Dois atos em defesa do povo palestino e exigindo rompimento do governo brasileiro com o estado de Israel marcaram o início do mês, na capital pernambucana.
Clóvis Maia | Redação PE
LUTA POPULAR- Duas atividades marcaram o início do mês de julho na capital pernambucana. Um debate promovido pelo Movimento Sem Terra com duas ativistas palestinas e uma audiência pública, exigindo do governo Lula o rompimento das relações econômicas e diplomáticas com o Israel.
No dia 03 de julho, o sindicato dos bancários de Pernambuco recebeu o debate “Da Palestina ao Brasil”, organizado pelo Movimento Sem Terra (MST), com apoio da Aliança Palestina Recife. O evento contou com a participação das ativistas palestinas Raya Zeyadeh, da Fundação Alemã Rosa Luxemburgo em Ramallah e Areej Ashhab, pesquisadora artística e da deputada estadual Rosa Amorim, do PT.
Na ocasião, as militantes apresentaram registros fotográficos de sua atuação com a agroecologia e as atividades e seus depoimentos desses mais de 600 dias dessa nova etapa do genocídio palestino, que dura desde 1948. Areej, que milita no campo da agroecologia, apresentou como os impactos do genocídio tem deixado em seu país.
A proibição do cultivo, a destruição das plantações e o controle do que pode entrar ou sair das terras palestinas é uma mostra de um verdadeiro apartheid, onde até a entrada de itens básicos como remédios, o controle da água e da energia elétrica e até o cuidado e o trato com a terra são perseguidos pelo exército invasor de Israel, que decide o que pode ou não ser plantado e colhido em solo palestino.
Falando sobre o genocídio e o impacto que tem causado na população ela afirmou: “nós somos muito conectados com a nossa terra. E vamos continuar resistindo, até que nossas crianças possam dormir sem medo, sem ouvir o barulho de bombas, o som dos drones e dos mísseis todos os dias. Eu sonho com o dia em que iremos poder olhar para um céu normal, um céu limpo, como esse aqui do Recife, e tenha o direito de falarmos nossa língua, de falar sobre nossa história, preservando nossas tradições”.
Raya Zeyadeh trouxe sua visão em relação ao massacre e o enfrentamento do povo palestino ao longo dessas ultimas décadas. Em uma fala emocionada e cheia de indignação, a artista registrou a atuação combativa especialmente das mulheres palestinas, denunciando o imperialismo e sobretudo o apoio do governo norte-americano.
“Nós ainda estamos processando o que está acontecendo. Imagine, a tecnologia, como os drones, estão sendo usados para matar as pessoas. Nós sabemos que esses fatos estão acontecendo mas não queremos processar eles ainda, porque nós estamos em um modo de sobrevivência. Frustração, depressão é um privilégio para nós palestinos. Então isso é postulado para depois. Então, é difícil para nós entender o que isso realmente significa hoje e o que vai significar para nós também no futuro. Porque nós estamos lutando todos os dias. Penso que nossa existência hoje é uma forma de resistência. Essa é a forma que vivemos todos os dias. E nós persistimos em viver. Nós não conseguimos parar de viver, porque essa é a nossa realidade e vamos continuar lutando pela sobrevivência e pela nossa terra”., afirmou.

No dia seguinte (04/07), ocorreu uma reunião pública na Câmara de Vereadores do Recife. O evento foi convocado pelos mandatos das vereadoras Kari Santos (PT), Cida Pedrosa (PCdoB), Jô Cavalcanti (PSOL) e Liana Cirne (PT) numa provocação da Aliança Palestina Recife, coletivo que desde 2014 atua no Recife, uma das capitais do país com uma das maiores populações palestinas do país.
A reunião pública lotou o plenarinho da Câmara e contou com a participação da médica Ana Catarina Delgado, que atuou como médica voluntária por dois momentos na Palestina, entre 2019 e 2023, Ualid Rabah, Presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) e André Frej, filho de palestinos e da coordenação da Aliança Palestina Recife.
Relatando as dificuldades de se oferecer serviços médicos básicos para a população, e da ingerência de Israel, Ana Catarina Delgado, que é oftalmologista, relatou que “em 2019 a energia da população já era racionada. Israel fornecia energia elétrica por apenas 8 horas por dia, depois era cortada. E a noite os palestinos se arriscavam furando poços para obter água, correndo risco de vida, pois se fosse pegos fazendo isso eram metralhados ou presos. E olhe que isso foi antes da pandemia, imaginem a situação desse povo tão resiliente, passando por tudo isso”.
Falando por videoconferência, Ualid, da FEPAL, apresentou os dados mais recentes das vítimas e da destruição em Gaza, fazendo um apanhado histórico desse que é, segundo ele, “a maior limpeza étnica da história e um teste de um modelo que os EUA quer adotar como regra nesse novo momento histórico que estamos vivendo”.
Como encaminhamento da reunião as vereadoras se comprometeram a organizar um relatório para ser encaminhado para os parlamentares de esquerda e para o governo federal.
Falando pela Unidade Popular, Natanael Sarmento reforçou a iniciativa mas lembrou que “o que acontece em Gaza é a expressão do momento em que estamos vivendo, que é a contradição fundamental da nossa época. É o imperialismo em sua fase mais cruel, violenta e desesperada. A humanidade se encontra diante desse dilema: ou segue o caminho da violência e do extermínio ou segue o caminho para o socialismo. A questão da Palestina é uma expressão da luta de classes no mundo, e o governo brasileiro, que é cada vez mais refém desse parlamento reacionário, composto por representantes do sionismo, precisa ser encarado de frente. Por isso, nada mais justo do que romper de vez com todas as relações com o governo de Benjamin Netanyahu.”
