Vereadores de direita de São Caetano do Sul promovem campanha de fake news contra a Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes, que acolhe mulheres da cidade. Leia manifesto do Movimento de Mulheres Olga Benario desmentindo as calúnias difundidas pelos fascistas
Redação SP
Na quinta-feira (5/12), o Movimento de Mulheres Olga Benario lançou um manifesto em defesa da Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes, localizada em São Caetano do Sul (SP).
Fundada no último dia 23 de novembro, a Ocupação Alceri Gomes é um espaço de organização popular que homenageia uma metalúrgica negra que lutou contra a ditadura e, assim como as mais de vinte outras casas organizadas pelo Movimento Olga, acolhe mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência.
A Ocupação recebeu forte apoio da vizinhança desde o início, tanto pela importante bandeira que levanta quanto por dar uma função social a um prédio abandonado há mais de três décadas no bairro. Apesar disso, por interesses fascistas, vereadores de direita da cidade e um ex-deputado estadual cassado por machismo têm movido uma campanha de calúnias e fake news contra o Movimento de Mulheres Olga Benario e seu trabalho que salva vidas.
Com o manifesto a seguir, reproduzida na íntegra pelo jornal A Verdade, o movimento rebate a campanha fascista de agressões e apresenta uma série de reivindicações das mulheres de São Caetano do Sul.
NÃO À CRIMINALIZAÇÃO DAS MULHERES QUE LUTAM CONTRA A VIOLÊNCIA!
Manifesto da Ocupação Alceri Gomes – Movimento de Mulheres Olga Benario
No último dia 23 de novembro de 2024. nasceu a Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, organizada pelo movimento de mulheres Olga Benario no centro da cidade de São Caetano do Sul. Essa é a vigésima quarta ocupação do movimento no Brasil e a quinta realizada no ABC Paulista, sendo uma forma de luta justa que tem conquistado, a partir da ocupação de imóveis que descumprem a função social da propriedade, diversas políticas públicas para o combate à violência de gênero, como a criação de secretarias municipais de mulheres e a abertura de espaços de acolhimento para as mulheres em situação de violência, geridas pelo movimento em parceria com Prefeituras, governos estaduais e governo Federal.
A ocupação tem recebido grande apoio da vizinhança: “Vim trazer meus filhos para conhecer a casa, porque vocês do Olga Benario estão fazendo história”, afirmou uma das vizinhas que visitou a ocupação. Também tem realizado acolhimentos desde o primeiro dia, com mulheres que buscaram o apoio na casa para sair da situação de violência em que se encontram. “Eu sofri agressão em um relacionamento abusivo e nunca mais fui a mesma. Mas aqui eu estou me lembrando de quem eu era antes da agressão, da Julia de 6 anos atrás”, afirmou Julia na primeira Assembleia aberta da Ocupação.
Mesmo com apoio dos moradores e realizando um importante trabalho, a ocupação e o movimento de mulheres Olga Benario têm sido atacados com mentiras, calúnias e tentativas de criminalização por parte de vereadores e grupos de extrema direita atuantes na cidade.
Os ataques se iniciaram com a tentativa de invasão da ocupação por um grupo fascista liderado pelo ex-deputado Arthur do Val, que teve seu mandato parlamentar cassado e perdeu seus direitos políticos por sexismo contra mulheres pobres e em situação de vulnerabilidade. Após esse ataque, o vereador e líder do governo na Câmara Municipal Gilberto Costa (Progressistas), solicitou e conseguiu aprovar uma Comissão Especial para “investigar” a ocupação, lançando diversas mentiras de caráter fascista para tentar criminalizar as mulheres, acusando-as de roubo, depredação e até maus tratos contra crianças.
A pergunta que fica é: a quem interessa criminalizar mulheres trabalhadoras que lutam contra a violência de gênero? Onde estão esses vereadores quando as mulheres são assediadas e agredidas na cidade (índice que cresceu oficialmente 12% no último ano, mesmo com estatísticas maquiadas pois muitas mulheres têm atendimento negado em serviços públicos da cidade por não terem uma carteirinha que comprove residência em São Caetano, algo que descumpre a constituição)? Por que esses vereadores não criaram uma Comissão para investigar o Prefeito de São Caetano quando este saiu do Consórcio Intermunicipal do ABC, deixou de financiar as Casas Abrigos e, como consequência, as mulheres de São Caetano deixaram de poder acessar essas políticas regionais?
O fato é que os vereadores Fabio Soares (PSD) e César Oliverias (PSD), presidente e relator da famigerada Comissão Especial, além de Gilberto Costa (Progressistas) e do Prefeito José Auricchio Júnior (PSD) não se importam com a vida das mulheres e querem criminalizar o Movimento de Mulheres Olga Benario por motivos políticos. Prova disso é que diversas movimentações têm sido feitas para acusar a ocupação de crimes com base em mentiras, mas em nenhum momento a Câmara Municipal ou a Prefeitura entraram em contato com as mulheres para dialogar e entender as demandas da ocupação.
Além disso, toda essa movimentação está sendo feita para defender a propriedade privada de um prédio que está há mais de 30 anos abandonado, sem cumprir sua função social, descumprindo a constituição e colocando a população em risco; o dito proprietário sequer conseguiu comprovar a propriedade do imóvel e, por isso, até agora não conseguiu pedir reintegração de posse.
Sabendo da impossibilidade de levar para a justiça o pedido de reintegração de um prédio em situação ilegal, esse grupo de vereadores reacionários têm usado as instituições para defender um patrimônio privado contra o interesse público que deveriam proteger.
Vivemos uma conjuntura política de profundos ataques contra o povo pobre e trabalhador e contra a democracia em nosso país, sendo as mulheres as mais atingidas, pois são as primeiras a perderem direitos e sofrerem com a violência em nossa sociedade. Nesse contexto, a tentativa de criminalizar a organização e a luta das mulheres tem nome: fascismo.
Alceri Maria Gomes da Silva foi uma mulher operária, metalúrgica, uma trabalhadora como as milhares de trabalhadoras que constroem São Caetano, assassinada pela Ditadura Militar, um regime fascista onde o ataque à organização dos trabalhadores era regra. Em um momento em que grupos fascistas tramam um golpe em nosso país, a Ocupação da Mulher Operária é um exemplo de que o povo não abaixa a cabeça contra as injustiças; com esse espírito resistiremos contra a campanha de mentiras promovidas pelos fascistas dessa cidade e defenderemos a vida das mulheres!
Por isso, a Ocupação lança esse manifesto e exige o fim da Comissão Especial que quer nos criminalizar, além de reivindicar:
• Volta imediata de São Caetano para o Consórcio Intermunicipal do ABCDMRR;
• Abertura de uma Tribuna Popular na Câmara de São Caetano;
• Fim das terceirizações e abertura de concurso público!;
• Garantia das Delegacias 24 horas no ABC;
• Garantia de vagas em creches para todas as mulheres trabalhadoras!;
• Pelo fim do assédio no trabalho!;
• Pelo fim da expulsão dos pobres do centro!
Eles defendem a ditadura militar e a tortura e nós defendemos as mulheres operárias que lutam pelo prato de comida para suas crianças, pela moradia e por uma vida digna e livre de violência!
Por nós e por todas as que tombaram,
Alceri Maria Gomes da Silva vive!