Alan Alves Silva e Daniela Pereira Almeida
Apesar do subsídio da prefeitura de mais de R$3,5 milhões no ano de 2024 pagos à Viação União, como consta no Portal da Transparência, e uma passagem de R$ 3,50, a situação do transporte público em Viçosa/MG é degradante à vida dos trabalhadores e estudantes.
Os bairros Santo Antônio, Nova Viçosa, Santa Clara, Maria Eugênia, Coelhas, Vale do Sol, União, Liberdade, região do CMEI Dr. Celito Francisco Sari, Novo Silvestre, e os distritos de São José do Triunfo e Cachoeira de Santa Cruz destacam-se pela frequência insuficiente de ônibus e pelas condições precárias de caminhabilidade. Essas regiões abrigam mais de 25 mil pessoas (35% da população). Além disso, pode-se considerar que quase a totalidade da população tem sua mobilidade prejudicada aos fins de semana, quando a quantidade de ônibus cai drasticamente, não atendendo nos horários de lazer e descanso.
Fica claro que nos bairros periféricos de Viçosa, onde mora a população mais pobre e vulnerável, a realidade é de abandono deliberado, imposto pela lógica do lucro e da desigualdade social. Sem transporte público adequado, os trabalhadores e suas famílias são condenados a enfrentar dificuldades extremas para se deslocar para o trabalho, lazer, escola ou serviços essenciais, além da perda de tempo de vida valioso.
Conflito de classes e organização social
Entra governo, sai governo e a administração municipal continua cúmplice do interesse da elite que lucra com o transporte público e privado, perpetuando a desigualdade e a injustiça social. Esta falta de infraestrutura não é um acidente, mas uma consequência direta de um sistema que prioriza os lucros da elite e esquece das necessidades do povo, um exemplo claro da disputa de classes em nosso município.
A falta de investimento em transporte público também cumpre uma função política: manter os trabalhadores isolados. Isso dificulta sua organização e resistência. Como a população da periferia vai se unir às lutas e às manifestações populares por direitos sociais que ocorrem nas áreas centrais, onde estão a prefeitura e câmara municipal, se não há transporte ou se o transporte é caro? Ou seja, como a população pobre vai exercer seu direito de participação política se lhes são negadas as condições de mobilidade? Assim, a precariedade dos ônibus funciona como uma arma para desmoralizar e enfraquecer a classe trabalhadora.
Tarifa Zero: uma realidade urgente
Um relatório elaborado por doutores em Economia do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em 2019, apresenta como solução viável e urgente a aplicação da Tarifa Zero, ou seja, transporte público 100% gratuito. Hoje, a tarifa do ônibus é majoritariamente sustentada pelos usuários diretos, que costumam ser justamente os mais pobres. O alto custo da passagem pesa no orçamento das famílias, e quem tem a opção opta por se locomover de carro ou moto, aumentando a lentidão do trânsito, a emissão de poluentes e o risco de acidentes.
Muitas cidades brasileiras já oferecem transporte 100% gratuito, e financiam por imposto sobre a gasolina e um pequeno aumento no IPVA e no IPTU. As três fontes apresentam a vantagem de que as classes mais ricas proporcionalmente contribuem com a maior parte do custo, uma vez que utilizam mais gasolina e têm imóveis e veículos mais caros.
Como vantagens, a Tarifa Zero seria responsável por uma migração de modo de transporte particular para o transporte público mesmo pela classe média, o que faria com que a cidade ficasse mais limpa, com menos acidentes e com um trânsito mais rápido, diminuindo o tempo de locomoção entre casa e trabalho. Além disso, a solução desafoga o orçamento das famílias mais pobres, que podem usar esse dinheiro no comércio e serviço da cidade. Por fim, nesse cenário, até empregadores, principalmente de microempresas, seriam beneficiados, pois diminuiria a contribuição de pagamento pelo vale-transporte.
Porém, é importante que a prestação do serviço seja feita por uma empresa estatal. Uma empresa estatal tem como objetivo servir a população, sem a necessidade de gerar lucros. Isso permite que o foco seja na qualidade do serviço, e não no corte de custos que prejudica a qualidade do serviço, como priorizar rotas mais lucrativas, deixando áreas menos rentáveis desassistidas – o que já ocorre em Viçosa.
Só o povo salva o povo
Destacamos que a solução para este problema não virá das mãos daqueles que lucram com essas condições. A história nos ensina que somente através da organização e da luta coletiva podemos conquistar nossos direitos. Devemos denunciar a cumplicidade dos políticos com os interesses das elites e exigir uma mudança radical. A construção de um sistema de transporte público que atenda às necessidades da classe trabalhadora é uma etapa crucial na luta por uma sociedade justa e igualitária.
É necessário que os trabalhadores de Viçosa se unam, formando associações de bairros combativas, que se unam à luta pelo transporte público. A organização popular é o primeiro passo para derrubar as estruturas de opressão e exploração. Juntos, construiremos um futuro no qual nossos direitos serão respeitados e nossa dignidade será restaurada!