Maranhão é o Estado que mais fornece mão de obra escrava no Brasil

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Entre 2003 e 2021 mais de 8 mil maranhenses foram resgatados em situação de trabalho escravo no Brasil.

Afonso Sodré | São Luís (MA)


De acordo com os dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo, o Estado do Maranhão é o maior fornecedor de mão de obra escrava no país. Entre os anos de 2003 e 2021, 8.636 maranhenses foram resgatados em situações de trabalho escravo, sendo o primeiro no ranking. O Município de Codó (MA) é hoje o segundo maior fornecedor de mão de obra escrava do país, com 429 resgatados nascidos nesta cidade. Isso revela a situação em que boa parte da população se encontra. Sem perspectivas de conseguir trabalho, homens e mulheres ficam à mercê de empresários que prometem uma vida melhor, mas promovem esse tipo de exploração.

Porém, os dados também mostram vêm aumentando os casos dentro do próprio estado. Em 2022, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação em carvoarias de Grajaú e encontrou trabalhadores submetidos a uma jornada exploratória de trabalho, com atividades durante 40 dias seguidos e apenas cinco dias de folga, e condições precárias, sem dormitórios adequados, sem banheiros e com comida estragada.

No primeiro semestre deste ano, uma mulher e 16 homens foram resgatados de uma carvoaria na zona rural de São João do Paraíso, cozinhando em fogareiros e estavam há mais de três meses sem energia elétrica, isolados da zona urbana da cidade, sem banheiros e sem água potável. Todos exerciam diversas funções na carvoaria, tendo jornadas de trabalho que chegavam a 12 horas diárias.

A mulher resgatada tinha 55 anos e, segundo seu depoimento, tinha uma jornada de trabalho de mais de 12 horas diárias e trabalhava desde os nove anos de idade como cozinheira. Começou acompanhando seu pai, que era empregado na fazenda, viveu sua vida toda se uma carteira de trabalho assinada e em condições precárias de trabalho. De acordo com o Ministérios Público do Trabalho (MPT), todos os resgatados receberam o pagamento das verbas rescisórias a que tinham direito, além de férias e 13º salários proporcionais, bem como parcelas de seguro-desemprego.

Pessoas pobres e vulneráveis, sem nenhuma opção de renda, acabam se tornando vítimas perfeitas para a ganância de lucros de grandes e médios empresários que rodam os interiores do Brasil em busca de mão de obra para explorar. É o capitalismo, em sua fase mais predatória, que condena milhões de trabalhadores à exploração e à miséria.

Matéria publicada na edição nº 282 do Jornal A Verdade.