MLC realizará 2º Congresso Nacional em agosto

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O Movimento Luta de Classes (MLC), que é uma corrente sindical atuante em diversas categorias com o objetivo de transformar os sindicatos em organizações classistas e combativas, realizará, nos dias 18, 19 e 20 de agosto, em São Paulo, seu 2° Congresso Nacional. O lema do evento é “Organizar a classe trabalhadora pelos direitos e pelo socialismo”. Para apresentar quais são as principais bandeiras e tarefas do MLC durante e após o congresso, entrevistamos algumas das suas principais lideranças do movimento. 

Coordenação Nacional do MLC


A Verdade – Um dos pontos contidos nas Teses ao Congresso Nacional é a revogação da Reforma Trabalhista. Como essa reforma atingiu as trabalhadoras e os trabalhadores e por que é necessário revogar a reforma? 

Esteban Crescente (coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sintufrj) – A reforma afetou as trabalhadoras e os trabalhadores negativamente. Seus resultados foram justamente contrários ao prometido, considerando que esta reforma foi aprovada frente uma ampla rejeição da população, mesmo sob forte campanha dos grandes meios de comunicação.

O número de desempregados se manteve em patamar elevadíssimo e, mesmo entre as pessoas empregadas, cada vez é maior o percentual de contratos precários ou mesmo em condições informais. Além disso, o número de pessoas em situação semelhante à escravidão aumentou.

Aplicativos de entrega ou viagem passaram a ser uma modalidade de trabalho que empregam desde jovens sem escolaridade a profissionais com formação no ensino superior. Todo este processo de precarização dos postos de trabalho ocorre concomitantemente à desindustrialização do país.

Logo, a realidade é que a Reforma Trabalhista gerou maior exploração da classe trabalhadora, o que beneficia apenas a grande burguesia, que comemorou muito e ainda comemora seus altos índices de lucro, enquanto o povo passa fome. É por tudo isso que a reforma deve ser imediatamente revogada.

Bolsonaro aprovou, em 2019, a Reforma da Previdência. Quais foram os efeitos dessa reforma especialmente na vida das mulheres?

Lenilda Luna (jornalista, militante do MLC e do Movimento Olga Benário em Alagoas) – Primeiramente, as mulheres trabalhadoras enfrentam dupla ou tripla jornada de trabalho, cuidando da casa, dos filhos e, muitas vezes, dos idosos da família. Essas responsabilidades impedem ou reduzem a condição de se inserir no mercado de trabalho. Ou seja, fica ainda mais difícil para as mulheres alcançar um histórico contributivo que garanta uma aposentadoria integral. Quase inalcançável. 

Com a esta reforma, a idade mínima de aposentadoria aumentou para 62 anos.  Isso afeta negativamente mulheres que enfrentam durante toda a vida a sobrecarga de trabalho. Além disso, a regra de transição pode ser especialmente dura para mulheres que estão prestes a se aposentar, pois podem não ter tempo hábil para se adaptar às novas exigências, resultando em redução do benefício.

Considerando os desafios que a classe trabalhadora brasileira enfrenta nos dias de hoje no que diz respeito à organização política, atuação nos sindicatos, a ausência das mulheres nesses espaços, como o MLC pretende abordar e enfrentar esses desafios? 

Ludmilla Outtes (presidenta do Sindicatos dos Enfermeiros de Pernambuco, Seepe) O movimento sindical tem sofrido um grande afastamento da base nos últimos anos, com a burocratização e a política de conciliação das direções sindicais, caindo, inclusive, no descrédito de parte dos trabalhadores. O MLC vem justamente para resgatar o sindicato classista. Mas é preciso crescer mais e mais rapidamente para que possamos defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e combater o fascismo.

Outra questão fundamental para que avancemos na luta e organização é a necessidade de aumentarmos a participação das mulheres no mundo sindical. Uma tarefa bastante difícil devido ao machismo que permeia o mundo do trabalho e também as entidades de classe. O capitalismo aprofunda a exploração das mulheres, com duplas e triplas jornadas que também afastam as mulheres da organização.  Teremos, portanto, um momento exclusivo do congresso para debater o trabalho entre as mulheres, pois, sem vencer esse desafio, é impossível atingirmos nosso objetivo de libertar a classe trabalhadora da escravidão assalariada e, justamente por isso, o Congresso do MLC também entrará a fundo nesse debate.

Qual a relação entre a luta sindical e a luta pelo socialismo?

Raquel Bricio (tesoureira do Sindicato dos Trabalhadores Portuários do Pará e Amapá, Sindiporto) O Congresso será um espaço fundamental para avançarmos ainda mais no trabalho sindical verdadeiramente revolucionário em nosso país, que é fundamental para ajudar a desenvolver a luta da classe trabalhadora, principalmente as greves. Vamos nos reunir, nos organizar, debater, inclusive, nossas debilidades para que possamos melhorar, além das nossas bandeiras de luta. 

Sobre a luta pelo socialismo, para nós, sindicalistas classistas e socialistas, as lutas do movimento sindical desnudam a contradição principal do capitalismo: capital e trabalho. Uma vez que fica evidente nas campanhas salariais, por exemplo, o desdém dos patrões com a condição de vida dos trabalhadores, sempre pensando exclusivamente no lucro.

Dessa forma, ao realizarmos as lutas sindicais, demonstramos, na prática, que, enquanto houver capitalismo, a prioridade sempre será a obtenção de lucros em detrimento dos direitos dos trabalhadores. Nessas lutas, se reforça a consciência de classe para além das demandas das categorias, bem como se eleva o nível de consciência dos trabalhadores, da luta econômica à luta política, da luta por salário à luta pelo poder.

Entrevista publicada na edição nº 276 do Jornal A Verdade.