Formadas pelos quilombos de Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão, as comunidades quilombolas de Brumadinho lutam para preservar sua cultura. Após o crime da Vale em 2019, continuam lutando pela preservação de suas terras, como a comunidade de Tejuco, afetada principalmente pela escassez de água.
Coletivo Cacique Merong | Minas Gerais (MG)
LUTA POPULAR – Há muito tempo, as comunidades quilombolas de Brumadinho, em Minas Gerais, são exemplos de luta e de resistência contra a opressão. No passado, o povo negro resistiu à escravidão imposta pelo sistema capitalista-colonial. Ao longo dos séculos, muitos foram os desafios, os enfrentamentos e as conquistas, e ainda hoje as comunidades vivem ameaçadas pela mineração predatória e resistem.
Quatro comunidades quilombolas que formam uma só família num grande território, como afirmam os povos dos quilombos de Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão. Uma trajetória marcada por diversas formas de resistência, manifestações culturais e históricas, e autonomia para decidir sobre processos que tocam diretamente as comunidades. Cada uma dessas comunidades possui características próprias e podem ser vistas e ouvidas de acordo com sua realidade.
Neste território, as primeiras construções foram feitas de pau a pique pelos negros escravizados que fugiram das fazendas dos Martins. Com o passar dos tempos, essa grande comunidade se fortaleceu, assim como os vínculos com a terra e os modos de vida ali presentes. Os povos quilombolas dessas quatro comunidades se organizaram, utilizando de sua força e de seu conhecimento ancestral, defendendo seu território e obtendo muitas conquistas. A partir do ano de 2006, deu-se seguimento às conquistas de certificação enquanto Comunidades Quilombolas. Houve também a suspensão do licenciamento de uma mineradora que, em verdade, os expulsariam de suas terras. Evitaram, assim, que um crime como o da Vale ocorresse primeiro naquela região.
Capital é barrado pelas comunidades
Durante mais de um século, apesar do fim do regime de escravidão, o povo negro da região enfrentou diversas tentativas de encurralamento. Ausência de políticas públicas, negação da tão importante reparação histórica ou, ainda, um cenário de violências e de exclusão causado pela atuação racista dos governos.
Segundo os moradores, funcionários da mineradora Ferrous, adquirida mais tarde pela criminosa Vale S.A, com o apoio de funcionários do Município de Brumadinho e do Estado de Minas Gerais, assediaram as comunidades prometendo-lhes “progresso e desenvolvimento”. Contam os moradores que ficaram com receio de serem expulsos do território que tradicionalmente ocupam. A linha férrea que atravessa o território quilombola de Brumadinho, a existência de outras barragens próximas ao Rio Paraopeba, em Congonhas e em Belo Vale, e um programa de Regularização Fundiária executado pela própria Vale, ameaçam ainda a vida das famílias quilombolas da região. Com o crime da Vale, em 2019, centenas de pessoas ficaram ilhadas e membros das comunidades tradicionais tiveram suas vidas terminadas devido ao crime em Brumadinho.
Resistindo, o povo quilombola de Brumadinho conseguiu garantir a preservação de modo de vida tradicional e fez de seu território um território livre da mineração, preservando serras, matas e nascentes. Desta maneira, são um exemplo de resistência em Minas Gerais. E, assim, a luta continua.
Comunidade de Tejuco
A comunidade tradicional de Tejuco, também em Brumadinho, existe há 300 anos, mantendo uma relação de harmonia com as nascentes do local. Com a mineração, num processo que se intensificou com a chegada da Vale nos anos 2000, e se tornou algo absurdo depois do crime de Brumadinho, em 2019, a relação mudou, e a água – um bem precioso e abundante no território – se tornou escassa para a própria comunidade. “As caixas d’água das pessoas passaram a receber apenas lama”, afirma o morador da comunidade Marco Antônio.
As mineradoras dividem a água entre elas. Ao andar pela comunidade, é possível perceber, até hoje, mais de cinco anos depois do crime, engradados de água nas residências das pessoas, que são obrigadas a consumir essa água (deixada pela empresa criminosa), que fica num plástico, muitas vezes expostas ao sol. Um impacto imenso na comunidade e uma sucessão de violações que indignam.
Atualmente, existe uma mineração à seco, muito próxima das casas da comunidade de Tejuco. Essas constatações colocam em evidencia todas as falácias contidas no discurso da “reparação”, e que é necessário dar fim a essa cadeia de exploração! Nossa luta é longa e não começa agora. Nosso povo luta há séculos. Devemos aprender com os que vieram antes de nós e prosseguir no caminho da luta pela liberdade do nosso povo.