
Lançado em 1844, a obra Manuscritos Econômico-Filosóficos de Karl Marx, aprofunda a questão do trabalho e é de uma grande serventia para nossos dias. Hoje, no Brasil, a precarização do trabalho virou a regra do jogo, um jogo cruel que só beneficia o lado dos patrões em detrimento do trabalhador, que ganha cada vez menos, trabalhando muito mais e perdendo direitos.
André Luiz- Petrolina
Brasil- Os Manuscritos Econômico-Filosóficos de Karl Marx, escritos em 1844, representam um dos primeiros esboços de sua crítica à economia política e ao sistema capitalista. Entre os principais temas abordados, destaca-se a alienação do trabalhador, conceito fundamental para compreender a exploração no capitalismo e a relação entre trabalho e propriedade privada. A precarização do trabalho no século XXI destaca que o trabalho, longe de dignificar, aprofunda a exploração dos trabalhadores. Em tempos de coaching corporativo e do modelo uberizado de trabalho, cada vez mais indivíduos são incentivados a se tornarem ‘donos’ do próprio tempo de trabalho, quando, na realidade, enfrentam jornadas extenuantes sem garantias trabalhistas.
Como Marx afirma, “o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão”. Os defensores desse modelo argumentam que “não existe pobreza que resista a 14 horas de trabalho”, naturalizando a exploração e ignorando as implicações da alienação laboral. A uberização do trabalho segue essa mesma lógica, sustentada pela flexibilização extrema da jornada e pela ausência da proteção trabalhista tradicional, como férias, 13º salário e aposentadoria. A dissolução da jornada padrão de oito horas diárias e 44 horas semanais, sem a égide do sistema hierárquico das empresas, revela a transferência dos custos operacionais para os próprios trabalhadores. Sob a justificativa da liberdade de escolha, essa dinâmica oculta um padrão de superexploração, no qual o trabalhador, ao aumentar sua produção, não acumula riqueza, mas aprofunda sua própria precarização.
Exportamos riqueza, colhemos pobreza: A lógica da alienação no capitalismo brasileiro
A alienação do trabalho parte do pressuposto basilar de que, no momento em que a relação e exteriorizada, tornando-se alheio as consequências. A dedicação perene do trabalhador torna-se mais desgastante ao ponto de não ser possível usufruir do fruto do seu trabalho, ou seja, o que é produzido fica inacessível. A exteriorização do trabalhador, significa que o trabalho passa a ser um objeto, uma existência externa, fora dele algo estranho a própria existência, Por exemplo os trabalhadores que atuam nas entregas de alimentos, que participam ativamente do processo desde o cozimento, mas não tem acesso ao que é produzido. Um entregador de comida, que passa o dia entregando refeições, as vez mais de 12 horas diárias, mas que almoçam muitas vezes, um biscoito recheado para economizar no recurso e fazer render mais sua renda.
O trabalho é primordial para os ricos, mas para quem está na linha de frente da produção gera privação. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo, segundos dados da EMBRAPA, até maio de 2025 foram cerca 167,87 milhões de toneladas de soja ocupando cerca de 47,52 milhões de hectares, tendo a China como maior comprador. Mais: é a China quem adquire cerca de 70% da soja exportada pelo país. Os dados apenas confirmam que quem produz não tem acesso á riqueza gerada. Em consonância aos números exorbitantes de exportação, a renda média do trabalhador brasileiro que em 2022 era de R$ 1.625, em 2023 foi para R$ 1.893. Segundo dados do IBGE, em 2023, a renda média por morador nos lares brasileiros foi de R$ 1.893 e em 2022, a média per capita era de R$ 1.625. O nível de exportação exprime outro número alarmante: cerca de 77% do território brasileiro é ocupado por pastagem, cana de açúcar e soja, revelando a brutal concentração da propriedade privada nas mãos dos latifundiários.
O trabalhador mesmo em casa permanece de prontidão porque o trabalho é forçado, obrigatório. Marx, afirma, não é uma satisfação. Condiciona apenas para sustentar uma carência fora dele. Paralelamente, aos animais, o homem é racional pela possibilidade de comunicação, contudo, nas relações produtivas os animais produzem o necessário para suprir ausência física imediata. O homem, que depende somente de sua força de trabalho, produz de maneira desordenada para além da sua capacidade de carência exigida pela natureza. Marx continua “Se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador, um poder estranho [que] está diante dele, então isto só é possível pelo fato de [o produto do trabalho] pertencer a um outro homem fora o trabalhador.”
A discrepância de moradia entre palácios de um lado e casebres do outro, escancara o quanto o trabalho, no lugar de dignificar a vida humana ou garantir coisas básicas como um teto, só atualiza o quanto o pensamento de Karl Marx continua atual e estava correto. Mais ainda, é uma mostra de como o ódio ao pensamento socialista continua na ordem do dia da burguesia nacional. Uma obra como essa, lançada há mais de 100 anos continua sendo uma fonte de formação para a classe trabalhadora e transformadora de sua realidade, e é justamente esse pensamento que precisar ser cada vez mais exposto para nosso povo e divulgado, em sua luta por uma organização popular que vá na raiz das contradições impostas por esse sistema e que são cada vez mais difíceis para as classes dominantes defender ou esconder.