Com presença em 21 estados e no Distrito Federal, o Movimento de Mulheres Olga Benario organiza uma série de encontros estaduais para ampliar a mobilização de trabalhadoras contra a desigualdade, a violência de gênero e a fome.
Coordenação Nacional do Movimento Olga Benario
MULHERES – O Movimento de Mulheres Olga Benario está presente em 21 estados brasileiros e no Distrito Federal. Desde sua fundação, já realizou mais de 27 ocupações pelo país, organizando centenas de mulheres para lutar pelo fim da jornada de trabalho 6×1, pelo direito à creche, pela legalização do aborto, contra a violência de gênero e a fome, e pela construção de uma sociedade socialista – a única alternativa possível frente à crise estrutural do sistema capitalista.
Essa crise atinge ainda mais a vida das mulheres. A sobrecarga de trabalho é cada vez mais comum: mais da metade das mulheres ocupadas trabalham mais de 40 horas por semana. Mesmo assim, seus salários são 21% menores do que os dos homens, segundo o 3º Relatório de Transparência Salarial e Igualdade Salarial.
Outro dado alarmante: mais de dois milhões de crianças não têm acesso à creche pública (IBGE) – o que compromete o direito das mulheres ao trabalho.
Na ponta mais cruel da desigualdade, o Brasil bate recordes de feminicídios. Em 2024, 21 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência, destas, 5,3 milhões foram vítimas de violência sexual, e as crianças são as principais vítimas de estupro no país.
Frente a esse cenário, é urgente organizar mais mulheres. Só com luta coletiva e solidariedade de classe será possível defender os direitos conquistados e avançar rumo à transformação da sociedade.
Por isso, as Coordenações Estaduais do Movimento de Mulheres Olga Benario estão organizando encontros em todos os estados onde atuamos com o objetivo de fortalecer a militância, aprofundar a formação política e planejar ações concretas para o próximo período.
Paraná unifica a luta
Um dos exemplos marcantes dessa construção coletiva veio do Paraná. O Encontro Estadual reuniu dezenas de mulheres e fortaleceu a atuação do movimento: “Foi muito importante pra gente unificar a luta das mulheres e mostrar que ela está em todas as esferas da sociedade”, afirma Emily Kaiser. “A luta das mulheres está diretamente ligada à luta pelo fim do capitalismo e pela construção do socialismo. A partir desse encontro, criamos dois novos núcleos com coordenadoras experientes em Londrina e Guaratuba. Londrina, por exemplo, é uma das cinco cidades mais violentas do estado para as mulheres e, logo nos primeiros dias da nova gestão municipal, teve a Secretaria da Mulher extinta. A criação do núcleo lá é um passo fundamental para enfrentar essa realidade”, finaliza Emily.
Bahia prepara seu 3º Encontro
Na Bahia, o movimento se prepara para realizar seu 3º Encontro Estadual. Giovana Ferreira destaca que a construção da atividade tem sido um momento de fortalecimento do movimento: “Fizemos uma reunião para planejar as ações e os objetivos do encontro. Discutimos a importância de massificar a atividade e, no processo, consolidar nossos núcleos e fazer o movimento crescer ainda mais”.
O encontro é também uma estratégia para fortalecer a Casa Preta Zeferina. “Estamos arrecadando fundos para a realização do encontro, para reformar nossa casinha, melhorar sua estrutura e abrir o CNPJ. Isso vai garantir mais estabilidade para nossas ações”.
“Nossa meta é aprovar duas lutas prioritárias: contra a escala 6×1 e contra a violência. Vamos impulsionar a luta pelo direito à creche e contra a fome com panfletagens, brigadas do jornal A Verdade e realizar cursos”, conclui Giovana.
Participação das mães em São Paulo
No encontro regional de São Paulo, a companheira Cleide Cruz, militante da Unidade Popular (UP) e do Movimento Luta de Classes (MLC) dos trabalhadores de Assistência Social, falou sobre a participação das mães na luta: “Uma coisa que sempre abordo é a participação das mães, principalmente das mães atípicas – aquelas que cuidam de crianças com deficiência, que acabam tendo uma carga de trabalho dobrada”.
Ela compartilha uma preocupação que permeia os grupos que participa: “Meu filho é autista, suporte 3, não verbal e com muitas dificuldades. O que mais aflige a gente, mães de crianças atípicas, é o medo de morrer. É o medo de deixar nossos filhos nesse mundo capitalista, que vê nossos filhos como peso morto, como pessoas descartáveis”.
Cleide reforça a importância da luta por uma sociedade socialista que ofereça suporte real às crianças e às famílias: “O capitalismo não é capaz de fazer isso. Precisamos que as mães e mulheres participem mais da luta. Por isso, sugeri uma campanha que chamei de ‘Uma mãe leva a outra’: conquistar a consciência dessas mulheres, disputar o tempo delas, que é sempre escasso. Eu sempre digo: companheiras, estou tirando tempo de onde não tem, porque tempo nós não temos, nós temos que fazer as coisas pra ontem, isso é para os nossos filhos – além de se dedicar integralmente a eles, é preciso dedicar um tempo para a luta pela sociedade socialista. Convido todas as mães a conquistar o carinho e a confiança das outras mães. Precisamos de todo apoio nessa luta!”.
Portanto, a realização de Encontros Estaduais do Movimento de Mulheres Olga Benario tem grande importância para a coesão política, a organização das mulheres e das lutas. Os relatos acima nos orientam sobre o espírito que cada encontro deve ter: combatividade, criatividade e alegria revolucionária.
Apenas na luta coletiva conseguiremos avançar rumo à vida que nossa classe merece e precisa para de fato ser plena e livre, para a construção do poder popular e do socialismo.
Matéria publicada na edição impressa nº314 do jornal A Verdade