Cheia dos rios no Amazonas é resultado da exploração da natureza. O aquecimento dos oceanos – alimentado pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa – também intensifica as chuvas na região.
Denily Fonseca | Belém (PA)
BRASIL – O Estado do Amazonas enfrenta, outra vez, uma, catástrofe ambiental que já afeta milhares de famílias e compromete a vida de comunidades inteiras. Cerca de 200 mil pessoas foram atingidas pelas enchentes até o início de junho. Ao menos 20 municípios decretaram estado de emergência, enquanto dezenas de outros estão em alerta. Essa cheia dos rios amazônicos, uma das piores da história recente, não pode ser explicada apenas pelo chamado “inverno amazônico”.
O inverno amazônico, período de chuvas entre novembro e maio, está se tornando mais extremo a cada ano. Especialistas alertam que o ciclo das águas na Amazônia está sendo violentamente alterado. Antes, a Floresta Amazônica ajudava a controlar o clima e segurar a água da chuva. Com tanto desmatamento, queimadas e grilagem, a floresta perde sua força. O solo fica seco, não absorve mais a água como antes. A chuva cai e escorre direto para os rios, que enchem muito mais rápido, provocando as enchentes.
O aquecimento dos oceanos – alimentado pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa – também intensifica as chuvas na região. É a crise climática atuando com força total. Só que ela não é fruto do acaso ou de algum castigo divino. Ela é provocada por quem lucra com a destruição.
O que está acontecendo é resultado direto de um desequilíbrio climático provocado pela exploração desenfreada da natureza, com queimadas e expansão da agropecuária, agravado pela seca histórica registrada em 2023. No ano anterior, o Amazonas enfrentou a menor precipitação dos últimos 40 anos, com chuvas entre 100 e 350 milímetros abaixo do normal. Rios como o Amazonas e o Solimões atingiram níveis recordes de baixa, afetando todo o estado e deixando mais de 600 mil pessoas em situação de emergência. Agora, a mesma região sofre com um volume anormal de águas, por falta de tempo suficiente para o ecossistema se recuperar.
A crise no Amazonas é consequência de um sistema econômico global que privilegia o lucro e o consumo desenfreado, custe o que custar. São os grandes países emissores e corporações multinacionais – que exploram, poluem e acumulam riquezas – os principais responsáveis pelo colapso climático que agora atinge com violência as cidades do interior do Amazonas.
Enquanto os poluidores seguem impunes, é o povo amazonense que paga o preço. Agricultores veem suas plantações inteiras levadas pelas águas. Famílias ribeirinhas perdem suas casas e seus meios de subsistência. Crianças ficam sem escola. Povos tradicionais enfrentam a destruição de seus territórios. Ainda assim, esse povo não cruza os braços.
O povo do Amazonas é resistente. É feito de comunidades que protegem a floresta, que conhecem os ciclos da natureza e que enfrentam, com coragem, as consequências de uma crise que não criaram. Mesmo diante do abandono histórico, do desrespeito à sua cultura e das tentativas constantes de saquear suas riquezas naturais, o povo da Amazônia luta todos os dias para permanecer em pé, para defender sua terra e garantir dignidade às próximas gerações.
Matéria publicada na edição impressa nº314 do jornal A Verdade