Sat Montaigne | Movimento Rebele-se
À medida que o movimento estudantil cresce e os estudantes combativos assumem a direção de um número crescente de entidades de luta, a necessidade de aprofundamento da conexão com secundaristas e universitários torna-se impossível de ignorar. Essa conexão se revela como a brasa necessária para reacender a combatividade da UBES e da UNE, formar novas entidades estudantis e despertar novos quadros para a luta contra os ataques à educação, o fascismo e o capitalismo. Assim, é necessário levar a sério as comunicações populares, indispensáveis para mostrar aos jovens, em seu dia a dia, a relação inseparável entre o sucateamento da educação e o sistema capitalista e chamá-los às ruas.
O que são as comunicações populares?
Caso seja uma dúvida do(a/e) leitor(a/e) o que são as comunicações populares, elas são grupos de militantes e aliados que analisam e constroem, em seus movimentos, grêmios, DCEs, CAs, entidades etc., formas de estabelecer contato, construir a agitação e propaganda entre as massas da forma mais acessível mas com qualidade profissional.
Nesse sentido, cada comunicação popular é construída pelas e para as massas, engajadas em nossa luta contra as contradições do capitalismo e pelo Socialismo. É o braço coletivo responsável por, em conjunto à consciência revolucionária popular, organizar a juventude na luta por melhores escolas, universidades e, também, uma melhor sociedade. Por fim, é um órgão político das massas que, no fogo de atrito com a burguesia, mostra ao povo que a única alternativa ao capitalismo e suas crises é a organização e o poder popular.
No movimento estudantil, ela pode ser construída nos meios mais acessíveis à classe trabalhadora, como, por exemplo, o WhatsApp. Deve planejar postagens em redes sociais, organizar fotos, vídeos e registros de atos populares, escrever matérias ao Jornal A Verdade e difundir, de toda forma possível, consciência política a cada estudante desse país. Pode também diagramar jornais para entidades estudantis, divulgar eventos e vender carteirinhas. Isso, sem perder a noção de que é necessário conquistar a confiança dos jovens e, dessa forma, convocá-los à luta para muito além dessas redes.
Comunicações populares representam profissionalização de nosso trabalho
A construção desses grupos é de ordem do dia para garantir que as reivindicações angariadas das massas retornem a elas como lutas coletivas; para que possamos nos revelar às mesmas como uma força concreta de enfrentamento ao sucateamento de nossas escolas e universidades. É indispensável porque o Novo Ensino Médio, o Arcabouço Fiscal e tantas outras medidas que compõem a ofensiva anti-povo dos tempos atuais se sustentam em amplas campanhas burguesas, inseparáveis de comunicações profissionais e estruturadas com os mais caros equipamentos – e as comunicações populares são o nosso contra-ataque. É para criar uma extensão da conexão constante entre nosso movimento e os estudantes, que desmascare o caráter real das privatizações, dos cortes na educação, das altas tarifas no transporte e, finalmente, das mentiras dos capitalistas que as comunicações populares da juventude se organizam.
Essa força coletivizada exige que abandonemos os métodos de gestão artesanal da comunicação, seja a sobrecarga de um(a/e) camarada que, sozinho(a/e), tem de lidar com as redes sociais de nosso movimento ou a ausência de um ou mais militantes destacados para administrar nossos perfis, tornando-os de uso unicamente periódico – espontaneísta.
No Movimento Rebele-se, a estruturação da Comunicação Nacional (CON), que ocorreu a partir do 45º Congresso da UBES, representou um crescimento surpreendente de, aproximadamente, mil seguidores no Instagram em um período curto de 9 meses. Em meio a esse crescimento, que veio com erros e acertos, dezenas de estudantes entraram em contato com nosso movimento nas mensagens diretas e se organizaram materialmente conosco, provando a linha acertada da decisão.
