Estudantes denunciam assédio nas escolas

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Levantamento realizado pela empresa Microcamp com jovens de 12 a 31 anos em colégios de dez estados brasileiros revelou que, do total das entrevistadas, 46,4% afirmaram já terem sofrido assédio na escola.

Vitória Ohara | Movimento Olga Benario (PE)


MULHERES – É comum ouvirmos que “a escola é a segunda casa do aluno”. Pois bem. Segundo a ONU, a casa é o lugar mais perigoso para mulheres e meninas, pois é o local onde se registram mais casos de violência. Nessa lógica, a escola, como extensão do lugar mais perigoso, é também onde meninas e mulheres são assediadas cotidianamente. É o que confirma a pesquisa feita pelo Ministério da Saúde do Brasil, que registrou 203 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes de 2015 a 2021, apontando que os principais lugares onde ocorrem a violência são a residência e a escola.  

Num recente Congresso da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe), durante um grupo de debates sobre violência de gênero, várias estudantes denunciaram problemas recorrentes em suas escolas, com relatos de direções escolares que culpabilizam as adolescentes pelo assédio sofrido. Nesses casos, os assediadores continuaram convivendo livremente nos locais, as jovens ficaram intimidadas, não denunciaram e desenvolveram uma série de problemas psicológicos.

As práticas machistas também naturalizam o assédio, fazendo com que estudantes não percebam a gravidade do problema. Levantamento realizado pela empresa Microcamp com jovens de 12 a 31 anos em colégios de dez estados brasileiros revelou que, do total das entrevistadas, 46,4% afirmaram já terem sofrido assédio na escola. Destes, 59% afirmaram que “não ligaram” ou “agiram naturalmente”.

“Infelizmente, a escola é um espaço onde isso acontece e a gente precisa que as meninas entendam que o professor está na escola para trabalhar. Ele está prestando um serviço e ele não pode usar esse espaço privilegiado para iniciar uma série de comportamentos, que ganham aspecto de flerte, mas que não é flerte, é assédio”, afirma Catarina Matos, professora em Fortaleza (CE) e coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benario no Ceará.

Professoras também sofrem 

Em março, o Movimento Olga Benario organizou duas rodas de conversas sobre a origem do 8 de Março e a luta contra a violência às mulheres numa escola do bairro de Tejipió, em Recife. Em torno de 80 estudantes participaram dos debates. A professora de História Overlane Cavalcanti, que possibilitou a inserção do Movimento na escola, relatou que está insuportável o machismo na unidade de ensino, a ponto de deixar de ir trabalhar com blusas regatas em dias mais quentes, pois alguns homens se sentem no direito de apalpá-la nas costas. “É necessário que a escola tenha mais espaços para debater o assédio e que os educadores tenham uma formação adequada, que os faça educar sem machismo. Faço o possível para trazer temáticas da igualdade de gênero, racial e luta de classes nas minhas aulas”, explica a professora.

Mulheres na luta contra a violência 

O Movimento Olga Benario tem como uma de suas bandeiras a luta contra o assédio nas escolas, em parceria com entidades estudantis, promovendo diálogos e ações para combater o machismo. Exemplo disso são os debates organizados periodicamente junto com a Associação Paraibana dos Estudantes Secundaristas (Apes), em João Pessoa (PB). Em seminários temáticos e debates nas escolas já houve casos de denúncias graves de violências dentro de casa ou na própria escola. Nesses casos, coube ao Movimento acionar o Conselho Tutelar e outros organismos de defesa das mulheres e crianças além de buscar a direção escolar.

As ações promovidas pelo Movimento Olga Benario, de Norte a Sul do país, são fundamentais para a emancipação da consciência de toda uma sociedade, principalmente para as mulheres, que passam a entender seu papel e sua importância quando resolvem denunciar e lutar por uma vida sem opressão e exploração.

Por isso, devemos desenvolver com as estudantes e as trabalhadoras da educação uma grande campanha contra o assédio nas escolas, em parceria com os grêmios e entidades estudantis.

Matéria publicada na edição nº 294 do Jornal A Verdade.