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sexta-feira, 18 de abril de 2025

Ocupação Chaguinhas: “território livre da fome” em São Paulo

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Nasceu em março a Ocupação Chaguinhas em São Paulo, organizada pelo MLB para lutar contra a carestia e o alto preço do aluguel.

Guilherme Arruda | São Paulo (SP)


Neste último mês de março, dezenas de famílias ocuparam um imóvel abandonado há mais de uma década no Centro de São Paulo e fundaram a Ocupação Chaguinhas, a mais nova ocupação organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). 

Na capital paulista, milhões de pessoas trabalham em jornadas exaustivas e, mesmo assim, não conseguem pagar o aluguel e se alimentar adequadamente. Por isso, a ocupação nasce para ser mais uma trincheira da luta pelo direito à moradia e alimentação digna no Brasil. 

Luta contra a fome

Desde sua fundação, a Ocupação Chaguinhas exibe na fachada do prédio uma grande bandeira em defesa da redução do preço dos alimentos. “A verdade é que, hoje, o salário de uma trabalhadora não dá para alimentar toda a sua família. Isso acontece principalmente por conta da grande alta dos alimentos. Temos um governo que está beneficiando o agronegócio e o latifúndio, em vez da grande maioria da população”, denuncia Victória Magalhães, da Coordenação Nacional do MLB. Reivindicando-se um “território livre da fome”, a nova ocupação já nasceu contando com uma cozinha coletiva, que garante que nenhuma família ficará sem ter o que comer.

“Aqui, encontrei uma paz mental, porque quando vou dormir não preciso ficar pensando em como vou pagar o aluguel. Mas também encontrei uma paz física, porque temos alimentação coletiva e não vou para a cama com fome. A maioria dos imigrantes, como eu, vem a São Paulo procurando um futuro melhor. Aqui, encontrei pessoas que lutam por uma vida digna não só para si, mas para todos”, relata Régis González, trabalhador boliviano que se tornou morador da Ocupação Chaguinhas.

Além de combater o problema da carestia, a cozinha coletiva é uma experiência que demonstra que só a solidariedade popular pode enfrentar a crise do capitalismo, que deixa as famílias em situação de miséria nas periferias das grandes cidades. Hoje, mais de 60 milhões de brasileiros ainda convivem com algum nível de insegurança alimentar, segundo o IBGE.

“O mais gratificante é perceber que a gente está construindo junto um espaço que vai ser de todos. Todo mundo ajuda na cozinha comunitária e na limpeza. É só felicidade o que eu estou sentindo aqui”, conta Vitor Agnelli, outro morador da Ocupação Chaguinhas.

A memória de Chaguinhas 

Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, foi um soldado negro morto pelos colonialistas portugueses em 1821 por participar de uma revolta que reivindicava o pagamento de salários atrasados e igualdade de remuneração com os brancos. Ele foi assassinado na região da capital paulista que hoje é o bairro da Liberdade, onde se localiza a ocupação. “A mensagem que nós queremos passar é que a luta de Chaguinhas, naquela época, ainda é a luta do nosso povo hoje, contra a opressão do Estado e por uma vida melhor”, explica Victória.

Por sua história, Chaguinhas se tornou um símbolo da mobilização pelo reconhecimento do bairro da Liberdade como um território historicamente negro e indígena, hoje atacado pela gentrificação e especulação imobiliária. Nessa mesma região, o MLB também organiza a Ocupação dos Imigrantes Jean-Jacques Dessalines, cujo nome celebra a luta do líder revolucionário do povo haitiano, e a Ocupação Dom Paulo Evaristo Arns.

Seguir ocupando

Em uma conjuntura em que vários movimentos de moradia reduzem o ritmo de sua mobilização, aguardando o cumprimento de promessas dos governos, o MLB defende que fazer mais ocupações segue como tarefa central por todo o país. É só com a organização de dezenas de novas ocupações e a intensificação da luta dos sem-teto que o povo pobre pode conquistar a Reforma Urbana e, assim, tornar as cidades do Brasil mais justas para a classe trabalhadora e avançar na luta pelo socialismo.

“Hoje, existem mais de 8 milhões de famílias sem moradia no país. Só em São Paulo, mais de 20 pessoas morreram devido às chuvas neste ano, enquanto centenas de milhares de imóveis estão vazios. Nossa avaliação é que precisamos aumentar as ocupações urbanas, que são as greves dos sem-teto. A Ocupação Chaguinhas vem para mostrar que é hora de aprofundar a nossa luta, a institucionalidade não vai resolver os problemas do nosso povo”, completa a coordenadora do MLB.

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