Após quatro anos de pressão popular, foi possível que os quatro policiais militares acusados fossem a júri popular. Os PMs foram absolvidos, mas a luta por justiça por Giovanne Gabriel ainda continuará.
Redação RN
Na edição 293 de A Verdade, relembramos a luta por justiça para Giovanne Gabriel, jovem que foi assassinado quando ia visitar sua namorada, em Parnamirim (RN), município vizinho a Natal, no dia 05 de junho de 2020. Após quatro anos de pressão popular, foi possível que os quatro policiais militares acusados fossem a júri popular, porém, a Justiça burguesa é extremamente limitada e os PMs foram absolvidos, mesmo com todas as provas indicando que foram eles os responsáveis pelo assassinato do jovem.
Após vários adiamentos, enfim, no dia 02 de julho, iniciou-se o júri e houve uma forte preparação por parte das Polícias Militar e Civil para limitar a participação popular no julgamento. As ruas ao redor foram bloqueadas com grades e não eram mais permitidos faixas e cartazes em apoio a Gabriel no portão do Fórum. Além disso, era necessário se inscrever previamente para assistir ao julgamento no plenário do Fórum. Paralelamente, os policiais não tiveram esse tratamento rigoroso e puderam entrar aos montes.
No dia 04 de julho, houve uma vigília à noite por parte dos movimentos sociais enquanto o julgamento se encerrava. A polícia não deixou os manifestantes que apoiavam a família de Gabriel ficarem no portão, tendo que ficar fora da grade que fechava a rua. Nessa mesma noite, o veredito do júri foi anunciado, havendo a absolvição total dos policiais Paulinelle Sidney Campos Silva, Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Sousa.
As provas
No dia do assassinato de Gabriel, as câmeras de uma das casas da vizinhança capturaram o momento da abordagem, havendo tanto vídeos quanto imagens fotografadas pelo proprietário do aparelho. Nessa gravação, é possível ver que Gabriel foi abordado duas vezes por duas viaturas diferentes. Ambas as viaturas procuravam o responsável pelo furto de um carro preto, que pertence à cunhada do policial Paulinelle.
A primeira viatura o revistou, pegou seu celular e mandou uma mensagem a sua namorada, fingindo ser o jovem, numa tentativa de ver se Gabriel havia roubado o tal carro. Ao ver que a reação da namorada indicava nenhum envolvimento no furto, essa primeira viatura liberou o estudante, que, assustado, saiu correndo para longe dos policiais que o abordaram. Enquanto corria, uma outra viatura passou no sentido contrário ao jovem. Nessa viatura estariam os policiais Bertoni, Valdemi e Anderson, que, ao verem um jovem preto correndo, já deram seu veredito. As câmeras captaram Gabriel sendo abordado por essa viatura e sendo colocado no porta-malas.
Além disso, há fotografias da placa dessa viatura, capturadas pelas câmeras. As investigações também apontam que os policiais que estavam usando essa viatura eram os que estavam sendo acusados e, até o momento, nenhum dos quatro policiais possui um álibi que comprove sua não participação no crime.
Um dos policiais, inclusive, afirma que estaria fazendo compras num supermercado no horário de seu serviço, porém, não apresenta comprovante de alguma compra que fez nem imagens de câmeras de segurança do supermercado, sendo uma clara mentira. Há evidências de que no período em que descobriram o corpo do jovem, os policiais apagaram os dados de suas contas no Google para esconder o rastreamento de onde eles estariam no dia do crime, algo que não foi possível esconder das investigações.
Nove dias após o desaparecimento de Gabriel, seu corpo foi encontrado com suas mãos presas com uma abraçadeira de nylon (conhecida popularmente como enforca-gato), objeto usado tipicamente pela polícia.
Portanto, sabe-se que foi a polícia que matou o jovem, sabe-se qual foi a viatura e quais policiais estavam nela. Há registros de ligações entre os policiais no dia do crime e também o rastreamento de seus celulares apontam que eles estavam nas proximidades do local do assassinato de Gabriel, mesmo sendo policiais lotados em outro munícipio.
Luta por Justiça
Graças a toda a mobilização e pressão popular, o caso de Giovanne Gabriel sempre será lembrado como um dos poucos que chegou até o estágio do julgamento de policiais.
Em todos os bairros e favelas de Natal, o povo pobre sabe quem é Gabriel e se solidariza com a dor que sua família passa diariamente.
Desde as passeatas no Guarapes, em 2020, até os dias de hoje, foi possível conquistar o júri popular e cobrar algum julgamento dos assassinos. A luta para responsabilizar os executores ainda continuará. Todas as provas indicam o envolvimento dos policiais no crime, logo, é necessário cobrar para que o julgamento ocorra em instâncias superiores.
Matéria publicada na edição nº 295 do Jornal A Verdade