Em todo o Brasil houve um enorme aumento da violência contra as mulheres. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, cerca de 18 milhões de mulheres foram vítimas de violência de todos os tipos, ou seja, mais de 50 mil vítimas por dia. Além disso, uma em cada três mulheres com mais de 16 anos já sofreu violência sexual ou física por parte de parceiros ou ex-parceiros, um percentual de 33,4%, maior que a média mundial (27%).
Movimento de Mulheres Olga Benario – SP
MULHERES – O principal motivo desse aumento foi o corte de verbas para as políticas de enfrentamento da violência contra as mulheres e a precarização dos serviços de atendimento, que fazem com que a maioria das mulheres não consiga recorrer a nenhum tipo de atendimento público. Muitas nem mesmo conhecem a rede de serviços de amparo às vítimas e não são bem atendidas nas delegacias especializadas para as mulheres ou delegacias comuns.
Em 2022, tivemos o menor orçamento para o enfrentamento da violência contra as mulheres em uma década, segundo dados do Instituto de Estudos Socioeconomicos (INESC), com redução das equipes de atendimento em saúde, assistência social e segurança, comprometendo o funcionamento geral dos serviços de acolhimento.
As precarizações e terceirizações realizadas por governos estaduais que não se importam com a vida das mulheres, a exemplo do governador Tarcísio de Freitas, do Estado de São Paulo, também prejudicam os serviços. O governador paulista desviou 99% do orçamento de 2023 da Secretaria da Mulher para a Secretaria de Transporte e ainda pretende privatizar os principais serviços, como no caso da Casa Eliane de Grammont, primeiro Centro Referência às Mulheres do Brasil, criado em 1990, como resultado da luta das mulheres.
É por isso que, neste dia 25 de novembro, que marca o Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o Movimento de Mulheres Olga Benario convoca todas a ocuparem as ruas contra a violência e contra o fascismo!
Mulheres organizadas
Diante dessa realidade cruel, os movimentos sociais têm tido um papel fundamental, organizando as mulheres em situação de violência e construindo lutas por mais políticas públicas para as mulheres. O Movimento Olga Benario, por exemplo, organiza ocupações para construir casas que acolhem mulheres em situação de violência, como a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus, que nasceu para reivindicar uma casa de passagem para a região do ABC Paulista em São Paulo.
“Faz muitos anos que lutamos por casas de passagem para a região, a maior parte dos casos que atendemos precisam ser encaminhados para esse serviço”, afirma a delegada da Delegacia da Mulher de Santo André. Maria*, uma mulher em situação de violência, foi encaminhada para a Casa Carolina após dias na rua. “Quando eu cheguei aqui, senti uma paz que eu não sentia há semanas”, desabafa.
São 14 casas construídas pelo Movimento espalhadas pelo país. Entre os principais objetivos das casas estão: organizar as mulheres trabalhadoras; denunciar a falta de serviços e o descaso do Estado com a vida das mulheres; lutar por mais políticas públicas; organizar trabalhadoras dos serviços públicos; fornecer um espaço seguro para as mulheres em situação de violência, que são atendidas por uma equipe voluntária de assistente sociais, psicólogas, advogadas, enfermeiras, entre outras profissionais.
“Em todos os nossos atendimentos, as mulheres são protagonistas da luta, porque, além das situações de violência, elas ainda enfrentam as mazelas da sociedade capitalista, como a falta de moradia, a dificuldade de acesso aos benefícios sociais, a insegurança alimentar, a falta de creche e de leite para seus filhos, entre outras. Por isso, é essencial que essa mulher continue lutando diariamente”, afirma Nicole Ramos, coordenadora da Casa Laudelina de Campos Melo.
Para Rosa*, atendida em uma das ocupações, a luta foi essencial para sair da sua situação de violência. “Eu sofri com um marido ordinário por nove anos. Eu passei por vários tipos de sofrimento na mão dele, porque nunca tive amparo, nunca tive uma saída, nunca tive uma opção. Depois de tantas lutas, de tantas fugas frustradas, eu consegui essa que foi a minha última, porque eu consegui o amparo de um povo bom, de um povo forte. Agora eu faço parte do Movimento Olga Benario, eu sou filha de Olga Benario. Porque conheci uma legião de companheiras e companheiros que me amparam, que me dão força e que dizem pra mim que vale a pena lutar”, relata.
*Nomes fictícios para proteger a identidade das atendidas.
Matéria publicada na edição nº 283 do Jornal A Verdade.