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domingo, 24 de novembro de 2024

Polícia Militar fascista de SC invade terra indígena Laklãnõ-Xokleng com violência

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Risco do território indígena ser submerso é enorme devido ao fechamento de comporta da barragem.

Agnes Rodrigues | São Paulo


DESTAQUES – Na noite deste sábado (07), a Polícia Militar fascista do Governo de Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina, invadiu de forma violenta a Terra Indígena Laklãnõ-Xokleng para fechar a força a última comporta aberta da Barragem Norte, na cidade de José Boiteux.

Após mais de uma década parada, o Governo de SC decidiu que fecharia as comportas da Barragem Norte por conta do excesso de chuvas que vem ocorrendo na região. A Barragem Norte foi construída durante a Ditadura Militar fascista no território Xokleng, na intenção de conter as enchentes do Rio Itajaí.

No entanto, ainda não foi construído o canal extravasor e, com as comportas fechadas, a água que subir do rio poderá se espalhar sobre a taipa da Barragem e acabar por colocar em risco a própria estrutura, sendo portanto uma ameaça para a Terra Indígena Laklãnõ-Xokleng, onde residem atualmente mais de 2 mil famílias nas 9 aldeias do território. Com o fechamento da comporta, as aldeias correm o risco de ficarem submersas.

Depois das fortes chuvas e inundações no território nos últimos dias, lideranças Xokleng contataram a Defesa Civil do Estado de Santa Catarina pedindo socorro para as famílias que precisavam de assistência médica e um barco para locomoção das pessoas para fora da TI.

Documento escrito a próprio punho por lideranças Xokleng (Foto: Arpinsul)

Foi escrita uma carta com a resolução da comunidade que relata que, após reunião com o Secretário de Infraestrutura, Jerry Comper, e o Prefeito de José Boiteux, Adair Antonio Stollmeier (PP), foi acordado que para seguir com a operação do fechamento das comportas da Barragem Norte seria necessário: desobstrução e melhoria das estradas, equipe de atendimento de saúde para os moradores do território, três barcos e um ônibus para atendimento da comunidade, água potável e cestas básicas.

Foi registrado também que, após as comportas serem fechadas, as 9 aldeias da TI poderiam ficar submersas e que os indígenas precisariam de suporte para construção de mais casas para as famílias em um lugar seguro e fora do nível do rio.

Porém, logo após feito o pedido, os indígenas foram recebidos dentro de seu território com uma ação truculenta pela Polícia Militar, que agrediu física e psicologicamente jovens, crianças e anciões no intuito de antecipar o fechamento da comporta da barragem, por meio de força desproporcional contra a comunidade Xokleng.

Vanessa Fe Há, coordenadora de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), relata ao Jornal A Verdade que “o governo está preocupado com o aumento do nível do rio Itajaí, que pode chegar até 14 metros, o que de fato seria um desastre para a cidade. No entanto, não estão preocupados com as famílias que vivem dentro do território Laklãnõ-Xokleng, por onde a barragem passa. Algumas das aldeias do território já estão alagadas, os indígenas já estão ilhados, sem acesso à saúde e segurança. Eles querem fechar a barragem para proteger os não-indígenas, e acabam esquecendo que os indígenas podem sim morrer lá dentro do território devido às enchentes, podem ser arrastados. Isso sim que nos preocupa, os indígenas não são contra o fechamento da barragem, só que são contra a falta de assistência que o Estado está tendo para com eles”.

Ainda segundo Vanessa, o pedido de ajuda formalizado sequer chegou a alcançar a esfera do Governo do Estado e a PM está agindo sob ordens do governador Jorginho Mello para violentar os indígenas que estavam fazendo protesto pacífico dentro do território. Os Xokleng se defenderam, desencadeando em um conflito onde até o momento foram identificados 3 indígenas baleados.

“A conduta da polícia é uma conduta de morte, foram lá para fazer o uso da força para atacar e retirar o povo Laklãnõ-Xokleng de dentro do território”, conclui Vanessa.

Essa é a primeira ação da Polícia Militar no território após a anulação do PL do Marco Temporal no STF, se mostrando ainda mais truculenta do que vinha sendo nos últimos anos, deixando os Laklãnõ-Xokleng sem amparo e coagidos pela violência brutal.

Enquanto isso, o descaso da mídia hegemônica chama atenção do movimento indígena. A Arpinsul publicou em seu perfil no Instagram: “Na TV aberta, nas mídias locais dos municípios e do Estado, não vemos a devida atenção à gravidade do caso. Qual a posição de vocês frente a violação de direitos dos povos indígenas? Qual a posição de vocês frente ao racismo institucionalizado que justifica o descaso com vidas indígenas em detrimento do “vale europeu”? Vocês vão se calar diante do genocídio que poderá novamente ocorrer em Santa Catarina? O descaso do governo racista de SC será referendado nas mídias?”.

É preciso denunciar os ataques violentos do Estado contra os povos indígenas, Estado esse que usa de todas as suas ferramentas para apagar e matar indígenas há mais de 500 anos. Os povos indígenas continuam resistindo e lutando por seus direitos, e não vão se calar em meio às políticas anti-indígenas do Estado burguês.

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