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.