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quarta-feira, 30 de julho de 2025

“Agora vou pra dentro da FNR”

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Cleberton Santos, o Tavinho, para os amigos, 35 anos, morador da favela da Jaguaré, na Zona Oeste de São Paulo, homem negro e trabalhador, foi preso injustamente no começo de abril, três dias depois de ter participado do lançamento da Frente Negra Revolucionária (FNR) na capital paulista. Os militantes e advogados da Frente atuaram no processo, juridicamente e apoiando os familiares, conquistando sua liberdade após dois meses de luta.

Tiago Lourenço | São Paulo (SP)


A Verdade – Tavinho, nos conte um pouco sobre você.

Tavinho Eu cresci numa família contaminada pelo racismo, uma família de criação, devido à dificuldade da minha mãe que veio pra São Paulo fugindo do meu pai e me deixou com essa família.

E eu cresci basicamente sem consciência racial. Foi uma coisa que eu adquiri mesmo no começo da fase adulta, e foi um pensamento que só se consolidou com o passar dos anos, quando eu comecei a pesquisar e refletir mais sobre a realidade cotidiana do povo preto.

Eu passei a perceber como o sistema é estrategicamente viciado para desfavorecer as pessoas pretas. Pode-se dizer que muito da minha consciência política, da minha luta, veio disso. Muito da reflexão mesmo, do cotidiano, e muito apoiado no conhecimento da História, dos fatos, inclusive de militantes conscientes que são exemplo pra mim.

Como você conheceu a FNR?

O pessoal da brigada do jornal A Verdade conversou comigo e me apresentou a Unidade Popular (UP) e o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e eu comecei a participar das atividades, das brigadas e reuniões.

Um dia, eles me contaram que a UP e os movimentos iriam fundar a Frente Negra Revolucionária, uma forma de organizar o povo preto, uma coisa que eu esperava muito, que é uma coisa que eu almejo muito, até mesmo pelo exemplo dos Panteras Negras.

Como eu já conversava com o coordenador do meu núcleo do MLB sobre isso, pra mim a pedra de toque para considerar um partido revolucionário, no Brasil, é a visão que ele tem do povo preto. Porque muita gente de esquerda tem uma visão distorcida sobre a população negra. Então eu sempre cobrei isso e vocês deram a resposta perfeita, que foi o lançamento da FNR.

Quando aconteceu o lançamento da Frente, em São Paulo, eu fui lá conhecer. Infelizmente, três dias depois, aconteceu a minha prisão, que me afastou por pouco tempo, mas estamos aí de volta. Agora vou pra dentro da FNR.

Como a FNR ajudou nesses dias de detenção?

Não existe palavra melhor pra explicar do que família. O pessoal se tornou literalmente minha família, me abraçou, juntamente com meus familiares. E, inclusive, por ter mais condições, por estar mais atento à realidade, participou muito mais ativamente nesse momento difícil da minha vida do que a minha família.

Desde o começo, disseram que não iam me deixar para trás por nada, esclareceram os fatos, conversaram muito comigo e deram todo o apoio necessário. Mais do que o apoio material, me deram especialmente o apoio moral, me incentivando a lutar.

Eu escutei palavras muito importantes dos advogados que foram lá me ver, que realmente foram de arrepiar, palavras que motivam mesmo, que comprovam o compromisso, porque eles pegaram o caso de uma pessoa desconhecida, e eles literalmente se colocaram no meu lugar, se sentiram no meu lugar e me defenderam como família deles.

A FNR me deu uma lição de vida mesmo. E, claro, não posso esquecer que assim que eu ganhei a liberdade, os primeiros que estavam lá me esperando eram o pessoal do Partido e da FNR.

Me acompanharam desde o começo, e esse é um parâmetro muito importante nessa questão da união do povo preto, a união do povo trabalhador, a questão das pessoas olharem pro lado dos trabalhadores e lutarem pelos trabalhadores, porque eu fui preso injustamente e eles abraçaram com unhas e dentes o meu caso, e conseguiram virar o mundo e me tirar da mão da lei burguesa.

Penso que o que eu vou fazer o restante da minha vida é atuar e ajudar a construir a FNR e a Unidade Popular.

Matéria publicada na edição impressa  nº315 do jornal A Verdade

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