Por todo o país, mulheres que são mães estão se organizando para lutar com o Movimento de Mulheres Olga Benário e a Unidade Popular. Organização coletiva deve ser um apoio à militância dessas mulheres contra o machismo e o capitalismo
Indira Xavier e Larissa Mayumi*
Toda mãe é comunista
Dividem o pão igualmente
E o carinho também
Só são felizes no mundo
Se os filhos estiverem bem
A cada um, conforme a necessidade
De todos, sem fazer lista
No fundo, no fundo
Toda mãe é comunista
(Pedro Laurentino, poeta e dirigente da UP)
A poesia acima ilustra uma linda qualidade sempre valorizada nas mulheres que são mães. Esta e outras qualidades não são, porém, instintos, e, se verdadeiramente valorizadas, poderiam assegurar um mundo sem exploração, violência e miséria.
O sentido de justiça e afeto profundo por outro ser proporcionado pela maternidade, quando direcionado para a organização da classe trabalhadora, potencializa e amplifica uma luta que é necessária para a real libertação de toda a humanidade. Refletindo sobre isso e, olhando os exemplos que existem entre as mulheres mães e militantes dos diversos movimentos, sobretudo, as organizadas a partir do Movimento de Mulheres Olga Benario, é que preparamos esta matéria.
Historicamente oprimidas e exploradas e com uma imensa sobrecarga, as mulheres trabalhadoras sempre lutaram coletivamente e, através de mobilizações, garantiram conquistas importantes como o Sistema Único de Saúde (SUS), as creches e as escolas públicas. Mesmo nos tempos mais sombrios, onde eram perseguidas pela ditadura militar fascista, as mulheres organizadas construíram o Movimento Contra o Custo de Vida, recolhendo milhares de assinaturas contra o aumento do custo de vida e a carestia. Lutaram e ainda lutam para encontrar seus filhos sequestrados, reivindicando por memória, verdade e justiça.
Hoje, as mulheres gastam 21,4 horas nas tarefas domésticas por semana, enquanto a média dos homens é 11 horas. “A gente, enquanto mulher, acaba assumindo a maior parte dos serviços de casa, e é uma coisa que a gente automaticamente assume porque a gente acha que, nesse sistema, o homem não tem jeito pra essas coisas”, afirma Marta Domingues da Silva, militante do Movimento Luta de Classes (MLC) e mãe de Sarah Domingues, militante da União da Juventude Rebelião (UJR) que foi assassinada no dia 23 de janeiro, em Porto Alegre (RS), enquanto fazia sua pesquisa de campo para finalização do seu curso de Arquitetura.
Pesquisas apontam que essa sobrecarga física e mental, gerada pelo acúmulo de tarefas que as mães têm na sociedade, associados à pobreza, trabalhos precarizados e ao desemprego, adoecem mais as mulheres que outras parcelas da população. Elika Rodrigues, da Unidade Popular (UP), conta como foi se organizar e lutar ao lado de seu filho, militante da UJR: “Lutar ao lado do meu filho me dá a certeza de que ele está no caminho certo e de que, de alguma maneira, eu fiz um bom trabalho em sua formação pessoal e isso me enche de orgulho. A minha perspectiva, após conhecer a militância, é a melhor possível. Ter esperança que dias melhores virão me dá força pra lutar, estudar e correr muito atrás da transformação social”.
Mesmo caminho seguido Swami Okubo, que passou a ter contato com o Movimento Olga Benario após sua filha começar a se organizar e, quando o movimento construiu a Ocupação Cleone Santos, próximo à sua casa. Swami é exemplo de como a visão das mulheres trabalhadores pode ser transformada com a luta: “Mudou tudo, a visão que eu tinha era uma visão conformista. Embora eu acreditasse no socialismo, mas sempre achei que fosse um pouco utópico. Aí, na militância, eu vi que é possível. Porque eu imaginava que seriam os políticos, que viria lá de cima e que alguém fizesse alguma coisa pra classe, pros proletários. Por isso, eu achava que utópico. Depois, na militância, que eu vi que é a própria classe trabalhadora, são os movimentos e as lutas da classe trabalhadora, que vai vir da massa trabalhadora mesmo, e não ficar esperando que vai vir lá de cima”.
Outro exemplo de que as mães são revolucionárias, é o caso de Marlene Goya, que buscava se organizar em grupos feministas e, em conversa com seu filho, militante da UJR, passou a conhecer o Movimento de Mulheres Olga Benario: “Um dia, conversando com meu filho, questionando os grupos feministas que apenas discutiam ascensão das mulheres nos postos de trabalho, competindo entre os homens e entre elas próprias, e que eu não achava que isso era movimento feminista. Meu filho me indicou conhecer a Casa Laudelina de Campos Melo, do Movimento de Mulheres Olga Benario”.
Temos hoje o exemplo de várias mães que passaram a se organizar a partir do exemplo de seus filhos, como o caso de Adriana Rio, da Unidade Popular: “Somente resolvi me organizar politicamente após meu filho me inspirar com seu exemplo transformador, pois ele ingressou na universidade e começou a militar no movimento estudantil, do Correnteza à UJR e me apresentou o Movimento de Mulheres Olga Benario. Me filiei à UP e estou organizada, lutando junto com ele, nos últimos dois anos. Uma experiência muito profunda de resgate das nossas origens revolucionárias. Meu sentimento é de orgulho, admiração e gratidão, aprendo muito sobre o mundo em transformação com meu filho, mas, sobretudo, com toda a juventude, e me sinto energizada pela vivência no método do marxismo-leninismo. Cada vez mais convencida que nossa tarefa histórica é acreditar e lutar pela transformação radical da sociedade capitalista, que tão perversamente nos oprime, explora e adoece constantemente”.
Assim, construir nas mulheres mães, a partir de sua organização, a perspectiva de acabar com a atual crise capitalista, em que milhões passam fome, falta emprego, aumenta a violência, é fundamental.
Marta finaliza reforçando a importância de chamar as mães nesta luta: “É muito importante as filhas e os filhos tentarem levar a mãe para a militância. Por muitas vezes, as mães têm muita resistência a militar, de participar, até por conta da sobrecarga de trabalho que a mulher já tem. Mas eu acho que os jovens que tão na militância têm que fazer esse esforço para essa luta de construção do socialismo. Lutar do lado da Sarah era muito gostoso! Porque é muito bom você ter o mesmo ideal que a sua filha, porque não só por ser filha, mas por a gente ver uma realidade diferente, lutar por um mundo diferente daquele que a gente estava antes. Não porque a gente saiu dele, mas porque só de começar a ter esse entendimento, o nosso mundo já muda. E quando você luta por essa realidade diferente, quando você tá ao lado da sua filha, que era o meu caso, é melhor ainda, porque é uma coisa que você está construindo pros seus filhos também! Quando você é mãe, você luta pensando nos seus filhos, mais nos filhos do que em você mesma. Dá mais coragem, é uma força a mais!”.
*Indira Xavier e Larissa Mayumi são da coordenação do Movimento de Mulheres Olga Benário
Matéria publicada na edição nº 297 do jornal A Verdade