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sábado, 5 de julho de 2025

Kommunalkas: as ocupações a serviço da Revolução

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Assim como as kommunalkas — moradias coletivas organizadas pelos soviéticos após 1917 —, as ocupações do MLB buscam enfrentar o déficit habitacional e fortalecer laços comunitários, fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa.

Raiê Roca Antunes | Porto Alegre (RS)


SOCIEDADE – Com a realização do Congresso Nacional do MLB, é importante aprofundar o entendimento de toda nossa militância sobre a relevância do trabalho de base do nosso movimento e seu papel histórico. Por isso, este artigo retoma a experiência das ocupações como instrumentos a serviço da Revolução Russa.

Os comunistas fazem ocupações há muito tempo. Muito antes de o MLB existir, nossos camaradas na Rússia já enxergavam as ocupações como ferramentas fundamentais para a Revolução. O papel das ocupações no contexto revolucionário dos anos 1910 e 1920 é semelhante ao do Brasil atual, pois ambas têm, em sua essência, dois objetivos principais: resolver o problema da falta de moradia e transformar a consciência da classe trabalhadora.

Não foi em outubro de 1917 que a situação habitacional na Rússia soviética se resolveu por completo, mas foi ali, no berço da Revolução, que a transformação social começou a tomar forma. Uma das primeiras medidas do governo revolucionário para enfrentar a crise da moradia foi organizar as kommunalkas. Eram ocupações em grandes palácios, apartamentos e casas desapropriadas da burguesia, onde várias famílias dividiam quartos dentro de uma mesma unidade, compartilhando áreas comuns, como cozinhas e banheiros. Uma solução habitacional popular e emergencial para a época.

Um exemplo emblemático de kommunalka foi a Casa Muruzi. Construída na década de 1870 para o conde Alexander Dmitrievich Mourouzis, serviu de residência para o general czarista Oskar Rein, de 1890 a 1917, até ser expropriada pelos revolucionários. O prédio, que tinha apartamentos luxuosos com até 26 quartos cada, foi dividido para abrigar centenas de famílias. Em 1919, os aposentos do conde se transformaram no estúdio literário da editora Vsemirnaya Literatura (Literatura Mundial). Assim, um espaço que antes servia apenas à burguesia passou a beneficiar toda a sociedade.

Outro aspecto fundamental das kommunalkas, assim como das ocupações do MLB, é o desenvolvimento da consciência social e de classe do proletariado. Os arquitetos da vanguarda soviética criaram o conceito de Condensador Social – a ideia de que a arquitetura deve servir para fortalecer as relações coletivas e construir o espírito da nova era, a era socialista. Dessa forma, com seus espaços compartilhados e sua estrutura modificada, prédios que antes reproduziam a ideologia burguesa passaram a difundir a ideologia socialista.

No nosso cotidiano, vemos essa transformação acontecer nas ocupações. Pessoas de diversas origens, realidades e crenças participam do Movimento. Chegamos carregando muito da ideologia burguesa, mas, aos poucos, os cursos, as atividades, as lutas, as manifestações e a vida coletiva nos moldam, tornando-nos pessoas mais comunitárias e solidárias. A ocupação não permite, e não deve permitir, a perpetuação do racismo, do machismo, da homofobia, do individualismo e de todas as demais manifestações da ideologia capitalista. Seu caráter comunal faz com que as relações e as interdependências sociais sejam construídas de forma fraterna e camarada, não mais a mentalidade da exploração do homem pelo homem, mas sim a mentalidade da cooperação de todos em prol do comum.

As kommunalkas foram essenciais para a Revolução Soviética, assim como nossas ocupações são fundamentais para a construção da Revolução Brasileira. Enfrentar o déficit habitacional e formar o homem e a mulher novos, como dizia Che Guevara, não são tarefas para depois da Revolução. Cada ocupação deve ser um condensador social, transformando tanto o espaço urbano quanto a consciência de quem o habita – sempre a serviço da Revolução e do Socialismo.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

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