Após a privatização da Companhia Paranaense de Energia (COPEL), que levou a um grande número de demissões, os problemas com a qualidade do serviços elétricos no estado se multiplicaram.
Movimento Luta de Classes Paraná
TRABALHADOR UNIDO – Em 2022, a Assembleia Legislativa do Paraná, composta por deputados da base do governador Ratinho Jr. (PSD), aprovou a privatização da Companhia Paranaense de Energia (COPEL) de forma mascarada. Apesar de os deputados da direita afirmarem que “somente de parte das ações” seriam vendidas, em agosto de 2023, o governo do Paraná vendeu a companhia em uma transação de R$ 4,53 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Com isso, o governo deixou de ter o controle societário da companhia e ficou com apenas 15% das ações.
Além disso, pouco tempo após a privatização, a classe trabalhadora começou a sofrer as consequências. Desde o início do governo Ratinho Jr., a demissão dos funcionários subiu para 51%, devido à venda anterior da COPEL Telecom (serviço de internet da COPEL). Uma funcionária que preferiu não se identificar denunciou que a empresa pressionou os trabalhadores a aderirem a um programa de demissão voluntária. Isso ocorreu porque, sem ele, o acordo coletivo provavelmente teria sido adiado e atrasado a venda.
Privatizações de Ratinho precarizam serviço ao povo
No entanto, as garantias do acordo do plano de demissão foram descumpridas. “Ficamos surpresos quando chegou a data do cronograma de saída e a diretoria decidiu por cancelar a adesão de mais da metade dos solicitantes”, conta. Muitos, segundo a trabalhadora, já estavam com planos até de mudar do país, e isso fez com que muitos adquirissem um quadro de ansiedade, pânico e depressão severa, e até mesmo tentar o suicídio.
As demissões coincidem, também com o aumento de 23,6% nas ocorrências emergenciais de interrupção de energia e no tempo médio de preparação dos profissionais. Em setembro de 2022, esse intervalo era de duas horas e dezessete minutos. Em 2023, aumentou para mais de cinco horas. Além disso, as multas que a ANEEL aplicou à Copel aplicou à Copel por conta do nível de tensão aumentaram 625% no ano da privatização.
Um funcionário denuncia que a empresa só ressarcirá judicialmente os produtores que tiverem prejuízos nas plantações por interrupções no fornecimento de energia. Essa decisão, por sua vez, encerra o ressarcimento administrativo, aumenta a burocracia e impõe barreiras significativas para pequenos agricultores, que já enfrentam diversos desafios no campo.
Com a nova decisão, portanto, produtores com perdas por interrupções de energia devem buscar o Judiciário para ressarcimento, um processo que pode ser longo, caro e incerto. Assim, a medida é vista como um desestímulo aos pedidos de indenização, pois muitos agricultores não têm recursos ou tempo para enfrentar grandes empresas judicialmente.
Por fim, representantes da classe produtiva expressaram indignação com a mudança. “Essa decisão demonstra o total desrespeito da Copel com o produtor rural, que depende da energia elétrica para manter sua produção. Ao nos forçar a recorrer à Justiça, a empresa transfere a responsabilidade ao agricultor, que já enfrenta os impactos diretos das falhas no sistema”, criticou um líder*.
Lucros e pressão aumentam, salários congelam
Por outro lado, a nova política da empresa recém-privatizada estabeleceu altos salários para diretores e CEOs, se travestindo de “meritocracia”. Porém estes lucros exorbitantes não foram destinados a melhorar a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia. Muito pelo contrário, na mesma semana em que anunciou R$ 600 milhões em dividendos, a empresa não ofereceu aumento real aos empregados, mantendo os salários congelados. Essa decisão ocorreu após os trabalhadores rejeitarem amplamente a proposta do Acordo Coletivo de Trabalho, com 96,5% votando contra a oferta da COPEL.
A situação se agrava ainda mais, pois os empregados que permanecem na empresa enfrentam pressão constante dos diretores para aumentar os lucros, com base em uma nova metodologia de metas e resultados que ignora o histórico dos anos anteriores. Isso significa que a COPEL agora opera com metas desconectadas da realidade, focando apenas em gerar lucros excepcionais para distribuir aos novos acionistas.
Subsidiárias também estão precarizadas
A mesma coisa acontece na subsidiária Fundação COPEL, que administra os planos de previdência e saúde dos empregados. A ex-diretora Ana Letícia Feller organizou o PDV na COPEL e, como recompensa, recebeu o cargo de Presidenta na Fundação Copel.
Foi assinado o fim do seguro de vida Pecúlio, afetando mais de 10.000 funcionários que dependiam dessa garantia para seus dependentes em caso de morte.
Com o fim do seguro, os empregados e aposentados mais velhos correm o risco de não conseguir contratar um novo seguro de vida para suas famílias. Após a privatização, o novo grupo acionista controla indiretamente a Fundação COPEL, que administra R$ 14 bilhões em patrimônio dos empregados da companhia.
A contradição é clara: a privatização da COPEL custou R$ 4,53 bilhões, enquanto uma subsidiária vale R$ 14 bilhões, mais de três vezes o valor pago. A nova CEO, Ana Feller, cancelou o seguro de vida da Fundação COPEL e alterou o plano previdenciário, reduzindo os direitos dos empregados.
Efeitos da privatização
A privatização e o desmonte de benefícios e direitos impactam profundamente a saúde mental dos trabalhadores. Eles enfrentam cargas de trabalho cada vez maiores, salários congelados e o medo constante de demissão.
O episódio da tentativa de suicídio de um funcionário em 30 de janeiro de 2025 foi um dos mais graves efeitos da privatização na saúde mental dos trabalhadores. Segundo testemunhas, ele solicitou a demissão voluntária e teve o pedido negado. “Enquanto isso, a diretora ganhava a Presidência da Fundação Copel, e o CEO, Daniel Pimentel, posava para revistas”, denuncia uma testemunha.
Esse trágico episódio evidencia o desgaste físico e emocional a que os trabalhadores estão submetidos. Diante desses abusos, precisamos organizar a categoria para combater o fascismo. Somente pelo poder popular conseguiremos construir uma nova realidade social, que não seja da exploração do homem pelo homem, uma sociedade verdadeiramente livre.
*Mudamos os nomes originais para preservar a identidade dos entrevistados.