Em junho, os petroquímicos gaúchos realizaram uma importante greve que enfrentou a gigante Braskem e conquistou aumentos nos salários e benefícios da categoria. O jornal A Verdade entrevistou uma das lideranças dos trabalhadores do Polo Petroquímico do RS para saber mais do movimento grevista
Redação RS | Triunfo (RS)
TRABALHADOR UNIDO – Em junho, os trabalhadores do Polo Petroquímico do Rio Grande do Sul realizaram uma importante greve para lutar por salários mais dignos e melhores condições de trabalho. A paralisação foi encabeçada realizada pelos operários do distrito industrial de Triunfo (RS), organizados pelo SINDICONSTRUPOLO, principal sindicato da cidade. Após seis dias de máquinas paradas e muita mobilização, os trabalhadores tiveram uma série de conquistas, que demonstram a importância das greves na luta sindical.
Entre as vitórias do movimento grevista dos petroquímicos, estão um reajuste de 5% no salário-base, aumentos de R$100 no vale alimentação, R$60 no café da manhã e R$50 na cesta natalina, além do abono total de todos os dias que durou a greve.
Entrevistamos um dos trabalhadores que compunha a greve e que preferiu não se identificar. Em entrevista o trabalhador aponta as reivindicações da greve e as condições de trabalho que alguns trabalhadores enfrentam.
O jornal A Verdade entrevistou uma das lideranças dos petroquímicos grevistas, que, para evitar retaliações patronais, preferiu não se identificar. Na conversa, ele faz um relato da greve, das más condições de trabalho que levaram à paralisação e das ações das empresas para tentar calar a luta dos trabalhadores.
Jornal A Verdade – Quando começou a greve dos petroquímicos do RS?
Trabalhador petroquímico do RS – A nossa greve teve seu início na sexta-feira, dia 21 de junho, e durou quase uma semana. Entretanto, as negociações já haviam se iniciado em maio, o mês anterior ao dissídio e ao reajuste salarial que é feito com base na inflação.
Quais foram as reivindicações da greve?
Nossa entidade sindical, o SINDICONSTRUPOLO, reivindicou um aumento de 6,5% do salário base dos funcionários, R$150,00 a mais no vale-alimentação que atualmente é de R$750,00, café da manhã para os funcionários, que hoje não recebem o café na empresa, e um aumento de R$100,00 reais na cesta natalina, que atualmente é de R$150,00. [Nota da Edição: as conquistas que o movimento alcançou estão no início da matéria]
O que motivou a greve dos petroquímicos do RS?
A greve se iniciou porque as empresas se negaram a acatar as propostas do sindicato, que realmente cobririam as necessidade dos trabalhadores.
Em nova proposta, as empresas ofereceram um aumento de 2,37% do salário base, que elas alegavam que estaria de acordo com a inflação segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e 4% de aumento no vale-alimentação. Depois, propuseram o aumento de 3,75% no salário e, por último, puseram na mesa um aumento de 4,5% no salário base, mas mantendo o valor do vale-alimentação e sem oferecer café para os funcionários e nem aumento na cesta de Natal.
Esses mesmos empresários levaram a greve ao 4° Tribunal Regional do Trabalho (TRT), acusando ilegalidade no movimento, mas o sindicato assegurou na Justiça a legitimidade da greve.
As empresas também alegaram que não podiam acatar as reivindicações por terem sido afetadas pelas enchentes no RS e depois vieram com a conversa de que a Braskem não autorizaria os aumentos exigidos pelo SINDICONSTRUPOLO.
Conte um pouco sobre o andamento da greve e como as empresas agiram frente a ela.
Antes do seu início, o sindicato se mobilizou para convocar os trabalhadores por ele representados para anunciar a greve. Com a concordância de todos, o SINDICONSTRUPOLO anunciou a paralisação às empresas com 48 horas de antecedência, conforme pede a legislação.
No primeiro dia, os funcionários ocuparam a frente da Braskem no acesso principal, sem trabalhar mas sem bloquear os acessos. Eles almoçaram na empresa nesse dia.
No segundo dia da greve, os funcionários tiveram transporte para ir à empresa, mas não tiveram transporte para voltar para suas casas e nem almoço, pois a Braskem não autorizou os trabalhadores da cozinha a fazer as refeições dos demais funcionários e nem o funcionamento do transporte de retorno. Todos os outros dias se seguiram iguais ao segundo.
As empresas também ameaçaram descontar os dias da paralisação nos salários dos operários, o que é ilegal. Houve ainda ameaças de demissões e advertências, entre outras medidas punitivas. Essas ameaças chegavam aos trabalhadores através de mensagens de texto, tentando coagi-los a trabalhar.
A mando das empresas, a Brigada Militar esteve presente no local da greve desde o primeiro dia de mobilização.
Quais são as condições de trabalho na empresa em que você está?
A empresa em que eu trabalho é suja. Ela contrata como ajudante e nos paga o salário dessa função, mas o funcionário faz o serviço de montador. Por outro lado, a verba que a empresa recebe da Braskem é para pagar o montador profissional, mas nos pagam só o salário de ajudante.