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segunda-feira, 5 de maio de 2025

O agronegócio e as grandes empresas são responsáveis pela piora na alimentação do povo

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Em 2023, o agronegócio emitiu cerca de 617 milhões de toneladas de gases do efeito estufa, enquanto empresas como Cargill, Bunge e JBS seguem com práticas de desmatamento e à degradação do solo.

Sam Paz Silveira | Porto Alegre – RS


BRASIL – Você já se perguntou por que os alimentos de hoje parecem não ter o mesmo sabor – nem os mesmos nutrientes – de anos atrás? A resposta não está apenas na natureza ou no tempo, mas sim nas engrenagens de um sistema movido pelo lucro: o capitalismo. Mais especificamente, nas práticas das grandes corporações alimentícias e do agronegócio, que priorizam quantidade e aparência em detrimento da qualidade nutricional dos alimentos. Em 2023, o setor agropecuário brasileiro emitiu aproximadamente 617 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (CO₂e), representando um aumento de 3% em relação a 2022 (Observatório do Clima).

Um artigo publicado na National Geographic Brasil, de 2022, aponta que o conteúdo de minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais diminuiu consideravelmente ao longo das últimas décadas. Ou seja, alimentos como frutas, legumes e vegetais estão ficando progressivamente menos nutritivos.

Por trás disso, está a forma como o capitalismo e o agronegócio operam: monoculturas extensivas, uso intensivo de fertilizantes químicos, sementes geneticamente modificadas para resistir a pragas e longas viagens de transporte. Essas práticas, impulsionadas pelas grandes empresas do setor, como Cargill, Bunge e JBS, têm como objetivo principal maximizar a produtividade e os lucros, mesmo que isso custe a saúde do solo – e, consequentemente, a qualidade dos alimentos. Inclusive, a Cargill, uma das maiores fornecedoras de produtos agrícolas do mundo, está implicada no desmatamento da Amazônia, especialmente devido ao cultivo de soja.

A Bunge, também um gigante global no setor agrícola, assim como a Cargill, é criticada por sua relação com o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, especialmente no cultivo de soja e milho.

Já a JBS, embora seja mais conhecida pela produção de carne, também é uma das principais compradoras de soja para ração animal (The Guardian e WWF). A empresa é mencionada em estudos sobre desmatamento devido à sua demanda por soja, cultivada em terras que antes eram florestas tropicais. Além disso, a JBS figura no topo das maiores emissoras de gases de efeito estufa no mundo, segundo um levantamento de 2024 da Changing Markets.

Ao escolher variedades de vegetais que duram mais nas prateleiras e têm melhor aparência comercial, em vez de priorizar os nutrientes, as grandes corporações alimentares estão transformando o que comemos em produtos cada vez mais vazios. O solo, explorado sem descanso, já não consegue fornecer os mesmos minerais às plantas. E isso significa que, mesmo comendo as mesmas quantidades (o que também não ocorre visto o aumento no preço dos alimentos), estamos nos nutrindo menos.

Esse empobrecimento alimentar tem consequências graves para a saúde do povo. A falta de nutrientes contribui para o avanço de doenças, como obesidade, diabetes, hipertensão, problemas de imunidade e até distúrbios cognitivos. A grande contradição é que, em pleno século 21, com supermercados abarrotados de produtos, vivemos uma nova forma de fome: a fome de nutrientes.

E quem mais sofre com isso são as populações de baixa renda. Os alimentos verdadeiramente nutritivos, muitas vezes cultivados de forma sustentável e sem agrotóxicos, são caros e inacessíveis. Já os produtos ultraprocessados – baratos, calóricos e pobres em valor nutricional – dominam as prateleiras e as dietas da maioria da população.

A verdade é que esse não é um problema individual, de escolhas alimentares erradas. É um problema estrutural, gerado por um sistema de produção controlado por um punhado de grandes empresas que tratam alimentos como mercadorias, e não como parte essencial da saúde humana e do equilíbrio ambiental.

É essencial que repensemos a forma como produzimos e distribuímos alimentos, priorizando uma agricultura que respeite o planeta e as pessoas, evitando o desperdício e o uso predatório dos recursos naturais. Porém, enquanto o lucro for o principal motor da agricultura e da indústria alimentícia, continuaremos vendo nossos alimentos – e nossa saúde – se degradarem. A única forma de garantir a soberania alimentar para todo o povo é acabando com o podre sistema capitalista e construindo uma sociedade nova, o socialismo, em que todos terão acesso à alimentação de qualidade, à saúde e à vida digna.

Matéria publicada na edição impressa nº310 do jornal A Verdade

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