Não obstante, vale ressaltar que esse saldo não é resultante da mera criação da CON: foram necessárias reuniões frequentes, estudos, o debate de como se comunicar de forma acessível, a organização de planejamentos mensais de postagens e um esforço incansável dos(as/es) envolvidos(as/es) para garantir que cada post, Reels e TikTok saísse na hora, bem legendado e despertasse nos secundaristas a vontade de lutar conosco pela educação pública, gratuita e de qualidade. Em resumo, foi necessário dar passos à frente rumo à profissionalização de nosso trabalho.
É importante esclarecer que o papel das comunicações populares é distinto do papel da vanguarda, e que estes dois não podem, de forma alguma, ser confundidos. A função da comunicação é, em sua essência, a de despertar nas massas o ímpeto revolucionário, a consciência de classe e, ao mesmo tempo, aproveitar desse ímpeto para realizar um chamado permanente e cotidiano à luta. Já o papel da vanguarda é mais complexo e historicamente demandante; constitui em formular, à luz da teoria científica do proletariado – o marxismo-leninismo – a estratégia e a tática pela derrubada do capitalismo e a construção, em suas ruínas, do Socialismo. Ou seja: enquanto a comunicação é um componente do trabalho de massas, a vanguarda é a sua orientadora, a formadora da linha política que levará o proletariado à derrubada do capitalismo e à construção do Socialismo.
Ademais, também dividimos aqui em duas as comunicações de massa. Na comunicação de cada entidade, o grupo comunicador deve focar em trazer as reivindicações imediatas dos estudantes; aquelas que despertam, a cada dia, a indignação direta com o sucateamento da educação e indireta com a realidade capitalista: saunas de aula, direções autoritárias, merendas ruins, etc. Tem a função de mostrar às massas o caráter justo de nossas lutas e, nesse processo, trazê-las às ruas para realizar mudanças concretas. Já a comunicação do movimento deve politizar essas lutas, e exerce a função indispensável de, além da formação de novos quadros anticapitalistas, elevar a consciência dos estudantes.
As comunicações não substituem a prática: é preciso ir às ruas
Cabe também a compreensão que esses meios de atuação, apesar de indispensáveis, não substituem, de forma alguma, o trabalho físico. Isso se comprova ao analisarmos que as redes e a mídia dominante, controladas pela burguesia, podem, a qualquer momento, derrubar nossas contas, censurar nossos discursos e perseguir nossa militância. Nesse caso, companheiros(as/es), o que faríamos se dependêssemos apenas das redes?
Nunca podemos superestimar o papel da comunicação a ponto de acreditar que, sozinha ou restrita à internet, ela possa garantir qualquer vitória definitiva. É necessário aliar a comunicação com o trabalho de base: a diagramação de panfletos, jornais para nossas entidades, o design de pôsteres e cartazes e a realização de cursos são tarefas que podem e devem ser feitas pelas comunicações. É preciso que ampliemos nosso trabalho nas escolas, nas universidades e Institutos Federais, que construamos grêmios, DCEs e outras entidades e estejamos, tanto digitalmente quanto materialmente, ao lado dos jovens e estudantes.
Ademais, é preciso mobilizar as comunicações populares para garantir a construção coletiva dos jornais de entidade, que tem um papel não menos importante em nossas lutas. Esses jornais, responsáveis por trazer, de forma detalhada, as reivindicações dos estudantes e os chamados à ação, são vitais na evolução da consciência e mobilização de nosso povo.
Ou seja, as comunicações populares não são, de modo algum, restritas aos meios digitais: a comunicação, afinal, também acontece na vida real. Elas, na luta para estabelecer laços com os estudantes, não se separam de todo outro trabalho, mas estão intimamente ligadas com todo o conjunto de atividades que movem o movimento estudantil. Não existe separação entre uma suposta comunicação digitalizada e o trabalho prático realizado nas escolas e universidades, mas sim o oposto. Isso significa que a mesma, como extensão desse trabalho, participa ativamente das assembleias, plenárias, manifestações, passagens em sala e está, diariamente, mobilizando a juventude onde quer que esteja presente.
E finalmente, se nosso foguete realmente não tem ré, camaradas, é fundamental realizar de forma séria a construção de comunicações populares nos níveis nacional, regional, estadual e municipal. Vai avançar! Venceremos!