Povo indígena Kanak, do arquipélago da Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, está a uma semana bloqueando a entrada da capital do país, Numéa. Protestos ocorrem em defesa da independência do país, que está há 170 anos sob a opressão colonial da França.
Redação
INTERNACIONAL – Riquezas naturais roubadas, direitos a autodeterminação suprimidos e colonização por imigração de uma população estrangeira que oprime o povo indígena local. Esta descrição já foi feita por vários países oprimidos por um regime colonial no passado. Hoje, associamos esta realidade ao povo palestino, perseguido por Israel. Esta é também a situação do povo Kanak, que vive no arquipélago da Nova Caledônia, no sul do Oceano Pacífico.
Desde o dia 13 de maio, milhares de pessoas estão nas ruas protestando e pedindo independência em relação à França. Barricadas foram erguidas na rodovia que liga a capital, Numéa, ao aeroporto da ilha principal. A polícia e o exército francês reprimem com força o povo Kanak, causando ao menos 6 mortos durante as manifestações, sendo 3 indígenas. O estopim dos protestos foi a tentativa do governo francês de alterar a Constituição para dar direito de voto nas eleições locais para a população europeia que emigrou para o país nos últimos 30 anos.
170 anos de luta contra colonização francesa
Os franceses controlam as ilhas da Nova Caledônia desde 1853, onde estabeleceram um regime colonial e tentaram por todos os meios expulsar os Kanak de suas terras. As ilhas ficam numa área estratégica do Pacífico, próximas a Austrália se sempre serviram de posto avançado do imperialismo francês na região.
Além disso, a Nova Caledônia é a 4ª maior produtora de níquel do mundo, ficando atrás apenas das Filipinas, Indonésia e da Rússia. O níquel é um minério fundamental na criação de ligas metálicas usada na produção de baterias e aço inoxidável.
Os Kanak, por sua vez, ocupam as ilhas por mais de 3 mil anos. Lá desenvolveram suas línguas e culturas. Desde a chegada dos franceses, vem sofrendo uma tentativa de ver apagada sua história. Este processo se intensificou nos últimos anos.
Durante toda década de 1980, o povo Kanak pegou em armas contra o colonialismo francês. A luta levou ao chamado Acordo de Numéa, assinado em 1998 entre os indígenas e o governo colonial. O acordo previa a realização de referendos sobre a independência do país.
Durante o período seguinte dezenas de milhares de europeus emigraram para as ilhas, mudando fortemente a demografia do país, colocando em risco a maioria indígena Kanak.
Para piorar, os franceses impuseram que o último referendo sobre a independência fosse realizado em 2021, durante a pandemia da COVID-19, levando uma ampla abstenção da população nativa. Agora, o governo de Emmanuel Macron quer mudar a Constituição Francesa para dar direito a voto aos franceses que foram morar no arquipélago após o acordo de 1998.
Se aprovada a emenda constitucional, o povo Kanak perderá a maioria política que tem hoje no parlamento e no governo das ilhas e, consequentemente, os franceses passarão a exercer mais controle sobre a Nova Caledônia. Ou seja, não só foi negado aos Kanak o direito de decidir sobre seu futuro, como se continua o processo de ocupação de franceses do território para acabar com o poder político dos indígenas em seu próprio país.
Mais uma população submetido a colonização se levanta contra o imperialismo. Seja na Nova Caledônia, na Palestina ou nas ex-colônias europeias africanas, o povo não aceita o controle das antigas potências coloniais que sempre saquearam as riquezas e impuseram um regime de miséria e exploração a estes povos. Mesmo num arquipélago tão distante de nós, no meio do oceano, está presente a luta contra o capital imperialista. Lá também apenas a luta poderá levar a libertação definitiva do povo Kanak.