Enquanto lucra com a guerra, a CBC enfrenta denúncias de más condições de trabalho e baixos salários em sua fábrica de Ribeirão Pires (SP), onde operários relatam exploração e cortes em benefícios.
Sophia Manzano e Redação SP
BRASIL – Fundada em 1926, a (CBC) é a maior produtora de armas e munições do Brasil e possui praticamente o monopólio do setor no país. Atualmente, a CBC é a maior fornecedora de munição para as Forças Armadas Brasileiras e tem crescido sua produção para abastecer exércitos e milícias pelo mundo.
Durante sua história, a companhia comprou empresas do mesmo ramo na Alemanha, Bélgica e República Tcheca, além de estabelecer centros de distribuição em potências como os EUA e a própria Alemanha. Na década de 1960, com o aumento da exportação para os EUA, a CBC chegou a exportar 1,5 milhão de armas em apenas um ano.
Destino da produção
A empresa é hoje uma das maiores fabricantes de calibres de armas curtas do mundo. Além de produzir armas para todo o Brasil, exporta para mais de 65 países (70% da sua produção). Segundo Paulo Ricardo Gomes, diretor Comercial & Marketing da companhia, os conflitos imperialistas que têm se alastrado pelo mundo, como na Ucrânia e na Palestina, têm representado um “crescimento na demanda”, principalmente de munições de pequenos calibres. Ainda segundo o diretor, “os próprios países membros da Otan estão se reorganizando em questões bélicas”.
A relação entre a empresa e os conflitos internacionais é antiga. Há décadas, as munições da CBC são utilizadas por membros da Otan. Seus cartuchos foram utilizados em conflitos como Guerra da Bósnia (1992 – 1995), Guerra do Kosovo (1998 – 1999), Guerra do Afeganistão (2001 – 2021), Guerra do Iraque (2004), Guerra Civil na Líbia (2011), conflitos no Oriente Médio e, mais recentemente, na guerra na Ucrânia e no genocídio do povo palestino.
O que o passado e o presente nos mostram é que, para uma empresa como a CBC, as guerras imperialistas, os genocídios e massacres que se espalham pelo mundo são oportunidades de expandir seu mercado e enriquecer cada dia mais seus acionistas.
Isso fica claro quando, em respostas ao aumento dos conflitos no mundo e a ameaça de uma terceira guerra mundial, a companhia se organiza para aumentar em 30% sua produção até junho deste ano.
Exploração dos trabalhadores
A empresa alega estar em crise, com a diretoria dizendo que este será um ano difícil economicamente, porém aumenta sua produção com o desenvolvimento dos conflitos e invasões pelo mundo.
Enquanto isso, ao realizar a venda do jornal A Verdade para os trabalhadores na porta da empresa, nossos brigadistas recebem denúncias sobre as péssimas condições de trabalho e os baixos salários.
Os trabalhadores da CBC produzem tudo, mas os patrões ignoram sua saúde. Os 2.500 operários denunciam a péssima qualidade do convênio médico disponibilizado pela empresa, além da falta de áreas dignas de descanso e jornadas exaustivas, incluindo nos turnos da madrugada.
Enquanto as vendas de armas e munições crescem vertiginosamente, os donos da CBC retiram direitos dos trabalhadores e veem seus lucros aumentarem com o assassinato de milhares de pessoas no Brasil e no mundo.
Na unidade de Ribeirão Pires (SP), mesmo atingindo quase 100% da meta de produção, a empresa ofereceu uma Participação nos Lucros R$ 400 menor que o acordado, economizando cerca de R$ 1 milhão para os acionistas. Fica evidente: a exploração abusiva dos operários serve apenas para enriquecer os patrões.
A verdade é que a luta contra o imperialismo é a mesma luta contra a exploração e a violência enfrentada pelos trabalhadores em nosso país. As armas e munições brasileiras, produzidas a partir da exploração dos nossos trabalhadores, matam crianças na Palestina e também assassinam diariamente jovens nas periferias do nosso país.
Por isso, é fundamental estarmos nas portas das fábricas, apresentando o jornal A Verdade, ouvindo as denúncias dos trabalhadores e convocando-os para se organizarem na luta por uma sociedade socialista, que acabe a promoção de guerras e na qual os direitos dos trabalhadores sejam garantidos verdadeiramente, com salários dignos, redução das jornadas de trabalho e a produção seja feita para atender as necessidades do povo.
Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308