UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 12 de abril de 2025

População se revolta com execução de dois jovens na periferia de Londrina

Leia também

Jovens são assassinados pela polícia militar e população de Londrina (PR) protesta contra a violência policial e em denúncia aos assassinatos

Victor Santana, Giovanny Godoy, Helloisa Ramos | Londrina (PR)


LUTA POPULAR – Entre gritos, barricadas e fogo, amigos, familiares e moradores da periferia de Londrina (PR) protestaram contra a violência da Polícia Militar, que é acusada de assassinar Wender da Costa, de 20 anos, e Kelvin dos Santos, de apenas 16, no dia 15 de fevereiro.

Segundo os policiais, os jovens estariam envolvidos com roubos em residências e teriam resistido à abordagem, ocasionando uma troca de tiros. Testemunhas, no entanto, afirmam que eles trabalhavam em um lava-rápido e estavam a caminho de uma distribuidora, quando foram assassinados à queima-roupa. Uma câmera de segurança residencial flagrou o momento em que os policiais conversam e, logo em seguida, ouve-se o barulho dos tiros.

“Por que num sábado, 22h15 da noite, meu filho jantou em um aniversário comigo e, depois de 20 minutos, ele faleceu? Por que tanto tiro que eles levaram? Tanto, tanto, que a gente não conseguia entrar dentro do IML para ver”, complementou Cirlene, mãe de Kelvin, durante a manifestação.

População luta por justiça

As mortes de Wender e Kelvin mobilizaram a população dos bairros, que se uniu e paralisou Londrina no dia 17. O povo fechou as ruas, impediu o trânsito em várias partes da cidade, denunciando o crime. Linhas de ônibus e coleta de lixo também foram interrompidas. “Nós precisamos fazer isso pelas almas que foram e pelos que ficaram, porque estamos cansados”, disse Cirlene a uma rádio.

Em resposta, na noite dos assassinatos, a Polícia retaliou violentamente a revolta dos moradores com balas de borracha e spray de pimenta. Familiares foram atingidos ao exigirem que a violência cessasse. O prefeito fascista, Tiago Amaral (PSD), incomodado com as manifestações que “tentavam prejudicar a imagem da cidade”, não perdeu tempo em pedir reforços policiais ao governador Ratinho Jr e acionou até o Batalhão de Operações Especiais (Bope) para “instaurar a ordem na cidade”.

Em declaração nas redes digitais, o prefeito demonstrou mais preocupação em proteger o capital e as empresas de transporte urbano, que poderiam ter seus lucros prejudicados com as paralisações. Ao invés de cobrar explicações da Polícia e se propor a colaborar com a investigação do crime, disse apenas que “o caos não vai se instalar em Londrina”, ignorando o luto das famílias.

Nunca foi confronto

Dados do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná, divulgados em 2023, mostram que, de 488 pessoas mortas em operações policiais no Estado do Paraná, cerca de 30% delas eram pretos e pardos. 

Outro estudo mostrou que, em 2020, Londrina registrou o 12º maior número de mortes por policiais no país, superando muitas capitais e até o total de mortes por policiais em todo o Estado de Santa Catarina. A violência é tamanha que as famílias das vítimas formaram o grupo “Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta”, como é o caso da servidora pública Marilene Ferraz da Silva Santos, mãe de Davi Gregório Ferraz, morto pela Polícia Militar de Londrina em junho de 2022, quando tinha apenas 15 anos.

Estes fatos evidenciam que a violência é fruto do sistema capitalista, esse modo de produção que, em todos os lugares, explora os trabalhadores e garante apenas a segurança dos ricos. No entanto, em toda a história da humanidade, as classes oprimidas que se organizaram e lutaram, conquistaram sua libertação.

A força das comunidades das periferias de Londrina não só amedrontou o prefeito, como mostrou o povo organizado é forte. Como disse Gislaine, moradora da comunidade “esse é um ato de uma comunidade, não de uma facção, como a Polícia fala. Pedimos justiça, e ela vai chegar de qualquer maneira!”.

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos