Acompanhe relatos de estudantes de Parnamirim (RN) que denunciam escolas cada vez mais precarizadas pela falta de infraestrutura e verba, assim como o aprendizado prejudicado pelo Novo Ensino Médio.
Josue Nascimento | Parnamirim (RN)
EDUCAÇÃO – Sabemos que não é de hoje que as escolas brasileiras sofrem com a precarização do Novo Ensino Médio (NEM). Desde as reformas de 2016, após o golpe político que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o Estado passou a focar cada vez mais no controle fiscal com um Pagamento da Dívida Pública e não focar nas necessidades do povo, como a educação. Isso trava os investimentos no ensino nas Escolas Estaduais. Com a aprovação às pressas na Câmara dos Deputados, retirando algumas diretrizes, aprovando a retirada da obrigação da matéria de Espanhol dos currículos.
m Parnamirim, município da Região Metropolitana de Natal, estudantes relatam alguns exemplos de precarização que duram anos, e que o Governo do Estado, responsável pelas escolas, não propõe um novo modelo há décadas.
Anak, estudante da Escola Estadual Presidente Roosevelt fala de como a própria estrutura de sua escola é precarizada, possuindo problemas fáceis de solucionar, mas que muitas vezes são negligenciados pelo estado: “Na minha sala, a porta e o ar condicionado estão em situação insalubre, fazendo o ambiente ficar desconfortável e uma parte da sala inutilizada, visto que há um vazamento no climatizado há 2 meses. Além disso, basta estar presente na escola para perceber que a biblioteca está inativa, que os sanitários estão quebrados, e se sua visita for em um dia chuvoso, perceberá que a escola, assim como outras de Parnamirim, não está equipada para resistir às chuvas, sofrendo constantemente com o alagamento.”
Desde que foi imposto, o NEM, só vem se mostrando ineficaz e inimigo dos estudantes. Na prática, é totalmente inadequado e acaba sendo implementado de qualquer forma, prejudicando ainda mais o ensino. Pela falta de estrutura das escolas secundárias, mas também na falta de professores e professoras para encaminhar as disciplinas da base técnica, acabam os turnos com bem menos tempo de aula. Essa realidade não é diferente para os estudantes de Parnamirim.
Não há sequer a aplicação do “sexto horário” e as chamadas “Trilhas”, os itinerários de formação que permitem aos estudantes “escolherem” áreas de interesse específicas dentro do currículo, na realidade são totalmente dispersas e superficiais que tomam espaço de matérias essenciais da base comum como português, matemática, física e biologia. Essas unidades curriculares ocupam 6 das 25 aulas ofertadas por semana, e além de retirar espaço das matérias essenciais, ainda apresenta conteúdo raso e que não permite uma formação técnica e crítica de qualidade.
Neste contexto de juntar a base técnica e a base comum sem capacidade operacional – sem ter infraestrutura e trabalhadores suficientes – os professores optam por substituir os seus conteúdos habituais, o que é ruim, pois fica cansativo e atrasa os alunos em outras matérias.
“Vivo numa realidade onde observo o número crescente de pessoas que veem a escola no formato do NEM como perda de tempo, e ilegítima, visto a falta de diálogo com alunos e professores na sua proposição e implementação. O NEM rouba cada dia mais os nossos sonhos de ingressar em uma universidade e mudar a qualidade de vida de trabalhadores e trabalhadoras. Arrancaram-me o lazer, a cultura, o conhecimento e as decisões sobre como a escola deveria ser. Eu conheço muito bem os meus direitos como aluna, e nenhuma tentativa de reformar do governo em relação ao NEM será capaz de reparar os impactos causados pelo modelo de ensino até agora.”, afirma Anak, que milita no movimento estudantil pela União da Juventude Rebelião
Já Kauã, estudante da Escola Eliah do Rêgo, conta sua experiência e reforça como o NEM prejudicou o ensino das escolas públicas. “As unidades curriculares mais conhecidas como “trilha” tomam um grande espaço de aprendizado dentro das escolas. Não temos mais aulas para ir à biblioteca, a leitura não faz mais parte do nosso ensino. Não temos mais acesso à quadra, lugar segurado por cordas que a qualquer momento pode desabar, assim as aulas práticas de educação física, são realizadas dentro das salas.”
Dayvi, da Escola Estadual de Emaús complementa o que foi dito por Kauã e tantos outros estudantes. “Eu passo por quase tudo que foi dito [até agora], só tem uma diferença, as aulas duram muito pouco tempo, por isso eu acabo ficando somente 2 horas e meia na escola.”
Essa é a realidade de praticamente todos os estudantes secundaristas do país. No tempo em que o fascismo tenta impor seu projeto de destruição, a educação não cumpre um papel educador e crítico, pois ainda vivemos no sistema capitalista que privatiza o que deveria ser de todos. Por isso, devemos estar cada vez mais organizados nos grêmios para tocar a luta em cada escola, de cada estado e cidade do Brasil.