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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Diário do interior: a juventude e o trabalho na agricultura familiar

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A agricultura familiar é a base da economia no interior do Brasil. Em Paranatama, município do agreste pernambucano, isso também é uma realidade. O jornal A Verdade entrevista Francisco Abilio, sindicalista e trabalhador da agricultura familiar.

Raul Carvalho Herculano | Paranatama – PE


BRASIL – No interior do Brasil a base da economia é a agricultura familiar, responsável por produzir alimentos, movimentar a economia e o comércio em 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, sendo a ocupação de 70% dos brasileiros no campo, segundo dados de 2018 do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Esta realidade não é diferente em Paranatama, município do agreste pernambucano, que conta com uma população de 13.824 habitantes. Para compreender melhor a importância da agricultura familiar e a sua relação com a juventude do campo, o jornal A Verdade entrevistou Francisco Abilio, agricultor desde os 7 anos, tendo trabalhado há mais de 50 anos na agricultura familiar, além de ser sindicalista atuando no Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar de Paranatama – SINTRAF.

Abilio coloca que a maioria das propriedades da região nordeste do Brasil são pequenas, de pequenos agricultores. Estes são responsáveis pela maioria da produção, apesar de terem poucas terras em comparação aos poucos grandes agricultores. “Todos os produtos que chegam nas feiras livres das grandes cidades vem da agricultura familiar”, destaca Abilio.

A Verdade – O que é produzido aqui em Paranatama pela agricultura familiar?

Abilio – Aqui é plantado milho, feijão, mandioca, feijão-de-corda, fava… As frutas que plantamos: tem um pouco de laranja, melancia. Aqui a força maior está produzindo milho feijão e mandioca, outra parte que também é grande aqui é o criador de bovinos, caprinos e suínos, para completar a subsistência do homem do campo.

Para onde vai essa produção?

São vendidos nas feiras no Posto Alto da Serra, Capoeiras, Garanhuns, Saloá e aqui mesmo em Paranatama também. Parte da produção vende aqui e também tem o programa do PAA, que as prefeituras compram o produto da agricultura familiar para manter as escolas, creches, hospitais. 

Quais são os principais problemas que a agricultura familiar enfrenta? 

Um problema que a agricultura familiar enfrenta no dia a dia é a pouca terra na mão de muitos agricultores, terra com pouca adubação, pouca condição de adubar as terras. Outro problema sério aqui é o agricultor familiar que não tem condição de comprar adubo para adubar as terras para dar uma boa produção. Falta apoio financeiro e incentivo para a produzir mais. 

Hoje em dia, o agricultor familiar trabalha na sua própria terra ou ele trabalha de rendeiro em algumas outras terras?

Não, a maioria trabalha nas suas próprias terras, a maioria. Outros trabalham nas terras de outras pessoas, pagam uma renda, mas são poucos. A maioria aqui são filhos de agricultores familiares e são agricultores familiares. Aquelas pessoas que estão estudando, se formando, crescendo, que não querem ficar na agricultura vão logo para outra região, para outro estado do Brasil, vão cumprir seus estudos que aprenderam lá, fora da agricultura familiar. É por isso que existe uma queda grande na agricultura familiar, a maioria dos filhos de agricultores não está para viver na agricultura, aí vão embora para as grandes cidades.

Os jovens se interessam em continuar trabalhando no campo? 

Uns se interessam, outros não. Após se formar, adquirir conhecimento, eles vão para as grandes cidades do Brasil, procurando empregos melhores, para ter mais renda. Outros se formam, aí vão para as grandes fazendas, onde existe a plantação de cana-de-açúcar, onde existe o desenvolvimento da agricultura através dos grandes fazendeiros. Os jovens vão trabalhar pra eles em busca de uma renda melhor.

Como que você acha que vai ser o futuro da agricultura familiar aqui no Brasil? Ela vai continuar crescendo, ou pode perder espaço para o agronegócio ou a agricultura extensiva?

Não. Veja a situação: o agronegócio está tomando controle de várias coisas na região. E aqui o problema que tem é que nem todos têm a terra para produzir. Estuda, se forma, se prepara, mas nem todos têm a terra para trabalhar. 

O que você acha que pode ser feito para melhorar a situação geral da agricultura familiar aqui nos municípios, para que a juventude se engaje mais no trabalho e também traga o conhecimento da faculdade para que ele seja aplicado na região? 

O que pode fazer, deve ser feito, é as pessoas com conhecimento, trazer e fazer o intercâmbio, repasse de conhecimento para os outros, para sobreviver na agricultura familiar, sem precisar de se ir para fora. Porque muitas pessoas chegam, estudam, se preparam, então após ter iniciado a aprendizagem ele vai arrumar um meio de sobreviver se submetendo aos empresários. Nas nossas terras devemos plantar alimentos, ver os trabalhadores equipados com enxadas. Agora, trabalhando em terras miúdas e inférteis, quando tem a terra pra plantar, fica difícil. Nós já somos responsáveis por alimentar toda a nação, imaginem o que seriam capazes os nossos camponeses se tivessem acesso a terras boas, assistência técnica?

Agronegócio sufoca os trabalhadores

A situação que Abílio fala vai além da agricultura familiar, afeta todos os trabalhadores do campo. Segundo dados do PNAD divulgados em 2009, considerava que em todo o Brasil havia um contingente de 15,7 milhões de pessoas trabalhando na agricultura, passou para 8 milhões em 2019, o equivalente a 11% da população da época. Destes, 59% não têm carteira assinada e trabalham na informalidade.

Há ainda milhões de desempregados no campo espalhados por toda a nação que só conseguem trabalho na época das colheitas quando há maior demanda por trabalhadores nas grandes fazendas, sendo obrigados a viverem uma vida de perrengue no período de entressafras.

Curiosamente, esse cenário ocorre enquanto o agronegócio bate recorde de lucros. Ao automatizar o trabalho com máquinas modernas, dispensa de grande parte da mão de obra. Assim, ao concentrar a terras em poucas mãos, obriga o povo do campo – principalmente a sua parcela mais jovem – a se submeter a um salário de fome ou tentarem a sorte nas capitais por não terem de onde tirar o próprio sustento em sua terra natal.

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