Trabalhadores do ABC Paulista enfrentam insegurança crescente com possíveis demissões em massa e paralisações em montadoras como Scania e Volkswagen. Empresas adotam férias coletivas e “stopdays” como medidas pautadas pela busca implacável por aumento dos lucros. Cenário histórico de cortes evidencia a urgência da organização operária contra a exploração capitalista.
Karol Vilela – MLC SP
A Scania, montadora de caminhões localizada no ABC Paulista, anunciou férias coletivas aos trabalhadores a partir do dia 10 de julho. Já na semana do 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, a empresa implementou o chamado “stopday”, uma parada programada da produção durante 2 dias na semana, devido à queda do mercado e da arrecadação da multimilionária. Essas decisões são um indicativo de uma nova possível demissão em massa dos quase 6 mil funcionários, sendo 3000 diretamente ligados à linha de produção.
“O clima é de tensão” — contou uma trabalhadora da fábrica — “Todos nós percebemos a diferença entre o começo do ano e agora. Tínhamos uma previsão de trabalho no começo e agora no meio do ano não temos mais segurança de nada, não sabemos se vamos manter nossos empregos, se vamos conseguir sustentar nossas casas, colocar comida na mesa”, lamenta.
A empresa alega queda de 28% de produção devido ao agravamento das taxas de juros e baixa demanda, mas seguindo o padrão de outras montadoras, as paradas de produção para o patrão significam segurar os meios de produção e cortar funcionários para continuar explorando o máximo possível. Enquanto os trabalhadores não sabem como vão sustentar suas famílias no mês seguinte, os grandes empresários usam diversos recursos para manter suas fortunas e riquezas protegidas e crescendo. No mundo do trabalho no sistema capitalista, não há perdas para o patrão.
Cenário de alerta para o proletariado
Desde a última grande crise do sistema capitalista em 2008, que assolou a economia mundial e dizimou inúmeros postos de trabalho, temos acompanhado as suas sequelas ano após ano: saída das montadoras de veículos do território brasileiro, demissões em massa, corte de áreas produtivas, paradas “programadas” da produção, terceirizações. Conforme avança a exploração da classe capitalista internacional, o setor operário brasileiro não tem fôlego para recuperação e entra ano e sai ano temos notícias dos processos de cortes de funcionários aos montes.
Em 2022, a Mercedes-Benz anunciou o corte de 3600 funcionários da sua fábrica principal, o que representava 36% do seu quadro total de funcionários. A realocação dos funcionários foi conquistada na luta, mas diversos setores da fábrica foram fechados e alguns terceirizados. Em 2022, a Volkswagen também anunciou o corte de mais de 2300 funcionários da sua fábrica. A General Motors e a Bridgestone também anunciaram cortes de centenas de funcionários.
Em 2021, a Ford anunciou o encerramento das atividades no Brasil justificando uma reestruturação global para melhorar sua rentabilidade. Cerca de 5000 funcionários perderam os seus postos de trabalho o que significou para a empresa bilionária uma economia de 4,1 bilhões de dólares. O stopday, férias coletivas, aposentadoria voluntária são um prelúdio para o encerramento de contratos, como aconteceu nas outras montadoras. Apenas com a organização dos trabalhadores é possível mudar essa realidade.
Chão de fábrica é trincheira de batalha
A Scania, assim como a Volkswagen, é marcada pelo apoio à aparelhos de repressão desde o início da Ditadura Civil-Militar e perseguição aos trabalhadores com a “lista suja de subversivos”. A greve na Scania foi um importante passo no processo de redemocratização do Brasil após o regime militar e, assim como conta a série de reportagens produzidas pelo site Opera Mundi, “Scania e a ditadura militar”, os trabalhadores da Volks e da Scania lutam pelo processo de reparação da Verdade, Memória e Justiça desse período.
Assim como o fim da Ditadura Militar foi fruto da luta do povo, a soberania do setor operário nacional e a garantia dos postos de trabalho só serão garantidos com a dos próprios trabalhadores. Podemos conquistar a redução da jornada de trabalho, o aumento do salário-mínimo, criação de diversos postos de trabalho e a sociedade livre da exploração, a sociedade socialista. A classe operária tem nas mãos as ferramentas da libertação das garras desse sistema apodrecido que só pensa no lucro. Uma grande greve geral é o caminho para a mudança da sociedade, portanto é uma tarefa imediata de todos: organizar a classe trabalhadora para lutar pelos seus direitos e pelo socialismo.