No Rio Grande do Sul, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) lançou a campanha “Território Livre do Analfabetismo”, organizada pela Escola Nacional Eliana Silva, para alfabetizar jovens e adultos em ocupações e periferias de Porto Alegre.
Helena Ew e Tâmisa Fleck | Porto Alegre (RS)
LUTA POPULAR – No Rio Grande do Sul ergue-se uma nova frente de luta pela educação popular: a campanha “Território Livre do Analfabetismo”, iniciativa da Escola Nacional Eliana Silva, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), para ensinar a ler e a escrever, além de promover a consciência política e o fortalecimento social para as famílias organizadas.
O primeiro passo da Escola no Rio Grande do Sul foi a formação de educadores populares, ocorrida no mês de maio, juntamente com uma campanha de arrecadação de materiais escolares e a mobilização de alunos nos núcleos organizados pelo MLB. Em junho, duas turmas foram formadas: uma na Ocupação Sepé Tiaraju, situada no Centro de Porto Alegre, e outra na Vila Santa Rosa, no extremo norte da cidade.
O analfabetismo segue como uma ferida aberta no Brasil, especialmente entre as camadas mais pobres e historicamente marginalizadas. Mais de nove milhões de brasileiros com mais de 15 anos ainda não conseguem ler e escrever um bilhete simples, número que equivale à população inteira do Estado de Pernambuco. No Rio Grande do Sul, quase 280 mil pessoas fazem parte dessa estatística, sendo que a taxa de analfabetismo é maior entre a população negra em todas as faixas etárias.
Nesse contexto, a Escola Eliana Silva representa uma ferramenta de emancipação e independência da população periférica, promovendo uma educação que se desenvolve a partir da realidade de quem aprende. Como relata Jair Borges Martins, um dos alunos e morador da Ocupação Sepé Tiaraju: “Em duas semanas de aula, já estou conseguindo escrever, que era a minha dificuldade. Os professores estão me ensinando o som e o significado das palavras. Hoje já estou bem mais desenvolvido, e aprendendo com meus colegas também”.
Inspirada pelo exemplo de Cuba, onde o próprio povo alfabetizou seu povo, a alfabetização popular se edifica como um dos pilares do MLB. Quando o direito à educação é negado, nos organizamos para construí-lo com nossas próprias mãos, com autonomia, solidariedade e consciência de classe.
Na luta e na palavra
Se o sistema nos nega as letras,
o MLB responde em brasa.
Onde a bandeira tremula,
a voz do povo ganha asa.
Se o sistema nos nega abrigo,
somos tijolo, mão e afeto.
O movimento anda contigo,
constrói chão, levanta o teto.
Se trancam portas da escola,
abrimos saber na marreta.
Doutor aqui é formado na luta,
mestra, quem ergue a caneta.
Na luta e na palavra,
se constrói o que nos foi negado.
Na marreta e na caneta,
erguemos o que foi roubado.
Não é favor, nem caridade:
é construção da dignidade.
Da mão que ocupa e cultiva,
nasce a liberdade coletiva.
Matéria publicada na edição impressa nº319 do jornal A Verdade