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domingo, 10 de agosto de 2025

Faculdades particulares lucram às custas do endividamento dos estudantes

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Cogna e YDUQS lucraram mais de R$ 1,4 bilhão em 2024 e negociam fusão, enquanto a maioria dos jovens segue fora do ensino superior e dependente de faculdades particulares caras e com alta evasão.

Movimento Correnteza


JUVENTUDE – Em março deste ano, o grupo Cogna, que controla grandes faculdades pagas como a Anhanguera, anunciou ter obtido, em 2024, um lucro de R$ 985 milhões (dados da InfoMoney). O grupo YDUCS, dono das faculdades Estácio de Sá, alcançou, também em 2024, lucro de R$ 480 milhões. Nos sites ligados ao mercado financeiro, os números são anunciados com otimismo e buscam comunicar o sucesso das companhias para os investidores. Agora, esses dois grupos estão trabalhando para concretizar uma fusão e controlar uma imensa parte do mercado.

Contudo, esse “sucesso” esconde a dura realidade da juventude que deseja se formar no ensino superior.

Apesar de a educação ser um direito garantido na constituição, a realidade é de falta de vagas nas universidades em todo o país. Segundo dados do Censo MEC/Inep 2023, apenas 21% dos jovens entre 18 e 24 anos estão matriculados no ensino superior. Entre os matriculados, cerca de 80% estão no ensino privado. São duas milhões de matrículas na rede pública contra quase oito milhões em universidades pagas e outros muitos milhões de jovens que não têm o direito à educação pública e não podem pagar uma instituição privada.

Isso acontece porque o Estado brasileiro tem uma relação criminosa com os bilionários da educação particular, que pressionam pela redução dos investimentos nas instituições públicas com o objetivo de obrigar a juventude a pagar para estudar. O último programa significativo de expansão das vagas na rede pública foi o Reuni, encerrado em 2012, 13 anos atrás. De 2022 a 2023, as matrículas na rede pública diminuíram 0,4%, enquanto na rede privada tiveram um aumento de 7,3%.

Estudantes endividados

O mercado da educação paga cresceu e se tornou um negócio extremamente lucrativo, que passou a captar investidores nas bolsas de valores, através da venda de ações. Assim, investidores bilionários lucram com o ensino superior sem pagar um único centavo de imposto – pois o lucro distribuído pelas empresas aos acionistas (dividendos) é isento de impostos no Brasil.

Para piorar, o sonho do ensino superior tem se transformado, para muitos jovens, no pesadelo do vencimento dos boletos de mensalidade ou do endividamento. Dados da Semesp (entidade representante das empresas de educação) mostram que o número de estudantes que abandonaram seus cursos chegou a 23% em cursos presenciais de instituições públicas; 28% em cursos presenciais de faculdades pagas; 34% e mais de 40% nos cursos a distância nas públicas e nas privadas, respectivamente. Os números de evasão são notoriamente maiores nas instituições privadas, em que os estudantes têm que lidar com as mensalidades caríssimas e não contam com praticamente nenhuma política de assistência.

Qualidade da educação?

Além de endividar estudantes com as altas mensalidades, incompatíveis com a renda dos brasileiros, essas grandes empresas de educação também buscam sempre a redução de seus custos. O resultado é a diminuição da qualidade dos cursos. Nesse aspecto, os problemas são inúmeros: quase não há política de assistência aos estudantes pobres; os salários dos professores e, em especial, dos outros trabalhadores das faculdades são defasados; faltam estruturas de ensino como laboratórios, etc.

A forma mais utilizada por essas empresas para reduzir os gastos foi, nos últimos anos, a comercialização de cursos de ensino a distância e a imposição, aos estudantes de cursos presenciais, de disciplinas cursadas pela internet. Assim, as empresas economizam fechando salas de aula e diminuindo o quadro de professores e funcionários e outros gastos como luz e água. No lugar da aula e da troca entre o professor e os estudantes, oferecem vídeos de aulas gravadas e repetidas indefinidamente – sem qualquer preocupação, inclusive, com o estudante ter acesso ou não a computadores, tablets ou qualquer equipamento adequado.

Essa prática foi impulsionada pela Portaria 2.117 do MEC, editada pelo Governo Bolsonaro, que permitiu que 40% da carga horária de cursos presenciais fosse ofertada em disciplinas online.

Privilégios continuam

O Governo Lula editou, nas últimas semanas, a nova política para a educação a distância, proibindo a oferta de alguns cursos nessa modalidade – em especial na área de saúde – tornando obrigatório um maior número de avaliações e atividades presenciais nos cursos e diminuindo de 40% para 30% a carga horária de cursos presenciais que pode ser ofertada de forma virtual.

Os avanços são importantes, mas ainda não invertem a lógica de privilégio dos empresários da educação e de seus lucros, em detrimento dos estudantes. Prova disso é a manutenção da possibilidade de os empresários da educação imporem disciplinas online a estudantes matriculados em cursos presenciais.

A contradição entre a propaganda das empresas privadas de educação sobre o sucesso de seus números e a situação dos estudantes no Brasil é um sintoma que demonstra que, para garantir educação pública e gratuita em todos níveis e para todos os brasileiros, é necessário enfrentar os interesses dos grandes capitalistas que lucram toda vez que um estudante não consegue uma vaga na universidade pública.

Matéria publicada na edição impressa  nº315 do jornal A Verdade

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