Famílias do MLB ameaçadas de despejo pela Reitoria da UFPB lutam pelo seu direito à moradia em João Pessoa
Rayssa Batista e Redação PB
LUTA POPULAR – Há três meses, no dia 17 de dezembro, mais de 50 famílias sem-teto, organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam um imóvel abandonado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Centro de João Pessoa (PB). Nasceu, então, a Ocupação Nego Fuba, batizada em homenagem a João Alfredo Dias, uma das lideranças da Liga Camponesa de Sapé, que foi assassinado pelo Exército, em setembro de 1964, logo no início da Ditadura Militar.
Segundo o IBGE, João Pessoa conta com um déficit habitacional de 40 mil moradias. Nos últimos anos, seus moradores sentiram que o preço dos alugueis dispararam e que, cada vez mais, as famílias se encontram na situação de ter que escolher entre pagar o aluguel ou fazer a feira do mês. Enquanto isso, no Centro da cidade vê-se um imenso vazio urbano, com imóveis servindo apenas à especulação imobiliária e gerando insegurança em seus arredores.
Em 2021, o ex-reitor e interventor Valdiney Gouveia despejou entidades da sociedade civil que utilizavam as instalações do prédio para suas atividades. O imóvel estava completamente abandonado, com centenas de documentos entregues à chuva e às baratas. Diante do descaso com o patrimônio da instituição, as famílias, inclusive, guardaram todo o acervo na sala de Arquivos.
Imediatamente, construiu-se um espaço de cozinha coletiva, energia e água foram resolvidas e uma grande limpeza foi realizada. As salas, que antes abrigavam ratos e baratas, hoje abrigam famílias, que, sem dúvidas, dão uma aula sobre como cuidar de um patrimônio histórico como o prédio, já tombado pelo poder público por sua importância histórica na cidade.
Ameaça de despejo
Surpreendentemente, ignorando todo o diálogo realizado junto de uma comissão da universidade, a Reitoria decidiu ameaçar as famílias de despejo com uma ação na Procuradoria Regional Federal, às vésperas do Carnaval, sob a prerrogativa de que estariam “destruindo” o patrimônio da UFPB, pedindo, inclusive, o uso de “força policial”.
As famílias não se intimidaram e, junto com movimentos sociais apoiadores, organizaram a resistência e decidiram ocupar o gabinete da reitora para cobrar uma resposta diante desse ataque. E a resposta foi: “Não é papel da universidade resolver a questão da moradia”, mantendo, assim, a ordem de despejo. Uma atitude que facilmente se confunde com o autoritarismo da última gestão, marcada por processos e perseguições aos movimentos estudantil e sindical.
Após o ocorrido, o MLB e o Movimento Correnteza organizaram passagens em sala de aula na UFPB para denunciar a violência direcionada às famílias da Ocupação Nego Fuba e o descaso frente a realidade da falta de moradia em João Pessoa.
Moradia já!
Uma das possibilidades apresentadas pelo MLB foi a cessão de um dos terrenos da universidade, o local da primeira Faculdade de Medicina da UFPB, abandonado há mais de 30 anos, e que hoje está em ruínas. No entanto, agora a Academia Paraibana de Medicina (APM), depois de 30 anos, apresenta interesse no terreno para supostamente transformá-lo em um museu.
A universidade precisa trabalhar ensino, pesquisa e extensão em prol da sociedade e isso também significa ter uma prática política coerente. O despejo de famílias em situação vulnerável e a tentativa de isentar-se do debate sobre a moradia e o direito à cidade não é uma atitude aceitável.
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!
Resiste Nego Fuba!
Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade