Entre 2024 e 2025, mais de 130 jornalistas foram mortos em todo o mundo, a maioria em zonas de conflito, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Luis Augusto do Carmo | Gravatá – PE
INTERNACIONAL – Entre 2024 e 2025, a violência contra jornalistas ultrapassou limites alarmantes. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), mais de 130 profissionais da mídia foram mortos nesse período, a maioria em zonas de conflito. Esse cenário, que transcende tragédias individuais, representa uma ameaça concreta à liberdade de expressão e ao direito à informação
A região mais letal para o exercício do jornalismo permanece sendo os territórios palestinos ocupados por Israel, onde dezenas de profissionais foram mortos apenas no último ano. Casos como o do fotojornalista Abdallah Ivad Breis, de 26 anos, morto em 8 de janeiro de 2024, na sua casa, em Khan Yunis, e do repórter e fotógrafo Ahmed Abu Al-Rous, de 29 anos, da agência Assulta Arrabaa (Quarto Poder), assassinado em 15 de janeiro de 2025 por um ataque de drone israelense, no campo de refugiados de Nuseirat, colocam rosto e nome nos dados frios das estatísticas.
Ahmed dirigia com seu irmão gêmeo e três amigos, quando o míssil os atingiu, dias antes da entrada em vigor de uma trégua entre Israel e Gaza. Seu pai declarou ao CPJ que “nenhum deles representava ameaça alguma”, reforçando o caráter brutal do ataque. Ahmed, mesmo abrigado em hospitais de campanha, seguia enviando fotos e reportagens para sua agência.
Outros nomes engrossam essa lista de mártires da verdade: Hossam Shabat, correspondente da Al Jazeera, morto em março de 2025; Hassan Aslih, fotojornalista da Alam24, morto em maio após ser atingido durante bombardeio enquanto estava internado; e Yahya Sobeih, que havia acabado de se tornar pai quando foi morto por um míssil em Gaza.
Fora do Oriente Médio, outros países também assistem à escalada da repressão violenta contra a imprensa. No México, o jornalista Roberto Carlos Figueroa foi sequestrado e encontrado morto dentro de seu carro, dias após anunciar que possuía provas de corrupção eleitoral. No Paquistão, Nisar Lehri foi morto a tiros na frente de sua casa, em um crime ainda sem conclusão definitiva sobre sua motivação.
A violência também atinge profissionais da mídia que atuam em funções administrativas, técnicas ou de apoio.
Em 16 de junho de 2025, a emissora estatal iraniana IRIB, em Teerã, foi atingida por um ataque aéreo israelense. A funcionária Masoumeh Azimi, que trabalhava no setor administrativo da emissora, foi gravemente ferida e morreu nas primeiras horas do dia seguinte. Outro funcionário, Nima Rajabpour, editor de notícias, com 50 anos de idade, também morreu após sofrer ferimentos no mesmo ataque.
O caso gerou forte repercussão internacional. As Forças de Defesa de Israel (IDF) alegaram que o prédio da emissora era usado como fachada para operações militares das Forças Armadas iranianas. Em declaração posterior, a justificativa se ampliou: a emissora seria, segundo Israel, uma “plataforma de propaganda anti-Israel” e parte da “campanha do regime iraniano para aniquilar o Estado de Israel”. A ação foi defendida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que declarou: “Não é um canal de notícias. É uma ferramenta de um regime totalitário.”
A escalada de violência contra jornalistas representa uma grave ameaça à liberdade de imprensa e, por extensão, às democracias globais. Sem um fluxo livre de informações e sem a presença de vozes críticas e independentes, sociedades correm o risco de serem manipuladas por narrativas autoritárias. É crucial que a comunidade internacional tome medidas concretas: reforçar a segurança em zonas de conflito, exigir investigações rigorosas e responsabilizar os culpados. Proteger jornalistas é garantir que a verdade prevaleça.