Samira Teixeira | Salvador
Desde o dia 1 da janeiro, moradores do bairro de Castelo Branco em Salvador sofrem com a falta de água no bairro. No dia 12 eles se organizaram em frente a Embasa para cobrar posicionamento perante o aprofundamento do problema hídrico do bairro, que tem causado sérios danos aos moradores e trabalhadores.
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TRABALHADOR UNIDO – Apesar do abastecimento de água já ser um problema recorrente que afeta o bairro de Castelo Branco, a falta de água se agravou, atingindo toda a população da região neste início de 2024. A realização da manutenção de 13 entroncamentos da nova rede de abastecimento de água da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A (Embasa), obra que se iniciou sem comunicação com os habitantes, é um dos motivos do agravamento desta questão.
Como presente de ano novo, a Embasa fechou o fornecimento de água sem avisar à população, todos foram pegos de surpresa e não puderam se preparar para enfrentar esta situação. Mesmo após a finalização das obras a empresa não voltou a disponibilizar água de forma integral e, continua a não dar retorno. Não, encarar com urgência e seriedade a situação que está afetando o cotidiano dos moradores de Castelo Branco demonstra o descaso que a empresa de saneamento tem com a população.
Manifestação do povo
Para barrar esta situação de calamidade, que não se resolveu mesmo após o grande número de reclamações registradas na Ouvidoria da Câmara, moradores se organizaram em protesto. A população esteve em frente à Embasa de Castelo Branco, com panelas e palavras de ordem para denunciar os danos que estão vivenciando, bem como para cobrar ações e posicionamento da empresa que continua a cobrar caro aos trabalhadores pelo péssimo serviço disponibilizado.
Estavam presentes mulheres grávidas, com crianças de colo, pessoas com deficiência, idosos e juventude, representando a parcela dos que são os mais atingidos com o descaso da empresa e suas terceirizadas. A empresa de saneamento é responsável pela distribuição de um dos bens básicos mais importantes para a vida dos seres humanos e para as realizações de suas atividades: à água.
Uma moradora do bairro, mãe solo e representante de sua família relatou ao A Verdade:, “Eu fiquei com uma filha grávida, uma bebê de 10 meses, uma criança de 2 anos, uma de 7, com um banheiro entupido. Não tem um pingo de água dentro de casa”. Ela conta que precisou ir a pé para outro bairro em busca de água e tendo que carregar 5 litros em uma sacola. Ainda completa dizendo: “A gente bateu em toda a vizinhança aqui, e todo mundo com os tanques vazios. Ninguém tinha água e a maioria aqui na rua são mais idosos. Não têm jovens assim não. É idoso até lá embaixo”.
Outra moradora, uma idosa de 64 anos de idade, conta que estava sendo inviável ficar dentro de casa devido ao mau cheiro ocasionado pela impossibilidade de realizar o descarte das necessidades básicas dos habitantes da casa.
Histórico do bairro e a organização popular na luta por direitos
Ainda na década de 1940 a região que hoje é conhecida como o bairro de Castelo Branco era considerada rural. Apenas na década de 1950 que começa a se desenvolver o Conjunto Habitacional Castelo Branco, que leva este nome em uma infeliz homenagem a um dos maiores e mais perversos criminosos da ditadura militar, o ditador Marechal Castelo Branco.
O bairro está localizado no que se denomina popularmente como “miolo de Salvador”, por estar situado na parte central da cidade, juntamente aos bairros de Cajazeiras, Fazenda Grande, Dom Avelar, Mata Escura e Nova Brasília. Porém, apesar de constituir a região central do município, trata-se de uma parte esquecida da cidade, situação comum aos bairros de característica periférica, onde a população trabalhadora sente na pele os reflexos da desigualdade social.
O bairro de Castelo Branco enfrenta sérios problemas. Destacam-se as dificuldades de mobilidade urbana, como engarrafamentos, falta de transporte de qualidade, redução de frotas, fruto de um projeto de sociedade que tem a finalidade de segregar a periferia e impedir que seus moradores tenham acesso à cidade.
Agora, com a chegada do verão escaldante de Salvador, a comunidade passa pelo agravamento da falta de água. É muito comum nas periferias que as obras sejam mais demoradas e que os problemas não sejam encarados com a devida importância, diferentemente de como ocorre em regiões mais nobres da cidade.
A falta de abastecimento de água para o bairro é um problema antigo e alvo de reclamações cotidianas dos moradores. Há relatos de pessoas que estão sem água há cerca de 3 meses, mesmo com o pagamento das contas em dia. Moradores de diversas localidades se queixam de enfrentar racionamento de água.
Porém, apesar dos problemas que assolam o bairro periférico, a comunidade de Castelo Branco possui um grande histórico de organização popular. Uma população que há muito luta para ter lazer, cultura e melhorias para a região. Uma população que se organiza quando percebe que seus direitos estão sendo negados.
A ação coletiva do dia 12 de janeiro foi extremamente importante para mostrar para a Embasa que a população periférica não irá aceitar o descaso e a frequente demora nas resoluções de problemas. Somente através da organização dos moradores e com a pressão popular, que os direitos básicos do povo serão respeitados.