Este sistema se alimenta com base no cadáver de minorias sociais, uma vez que a expectativa de vida de pessoas trans no país não passa de 35 anos de idade. Falar de transfobia é falar de luta de classes e categorizar este embate diário pelo direito à vida como “identitário” é uma sentença de morte velada.
Victor Rivas | São Luís
OPINIÃO – De acordo com a Associação Nacional de Transexuais e Travestis (ANTRA), o Brasil é atualmente o país que mais mata sua população transgênero no mundo, com uma morte sendo registrada a cada 34 horas. Vemos aqui a chaga capitalista em seu rincão mais profundo. Não apenas uma questão social pontual, mas uma característica estruturante do capitalismo.
Este sistema se alimenta com base no cadáver de minorias sociais, uma vez que a expectativa de vida de pessoas trans no país não passa de 35 anos de idade. Falar de transfobia é falar de luta de classes e categorizar este embate diário pelo direito à vida como “identitário” é uma sentença de morte velada.
Atualmente alguns setores defendem uma posição que resigna a luta revolucionária somente à atuação na pauta econômica geral da classe trabalhadora e chama a causa transgênero de “identitária”. Essa posição compreende a defesa da população trans como uma realização das movimentações sociais sem adotar um viés revolucionário, classista, abandonando a luta de classes.
Isto não poderia estar mais errado. Pois se observarmos a trajetória dos militantes de pautas minoritárias ao longo da história, vemos que todas elas são marcadas pelas relações sociais e contradições geradas pelo capitalismo, tais como o racismo, a misoginia, a xenofobia, as desigualdades sociais, a segmentação dos estratos sociais e, obviamente, a transfobia.
Compreender a pauta das pessoas trans como “identitarismo” apaga as batalhas constantes que cerca de 90% dessa população passa por se encontrar na prostituição (com esta porcentagem sendo de maioria negra, e de mulheres trans) sujeita a variados tipos de violência. Esta concepção é contrária à união do proletariado, por esonder pautas necessárias para o avanço dos direitos do povo, favorecer a divisão das mobilizações sociais e reforçar preconceitos introjetados na população pela propaganda burguesa. Ela é, em última instância, linha auxiliar para o progresso de ideologias fascistas e reacionárias.
Para melhor contextualização, deve-se perceber que, no capitalismo, todas as esferas da vida humana se tornam ou podem se tronar mercadoria, e isso atinge a população trans de forma abrupta no Brasil.
A grande revolucionária russa Alexandra Kollontai nos lembra dessa realidade quando afirma que “a moral hipócrita da sociedade burguesa encoraja a prostituição pela estrutura de sua economia exploradora, enquanto ao mesmo tempo cobre impiedosamente de desprezo qualquer pessoa que é forçada à tomar este caminho”.
Nesta citação percebemos a urgência da adoção da luta anti-transfóbica pelos movimentos proletários, uma vez que grande parte desta população é marginalizada por ter de vender seus corpos, para poder sobreviver. É uma sandice completar compreender a luta destas pessoas como mero “identitarismo”, e não como mais uma faceta das mazelas derivadas do domínio da burguesia.
Concluo, camaradas, dizendo que este cenário não se resolve com meras reformas. Este cenário descende de questões estruturais, coloniais e históricas. Ele só será solucionado com uma ruptura radical, que busque abolir este modo de produção nefasto. Portanto, a luta das pessoas trans deve ser abraçada pelos comunistas, e deve basear-se na crítica ao gerador das opressões vivenciadas por estas pessoas, ou seja, o capitalismo.
Devemos lutar por um movimento trans anti-capitalista, internacionalista e revolucionário, devemos lutar por um movimento trans socialista. Pois já diziam Karl Marx e Friederich Engels no manifesto: “proletários de todo o mundo, uni-vos!” E assim o façamos.