Para os estudantes da UFRN, o mercado de trabalho educacional é impraticável e está cada vez mais distante da realidade potiguar. Com políticos se escondendo na câmara e votando pela precarização das carreiras de professores, o atual estado das licenciaturas no Rio Grande do Norte (RN) reflete a expectativa do povo.
João Romeu | Redação RN
EDUCAÇÃO – Com projetos de lei que atuam para extinguir a carreira dos professores, como a PLC 25/2023 em Natal, os dados de licenciandos e licenciados da capital potiguar expressam significativamente o resultado de políticas de sucateamento do campo dos profissionais de educação, refletidas em números alarmantes de esvaziamento dos cursos da área de ensino.
Em nível municipal e estadual, as consequências da desvalorização da carreira dos professores já se perpetuam. Com um déficit de 50% de professores na rede pública e a falta de concursos e cursos que verdadeiramente capacitem os profissionais licenciados, os governantes locais optam por boicotar os trabalhadores da educação com políticas públicas que criam uma ‘terceira carreira’ com condições mais abusivas e exploratórias do que as primeiras criadas.
Por fatos assim, em 2022, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão de pesquisa vinculado ao congresso nacional) relatou que, no Brasil, pelo menos 58% dos alunos de licenciaturas abandonaram seus cursos.
Os dados são alarmantes, pois apresentam os índices mais elevados da década, mostrando que sem os investimentos adequados e sem a priorização da carreira e do bem-estar dos trabalhadores, enfrentaremos um grave déficit nacional de profissionais das licenciaturas nos próximos quinze anos. Promovendo ainda mais fragilização da educação nacional, tanto para os profissionais, mal remunerados e mal preparados, como para quem estuda, com uma formação precária.
A realidade dos estudantes
E com a chegada em uma universidade sucateada, os estudantes das licenciaturas no Rio Grande do Norte (RN) se sentem cada vez mais incapazes e desmotivados para encarar o mercado de trabalho. “Eu vim de Rondônia para Natal com uma ideia de uma universidade desenvolvida e inclusiva e, na prática, encontrei um espaço sem estrutura e políticas de permanência que favorecessem qualquer tipo de profissional em formação. Não tive ilusões sobre o que é ser professor no Brasil, mas quando temos um presidente que diz pautar as universidades públicas como prioridade, mesmo assim, por exemplo, temos cursos de licenciatura com 4 formandos no final do ano. Fica claro que só o povo vai lutar pelo povo, por essa revolta que quero me formar e me sindicalizar, lutar plenamente pelo que conquistei em cinco anos de curso”, diz Iuna Brasil, estudante de Letras e militante do Movimento Correnteza.
Os cursos de Letras são alguns dos cursos com maior evasão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (como Francês com apenas 4 formandos no ano de 2023), e são vários motivos para isso: falta de políticas e projetos de permanência estudantil; residência universitária negligenciada e concorrida, atraso no pagamento e baixa remuneração das bolsas e auxílios que não atingem sequer um salário mínimo; espaço escasso no mercado de trabalho e baixa manutenção dos direitos trabalhistas.
O Movimento Correnteza na luta pela permanência estudantil, garantiu aumento de 75% das bolsas de assistência na UFRN em maio de 2023. A mobilização dos estudantes garantiu o reajuste das bolsas que estavam defasadas há muito tempo.