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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Entramos no IF e queremos ficar: restaurante já!

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Mais de 1,2 mil alunos do campus Restinga, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), entraram em greve por três dias a partir de 6 de agosto. A paralisação, aprovada por mais de 90% dos votos em assembleia, cobra a construção de um restaurante acadêmico.

André Jonatan dos Santos | Movimento Correnteza (RS)


JUVENTUDE – No último dia 06 de agosto, foi aprovada, com mais de 90% dos votos, a paralisação estudantil de três dias no campus Restinga, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, pondo em greve mais de 1.200 estudantes, numa mobilização pela construção do restaurante acadêmico.

O campus fica localizado na periferia do extremo-sul de Porto Alegre, em um dos bairros mais negros da cidade. Professores, em conjunto com a comunidade do bairro, tiveram que acampar num terreno abandonado para garantir sua construção, mas, há 15 anos, os estudantes passam fome.

A evasão é cotidiana. “Esses dias, tive que abandonar uma prova porque não aguentei mais de fome, passei mal. Preferi pegar recuperação do que continuar daquele jeito”, diz Julia, do grêmio estudantil. “Meu filho faz o curso do PartiuIF e não tem direito nem de pegar a bolachinha de lanche que dão. Recebi uma ligação da escola dizendo que ele tinha desmaiado de fome”, diz Cassiara, representante de turma do EJA.

Construção da luta

Durante dois anos, as entidades estudantis do campus (DCE Livre Sarah Domingues, Grêmio Estudantil, DA-ADS), construíram diversas atividades a fim de trazer um restaurante acadêmico (almoço e janta) gratuito para o campus. Várias assembleias, mesas de debate, audiências públicas, abaixo-assinados, reuniões com a diretoria do campus e a Reitoria foram realizados, mas a resposta era sempre a mesma: falta de orçamento.

Logo no primeiro dia de aula deste semestre (05/08), foi convocada uma reunião de representantes de turma do técnico e do superior, junto dos representantes das entidades. Nela, foi pautada a assembleia do dia seguinte, colocando na ordem do dia a luta contra a fome.

As assembleias aconteceram durante o dia inteiro, no início de cada turno, para que cada estudante pudesse participar, dar sua opinião e exercer o direito de voto. Inicialmente, a proposta era de paralisar um único dia e, ao longo dos debates, construiu-se a proposta da paralisação de três dias. “Os professores, ano passado, fizeram greve de três meses por salário, e conseguiram. Portanto, a gente que passa fome não pode fazer greve de um dia só”, disse uma aluna na assembleia.

Ao fim, vários estudantes se somaram em comissões para fazer cartazes sobre a paralisação e para ir nas salas de aula falar com os colegas que se recusaram a participar da assembleia, comunicando a decisão tomada pela maioria. A grande massa dos estudantes, entendendo a justeza da decisão tomada, saiu determinada a convencer todos aqueles que ainda não acreditavam na luta.

Além do mais, o período de aulas paralisadas não foi de férias. Os estudantes construíram diversas atividades, como campeonatos de vôlei, oficinas de cartazes, apresentações da UJR e muito mais.

Realmente falta orçamento?

De fato, as diretorias dos campi operam com um orçamento cada vez menor. O campus Restinga, por exemplo, tem de disponibilizar aos estudantes, por vezes, apenas bolacha e frutas velhas. Mas, ao mesmo tempo, 70% do valor que custeia a compra do lanche é dinheiro que deveria ir para a estrutura do campus (os outros 30% vêm da Reitoria), que poderia ser destinado para melhorar banheiros e salas, ampliar as vagas, etc.

E a Reitoria? Vemos também os gestores do IFRS sendo forçados a fazer o jogo da gestão da crise. Com o número de estudantes tendo aumentado, e a condição socioeconômica destes tendo piorado, os beneficiários do auxílio estudantil para permanência aumentaram, mas o orçamento não. Houve, assim, uma redivisão do valor, gerando um declínio de 41% do valor dos auxílios entre dezembro de 2024 (R$ 373) e agosto de 2025 (R$ 220).

Ao mesmo tempo, nacionalmente, as escolas municipais e estaduais recebem um orçamento específico para alimentação (FNDE/Pnae), mesmo que insuficiente, ainda combate a fome dos estudantes. Para as universidades, existe o Pnaes, que garante o orçamento dos restaurantes universitários (RUs), que dão almoço, janta e café da manhã para os estudantes de forma gratuita, ou de baixo custo. Já os IFs não são contemplados por nenhum desses orçamentos, ficando, assim, completamente à mercê e deixando os estudantes sujeitos à fome.

Mas, mesmo se os IFs fossem contemplados nesses orçamentos, o bolo seria redividido e todos sairiam perdendo. O real problema é que hoje quase 43% do Orçamento Federal vai para o pagamento da dívida pública, a famoso bolsa-banqueiro, a “corrupção legalizada”, enquanto a educação recebe menos de 3%. Apenas 27 segundos do pagamento anual da dívida pública representam o orçamento anual do campus Restinga. O que precisamos mesmo é de uma auditoria dessa dívida e da ampliação do orçamento de toda a educação.

Matéria publicada na edição impressa  nº319 do jornal A Verdade

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