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terça-feira, 16 de julho de 2024

Conquistas e lições das greves dos trabalhadores dos EUA

Fernando Alves | Redação


Entre os meses de junho e setembro de 2023, mais de 350 mil trabalhadores entraram em greve nos Estados Unidos, somando quase 300 movimentos grevistas nos primeiros nove meses de 2023 (um contingente de 546 mil trabalhadores parados), segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS).

Nas gigantes montadoras de Detroit, os metalúrgicos conquistaram grande parte das reivindicações. Primeiro, um aumento salarial de 25% válido até abril de 2028, sendo que para os salários iniciais o aumento foi de 68%. Além disso, ficou decidido que os  trabalhadores temporários terão aumento de mais de 150% durante a vigência do contrato, que os empregos serão mantidos partir da fabricação de carro elétricos (a estimativa apresentada pelas empresas era de 30% de demissões nos próximos anos); que serão adotadas medidas protetivas às novas tecnologias, como a Inteligência Artificial; garantida a ampla organização sindical, o direito à sindicalização, o direito de greve, melhores condições de trabalho e a redução da jornada com aumento salarial, entre outras reivindicações.

As greves são consequência do aprofundamento da crise do sistema capitalista no mundo, em especial, da grave crise que vive o maior país imperialista do mundo, com alta de inflação. Nos últimos doze meses, a inflação atingiu o índice de 8,35, considerado elevado para a realidade norte-americana, e fator que eleva o custo de vida, incide nos preços dos alimentos, dos serviços e outros itens básicos na vida da população; aumento brutal das desigualdades sociais; arrocho e estagnação salarial, todos sintomas da crise que se arrasta desde o grande colapso econômico de 2008.

Esses fatores, somados à ação política do país, que participa direta ou indiretamente de várias guerras, golpes contra democracias e conflitos em diversas regiões do mundo, obrigaram o governo de Joe Biden a aumentar em muito os gastos com a indústria armamentista. Fora isso, o país perdeu vários espaços e parceiros na guerra comercial com a China, agravando a crise e afetando diretamente milhões de trabalhadores, reduzindo a qualidade de vida do povo estadunidense.

 

O papel estratégico da classe operária

A primeira onda de greves começou em maio de 2023 com os roteiristas da milionária e poderosa indústria cinematográfica, em Hollywood, que só teve seu desfecho no início de outubro. Também em Hollywood aconteceram outras greves temporárias de trabalhadores municipais, de trabalhadores da rede hoteleira, livrarias, cafeterias, fábricas de cerveja, entre outras. Até mesmo o sindicato dos atores e atrizes promoveram importantes paralisações contra os mega estúdios de cinema. Em Hollywood as históricas greves duraram 118 dias.

Porém, as mais potentes e importantes greves ocorreram na Ford, General Motors (GM) e Stellantis, as principais montadoras de automóveis dos EUA, e mostrou a força e o poder da classe operária, provocando fortes consequências na economia dos EUA que, segundo projeções das próprias empresas, pode significar uma perda de até 20% do PIB do trimestre do país. Além de inédita – porque é a primeira vez em 88 anos que uma greve conseguiu paralisar simultaneamente essas grandes fábricas –, a greve foi crescendo durante seu curso, com adesões importantes que foram além de Michigan, ampliando seu alcance também para os estados de Missouri e Ohio, chegando até os setores de distribuição e reposição da GM e Stellantis. Na Ford, as negociações avançaram e os trabalhadores retomaram seus postos de trabalho a partir dos acordos vitoriosos com a empresa. Em todo o país, a greve chegou a 20 estados e agrupou mais 18.600 trabalhadores, irradiando sua influência sobre um contingente de 146 mil trabalhadores. 

A greve nas “Gigantes de Detroit” obrigou a Toyota a aumentar em 9% os salários dos trabalhadores e a Honda e a Tesla a anunciarem que seus funcionários terão aumento salarial. São empresas que não têm trabalhadores sindicalizados, mas que já mostraram disposição de sindicalização e abriram conversações com o UAW, maior sindicato do país.

 

Greve na Saúde

No início de outubro, trabalhadores da Kaiser Permanente iniciaram a maior greve da história no setor de saúde dos EUA. Mais de 75 mil trabalhadores que atendem nas instalações da Kaiser Permanente nos estados da Califórnia, Colorado, Oregon, Washington, Virgínia e Washington DC estão parados.

A Kaiser Permanente é um dos maiores provedores sem fins lucrativos da área de saúde dos Estados Unidos e possui 12,7 milhões de usuários, operando em 39 hospitais e 622 consultórios médicos. Os trabalhadores da empresa são organizados por uma coalizão de sindicatos chamada Service Employees International Union-United Healthcare Workers West (SEIU-UHW) e inclui pessoal de enfermagem, paramédicos, pessoal de cuidados respiratórios, além de outras categorias que trabalham em cirurgias. Esse contingente representa 40% da força de trabalho da Kaiser Permanente. Além de aumento salarial, os trabalhadores reivindicaram o fim das terceirizações e da subcontratação de mão de obra.

As greves nos Estados Unidos são importantes lições para a classe trabalhadora em todo o mundo e expressam o florescimento de uma nova realidade, que demonstra o acerto do caminho da luta organizada, desperta a consciência de milhares de trabalhadores e recoloca o protagonismo da classe operária no leito histórico da luta de classes no mundo.

Matéria publicada na edição mº 285 do Jornal A Verdade

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