Em nova paralisação, entregadores exigem melhores condições de trabalho, auxílio em caso de acidentes e reajuste nas remunerações oferecidas pelos aplicativos.
Estefani Maciel | São Paulo (SP)
Esta segunda-feira (31/3) marca uma nova etapa na luta dos trabalhadores que realizam entregas por aplicativos. Entregadores de todo o Brasil realizaram manifestações durante o dia que reuniram milhares de trabalhadores, mirando especialmente no iFood, empresa que atualmente controla 80% do mercado de delivery no país.
O aplicativo controlado pela holding holandesa Prosus, que comprou suas ações em 2022 por R$9,4 bilhões, repassa valores irrisórios aos trabalhadores que estão em sua linha de frente. Em média, um entregador recebe R$1,50 por quilômetro rodado e R$6,50 por rota realizada. Sem garantias de seguros em caso de roubo, suporte para acidentes ou qualquer oferta de alimentação, nenhum centavo do lucro anual de R$7,1 bilhões do iFood é revertido aos entregadores. Muito pelo contrário, os investimentos giram apenas entre os grandes monopólios, como o Grupo Globo, que recebeu R$47 milhões em cota de propaganda para o Big Brother Brasil 2024.
“Quanto custa o óleo na moto dos caras? Quanto custa a manutenção no câmbio de uma bike?” questionou Renato* ao jornal A Verdade durante a manifestação em São Paulo. “Nós, bikes e motocas, sofremos na chuva e no sol. O valor que é pago a nós não compete com o que a gente vive”, afirmou.
Gabriel*, entregador de Guaianases, na zona leste de São Paulo, declarou que “eles lucram 7 bilhões, não sou eu que tô dizendo, tá em todo canto aí pra vocês verem. Porque nós, os entregadores, estamos passando fome? É porque eles só pensam no bolso deles. Tem um mano lá na Cidade Tiradentes que sofreu acidente, se não fosse a gente se mobilizar pra levar cesta básica pra ele, tava ele e a mulher dele passando fome.”Foto: Wildally Souza (JAV/SP)
Luta pela redução da jornada de trabalho
Demonstrando também a imensa solidariedade entre a classe trabalhadora, os entregadores também afirmaram que a nova greve está intrinsecamente ligada na luta pelo fim da escala 6×1, pauta que ganhou projeção nacional nos últimos meses e que já mobilizou trabalhadores no setor da indústria, com a greve da PepsiCo e, mais recentemente, trabalhadores do comércio e varejo, em ato organizado pela Unidade Popular no último dia 19 de março, no Shopping Itaquera, zona leste de São Paulo.
“De fato, eu posso levar meu filho na escola às 11h e ligar o aplicativo às 11h30”, disse o entregador Nicolas Santos. “Então, você acaba construindo sua vida em torno daquilo e nunca mais se imagina dentro de um ambiente fechado onde você não pode, por exemplo, levar seu filho na escola.”
Essa falsa flexibilidade escancara um problema ainda mais profundo. Para poder receber um valor que possa pagar as contas, mesmo sem horário obrigatório, é necessário fazer longas jornadas. É o que relata Amanda*, esposa de um dos entregadores presentes na manifestação. “Tem vez que a gente passa dias só se vendo de madrugada e às vezes o sono é tão grande que ele passa mal”. Gestante, Amanda também nos disse que a indignação é grande: “Os caras do iFood tão lá tudo engravatado e com a cara limpa, não tem um negro, porque os pretos tão lá em cima da Honda, da 160, pra ganhar o dinheiro deles!”
A manifestação dos entregadores em São Paulo seguiu até o MASP, onde realizaram intervenções denunciando a violência que a empresa promove pela falta de suporte aos entregadores mortos em acidentes e assaltos. Em seguida, os entregadores foram até a sede do iFood, em Osasco, com o objetivo de pressionar a empresa a negociar com a categoria.
A proposta dos entregadores foi de que algum representante da empresa fosse até o trio e se comprometesse a realizar essa negociação, porém, a empresa acionou a polícia para negociar a saída dos entregadores e que 10 lideranças fossem até a sede para conversar sobre as reivindicações. No fim da tarde de hoje, em nota oficial, o iFood informou que “não se compromete em atender as reivindicações, mas que continuará dialogando com os trabalhadores.”

O povo quer luta
Os últimos meses demonstram o intenso anseio da classe trabalhadora em construir uma nova sociedade, livre da exploração, com condições dignas para comer, trabalhar e viver.
Em todo Brasil, e no mundo, trabalhadores dos mais variados setores estão mobilizando suas categorias em busca de melhores condições de trabalho, remunerações adequadas e jornadas justas.
O que está sendo desenhado para a classe operária é uma nova jornada de lutas, cada vez mais acirradas, rumo a uma greve geral que marcará uma divisão de águas entre a conjuntura de exploração capitalista e a construção da sociedade socialista.