A independência financeira das entidades estudantis, principalmente através da política de carteirinhas, é decisiva para sua independência política. Conquistar essa independência é decisivo para levar adiante a luta da juventude
Coordenação Nacional da UJR
A independência política e a independência econômica estão intimamente relacionadas na luta de classes. A independência política envolve a liberdade de expressar suas convicções, as políticas que defende, de forma autônoma. Já a independência econômica refere-se à capacidade de garantir os recursos necessários para transformar essas ideias em ações concretas. Em outras palavras, sem a base econômica, não há como viabilizar a independência política de maneira efetiva.
Para ilustrar melhor esta relação, existe um ditado conhecido no movimento social que diz “quem paga a banda, escolhe a música”. Ou seja, na sociedade capitalista, quem financia algo dita os objetivos ou fins.
Para os Centros Acadêmicos e Grêmios, a lógica se mantém. Entretanto, pelo seu caráter e histórico de luta, as entidades estudantis não se dobraram e, em sua imensa maioria, não aceitaram o financiamento de empresários para arcar com seus compromissos.
No Movimento Rebele-se e no Movimento Correnteza, não faltam exemplos de lutas que a base estudantil organizou. O ímpeto de manifestar é imenso, a vontade é contagiante, e isto é um elemento fundamental. Entretanto, a vontade é o primeiro passo. Para organizar as lutas, é necessário imprimir panfletos e jornais, contratar carro de som e visitar escolas distantes. Tudo isto exige recursos financeiros. E é neste quesito que encontramos os maiores desafios.
Existem várias formas de as entidades estudantis levantarem recursos próprios, como rifas, eventos, apoio de professores, etc. Todavia, estas são ações pontuais, que, por si, não garantem uma entrada regular de recurso que dê segurança para arcar com os desafios. A Carteira de Estudante se apresenta como o instrumento mais importante e basilar.
É preciso ver de maneira ampla. A carteira é, em primeiro lugar, a maneira como o/a estudante financia sua entidade; esta é a questão fundamental. Ela é um termômetro da confiança e do respeito que a entidade tem com a massa. Ela é a entrada mais segura de recursos, que só depende do/da estudante.
Foi justamente por isso que o governo fascista mirou seu ataque e tentou desarticular o movimento estudantil brasileiro a partir da falsa carteira digital de estudante. Sabendo desta força, o fascista Bolsonaro esbravejou ao assinar a Medida Provisória: “Essa lei de hoje, apesar de ser uma bomba, é muito bem vinda, vem do coração. E vai evitar que certas pessoas, em nossas universidades, promovam o socialismo”.
Portanto, não podemos marcar bobeira, devemos ter lutas mais firmes e consequentes e entidades estudantis mais fortes, capazes de conquistar mais direitos e, para isso, precisamos de um financiamento mais vigoroso das lutas. Apesar disso, a carteirinha de estudante ainda é subestimada. Por vezes, entidades fazem a propaganda da carteirinha, com o foco central na comparação do preço ou reduzindo seu papel como um simples método de obter descontos em serviços.
É o que chamamos de “defensiva”. Rebaixamos nossa política, colocando na frente receios que não se comprovam na realidade, além de subestimar a consciência dos estudantes que as entidades representam. A verdade é que a ampla maioria da massa estudantil sonha com melhores condições de estudo, concordam que a luta é o caminho para mudar a educação e que, sem ela, mesmo seus objetivos individuais não podem ser alcançados. É por isso que nas recentes eleições de norte a sul do Brasil os programas das chapas mais combativas vencem de maneira arrasadora.
A carteira de estudante é a materialização do vínculo dos estudantes com sua entidade representativa. Assim como um trabalhador se filia a seu sindicato, os estudantes querem ser “estudantes de carteirinha” e materializar a representação daquela entidade estudantil, em especial as que desenvolvem as lutas. Além do mais, todos valorizam o imenso trabalho feito pelas lideranças estudantis, que fazem suas tarefas de maneira voluntária, sacrificando dias letivos e tempo com amigos para organizar mais atividades e, por isso, veem na carteirinha uma maneira de financiar a luta que também é sua.
O financiamento é apenas parte desse processo e podemos ter mais ousadia, desafiar a consciência da juventude brasileira a realmente responder aos ataques à educação com um contragolpe, manifestações, greves, marchas que nascerão mesmo das menores pautas, mas que nos levarão até a vitória.
Matéria publicada na edição impressa nº 308 do jornal A Verdade