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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Casos de assédio revoltam estudantes da UFRN

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“Apesar dos casos alarmantes de violência contra a mulher, a Reitoria da UFRN tem feito medidas tímidas em relação às situações de assédio, como uma nota vaga nas redes digitais, afirmando realizar “medidas cabíveis” e reuniões com as superintendências.”

Kivia Moreira | Natal (RN)


Desde o início do período letivo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), houve diversos relatos de importunação sexual dentro dos ônibus circulares da universidade, de um único homem que utiliza da superlotação dos ônibus para assediar as estudantes. De acordo com a Delegacia Especializada da Mulher (Deam), de Natal, há pelo menos 20 boletins de ocorrência denunciando o mesmo agressor.

Infelizmente, não houve somente casos de assédio, mas também de sequestro dentro do campus. No dia 09 de abril, a estudante Ana (nome fictício) relatou ao Movimento de Mulheres Olga Benario que estava saindo da aula às 22h00, a caminho de seu carro no estacionamento do Centro de Biociências, quando, na porta do veículo, um homem armado a abordou, obrigando-a a entrar no carro, deitar-se no banco de trás e desligar a localização do seu telefone. A estudante foi deixada no matagal do bairro Ponte Negra, em Natal, sem seus pertences.

Queremos estudar sem medo

Apesar dos casos alarmantes de violência contra a mulher, a Reitoria tem feito medidas tímidas em relação às situações de assédio, como uma nota vaga nas redes digitais, afirmando realizar “medidas cabíveis” e reuniões com as superintendências.

Nesse sentido, cansados de esperar ações efetivas, os estudantes da UFRN realizaram medidas de auto-organização para proteger as mulheres, como aulas de autodefesa e a instalação de uma ouvidoria feminista, além de patrulhas de segurança às alunas e grupos de aviso de situações de importunação sexual.

Também foram realizadas manifestações exigindo respostas efetivas e rápidas, organizadas principalmente pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e Movimento Correnteza. “Vamos ocupar toda a universidade para exigir que acabem os assédios”, afirma Milenne Barbosa, do Movimento Correnteza. Os movimentos exigiram uma reunião aberta com a Reitoria da universidade, mas, até o momento, não houve retorno.

Aulas de autodefesa

O Movimento Olga Benario realizou, no último dia 14 de abril, a primeira aula de defesa pessoal para dezenas de mulheres estudantes da UFRN em resposta aos diversos casos de assédio sexual. A primeira aula contou com a participação de cerca de 50 estudantes. O grupo de interessadas chega a ter mais de 300 participantes.

“Como praticante de jiu-jitsu e judô, sinto que é essencial trazer mais meninas para o nosso meio, ocupado majoritariamente por homens. Senti que as meninas estavam muito engajadas em aprender, pois o medo é real. Esperamos continuar com as aulas e seguimos pedindo um campus mais seguro para nós mulheres”, afirma Helena Pires, estudante de Ciências Biológicas e uma das instrutoras.

“As aulas de autodefesa se tornam muito necessárias no contexto que as meninas estão passando. A mulher precisa ter consciência que pode se defender, pois, ultimamente, é mais comum vermos alguém parar para filmar e depois postar a agressão do que tentar ajudar a vítima”, complementa o instrutor Danilo Bezerra.

A organização das mulheres por uma nova sociedade

As mobilizações das estudantes mostraram também que apenas medidas específicas para prender um assediador, não irão acabar com a violência contra a mulher. A raiz dos assédios vem da propriedade privada dos meios de produção, pelo sistema capitalista, que é podre e que lucra em cima da opressão e da exploração das mulheres.

Por isso, somente com a organização das mulheres para transformar a realidade é possível construir uma nova sociedade sem exploração às mulheres, uma universidade inclusiva para todos e livre dos assédios, uma sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº 312 do jornal A Verdade

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