Bia Faria | ARACAJU (SE)
A condição do transporte público da Região Metropolitana de Aracaju comprova, todos os dias, ser esse um dos maiores problemas da população sergipana. Os veículos não têm manutenção e os terminais não abarcam a quantidade de pessoas que necessitam desse meio de transporte para se locomover.
A situação é tão grave que, no dia 17 de agosto, o jovem Michael Jhonatan, de 29 anos, foi morto saindo de um ônibus lotado no terminal Leonel Brizola. Este absurdo ocorreu porque o motorista não enxergou que ele havia desistido de entrar no coletivo devido à superlotação. É preciso garantir justiça por Michael e sua família, denunciar essa situação e lutar para que todo o sistema de transporte seja modificado urgentemente.
A organização do próprio sistema se mostra precária. A população não possui acesso à integração de passagens para pegar um segundo ônibus em qualquer ponto da cidade. Por conta disso, precisa ficar pulando de um terminal ao outro, pegando dois ou três coletivos para poder pagar apenas uma tarifa, levando o dobro do tempo que normalmente gastaria para chegar a seu destino.
“Foram criados corredores de ônibus na cidade, que desmataram várias árvores e que hoje não adiantam de nada porque não tem uma frota boa, principalmente no horário de pico. É uma cidade que supostamente é planejada, mas não tem nenhuma integração entre os terminais”, relata Yuri Dias, militante da UJR.
Houve também demissões em massa dos cobradores, colocando os motoristas responsáveis por dirigir o veículo e prestar atenção na catraca ao mesmo tempo. Em uma tentativa de solucionar essa questão, foi criada uma medida que se demonstrou excludente e ineficiente: apenas pessoas com o cartão de transporte podem pegar ônibus, impossibilitando uma grande parte da população de ter acesso a um direito básico.
Essas são, na realidade, diversas ferramentas que garantem o lucro dos donos das empresas acima do bem-estar dos cidadãos. Outras delas têm sido a diminuição das linhas, chegando ao ponto de que, nos domingos, algumas linhas tenham apenas um veículo rodando, deixando os passageiros esperando por horas e os motoristas duplamente sobrecarregados.
No caso dos estudantes, aqueles que não estudam na Região Metropolitana não têm direito ao meio-passe. Esse é o caso da cidade de Laranjeiras, que possui um campus da Universidade Federal de Sergipe. Vinícius Sanches, estudante de Arqueologia e militante do Movimento Correnteza, compartilhou: “A gente precisa pegar o transporte intermunicipal, que é mais de R$ 5,00 ou pegar as vans da Universidade. Para isso, precisa gastar com uma ou duas passagens. Às vezes tenho que gastar R$ 16,00 por dia só em transporte”.
Nesse momento, existe um debate acerca da possibilidade de aumento na tarifa, já muito cara (R$ 4,50). Mesmo com os consecutivos aumentos em 2018 (de R$ 3,50 para R$ 4,00) e em 2022, chegando ao valor atual, é perceptível que isso não se expressou na qualidade do transporte. E fica claro que esse dinheiro está indo para o bolso dos donos das empresas, enquanto os funcionários se mantêm precarizados e os passageiros enfrentando condições insalubres para poder se locomover em sua cidade.
Para mudar essa realidade só realizando grandes mobilizações e reivindicando melhorias em todo o funcionamento do sistema de transporte é que conquistar as reformas nos terminais, novas linhas, aumento da frota, entre tantas outras demandas da classe trabalhadora para garantir uma melhor mobilidade urbana.
Matéria publicada na edição nº 280 do Jornal A Verdade.